José Neves Henriques (1916-2008) - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Neves Henriques (1916-2008)
José Neves Henriques (1916-2008)
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Professor de Português. Consultor e membro do Conselho Consultivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Antigo professor do Colégio Militar, de Lisboa; foi membro do Conselho Científico e diretor do boletim da Sociedade da Língua Portuguesa; licenciado, com tese, em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra; foi autor de várias obras de referência (alguns deles em parceria com a sua colega e amiga Cristina de Mello), tais como Gramática de hojeA Regra, a Língua e a Norma A Regra, Comunicação e Língua PortuguesaMinha Terra e Minha Gente e A Língua e a Norma, entre outrosFaleceu no dia 4 de março de 2008.

CfMorreu consultor do Ciberdúvidas

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Julgo saber que a origem de «ciber» é o vocábulo grego (antigo) que significa "governador" (ou "piloto"). Até agora via-o ligado à ideia de auto-regulação; exemplo: cibernética.

Ultimamente, vejo-o em: «ciberespaço», «cibernauta», e até em «ciberdúvidas»; será correcto?

Resposta:

Ciber não é verdadeiramente um prefixo. É um elemento que extraíram da palavra cibernética para formar outras palavras. Cibernética provém do grego kybernetikê (pelo francês e/ou inglês "cibernétique/cibernetics") e significa a ciência de governar. Prende-se ao verbo grego kybernéo, cujo radical é o kybern. Este verbo significa dirigir; dirigir um navio, pilotar.

Ciberdúvidas é um substantivo formado de ciber + dúvidas e significa uma "página" da Internet que tem por fim "dirigir" os variadíssimos consulentes no que respeita ao melhor conhecimento de certas particularidades da Língua Portuguesa.

Tal como foi a formação de "Ciberdúvidas" o mesmo se passa com ciberespaço e cibernauta. Outras palavras da mesma família: ciberataque, cibercomércio, cibercrimecibercaféciberespacialciberpirata, etc., etc.

Sobre este mesmo tema, cf. Como apareceu a palavra cibernauta.

 

N. E. (20/04/2020) – Acrescente-se o termo cibersegurança, «estado de proteção contra ciberataques ou qualquer atividade criminosa feita através de redes informáticas» e «

Pergunta:

Faz sentido falar em «conjuntivo independente»?
Ouvi esta expressão em inglês numa conferência sobre linguística num curso no estrangeiro durante as férias e não percebi.

Resposta:

Não posso responder, porque uma coisa é o inglês; outra, o português; e também não posso responder, porque o nosso consulente não me elucidou sobre o caso ou casos em que o tal senhor empregou aquela denominação. Mais ainda: em português não se costuma falar de "conjuntivo independente". Vejamos, no entanto, as frases seguintes:

a) É preciso que ajudemos o próximo.

b) Ajudemos o próximo!

Na frase a), a segunda oração está dependente da primeira. Podemos então dizer que o conjuntivo ajudemos é dependente.

A frase b) tem uma só oração. Não depende doutra. Podemos então afirmar que, neste caso, o conjuntivo ajudemos, que tem aqui valor de imperativo, é independente.

É a casos como este que o nosso consulente se refere? Não sei, porque ele não me elucidou sobre o assunto.

Pergunta:

É uma agradável surpresa que a rede de escolas secundárias do Brasil recomende Ciberdúvidas - escolha alías merecida e certamente útil aos estudantes de qualquer país utilizador da língua portuguesa.
As páginas da EscolaNet são das melhores que conheço na Internet. A marca deste «site» é que me faz espécie: não devia ser «Escolanet»?
Não vejo nenhuma razão para ser «EscolaNet» com a segunda maiúscula no meio da palavra, pois de uma «palavra» se trata.
Obrigado pelo esclarecimento.

Resposta:

Como palavra verdadeiramente portuguesa, não podemos admitir «EscolaNet», porque as regras da ortografia da nossa língua não admitem letras maíusculas no interior das palavras. E também não temos palavras terminadas em t. Letra maiúscula no interior da palavra, apenas nos compostos cujos componentes se encontram unidos por hífen, mas conservam bastante independência, como por exemplo os topónimos: Montemor-o-Novo, Linda-a-Velha; os bibliónimos como por exemplo Proto-Evangelho; os etnónimos, como por exemplo os Luso-Africanos. Mas com inicial minuscúla se for adjectivo: as pessoas luso-africanas.

Pergunta:

Qual o significado de Caramão?
Já consultei vários dicionários em vão. A minha curiosidade deve-se ao facto de residir no Bairro do Caramão da Ajuda.

Resposta:

Sabe-se apenas que é um topónimo de Lisboa, e que está por Carmão, talvez de Calmon (em 1195). É de origem obscura. Veja-se o "Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa" do Dr. José Pedro Machado que, sobre o significado, nada diz.

Pergunta:

Será que me poderiam esclarecer sobre a pronúncia correcta para as letras «G» e «J»?

Resposta:

A letra g pronuncia-se /guê/ antes de a, o e u: gana, Margarida, fraga, zângão, goma, lagoa, largo, gume, agulha, saga.

A letra j pronuncia-se sempre /jê/, qualquer que seja a sua posição; jarra, jejum, jibóia, major, majoria, juízo, caju.

 

Cf. Regras da pronúncia das letras "g" e "j" + A pronúncia do Português Europeu