Este é o terceiro texto da controvérsia à volta do neologismo "deslocalizar". Nele o autor discorda da posição Em defesa de deslocalizar da autoria de A. Mendes da Costa – que, por sua vez, discordava da resposta sobre este assunto Deslocalizar de José Neves Henriques.
A defesa do termo «deslocalizar», apresentada por Mendes da Costa, trouxe-me várias dúvidas. Especialmente no que toca ao processo pelo qual as novas palavras devem ou não entrar no dicionário. Sem ser um especialista, acredito que, em primeiro lugar, deveriam procurar definir ou conceptualizar algo de novo. Em segundo, obedecer às regras da gramática e da etimologia.
Acredito que é necessário algum cuidado nesta matéria. Existe a tendência de grupos profissionais, seitas e bandos criarem termos e terminologias não com o objectivo de adicionar ao idioma novas definições mas sim o de criar um código que os distinga daqueles que não são iniciados nestes assuntos. Reconheço que, a partir de um determinado grau de aceitação social, estas palavras passam a ser consideradas portuguesas - como é o caso de dossiê, no português do Brasil.
«Deslocalizar» é um caso completamente diferente do que ouvi na área da medicina - em que, ao adjectivar agulhas de acupuntura, chamaram-nas de «disposáveis», quando em português existe a palavra descartável (queriam dizer que eram jogadas fora depois de utilizadas apenas uma vez, definição que está perfeitamente inclusa no termo já existente).
A respeito da segunda questão, acredito que não haveria nenhuma objecção. «Deslocalizar» e «deslocalização» são construções que, por analogia, cabem perfeitamente em português.
O que me causa maiores questões neste termo do «economês» é o que diz respeito à originalidade do conceito. Mendes da Costa afirma que mesmo no inglês, idioma de onde nos veio o termo, não há apenas uma palavra fixada, encontrando-se na literatura especializada «relocation» e «delocalization». A meu ver, ao utilizarmos «deslocação da produção» ou «realocação da produção», teremos o conceito expresso de uma forma completa.
Não tenho como dado adquirido que seja esta a forma sob a qual se deva procurar o aumento do número de palavras na língua portuguesa, mas com termos científicos que designem inovações, como foram os aportes ao idioma de termos como computador, fax, disquete, etc.