José Mário Costa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
José Mário Costa
José Mário Costa
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Jornalista português, cofundador (com João Carreira Bom) e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Autor do programa televisivo Cuidado com a Língua!, cuja primeira série se encontra recolhida em livro, em colaboração com a professora Maria Regina Rocha. Ver mais aquiaqui e aqui.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Venho pelo presente colocar uma questão quanto ao novo Acordo Ortográfico, que é a seguinte: qual a redação atualmente correta da palavra "anti-abuso"?

Obrigado.

Resposta:

Escreve-se sem hífen: antiabuso.

Com o Acordo Ortográfico, comparando com a reforma de 1945 as regras o uso do hifen ficaram com uma melhor sistematização e coerência de critérios, nomeadamente com os prefixos de origem latina e grega.

É o caso do anti-, que só manteria o hífen se o segundo elemento começasse por h (anti-higiénico/higiênico) ou pela mesma vogal (anti-imperialista) – conforme o estabelecido na Base XVI ("Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação"). Na nova reforma as restantes regras para o uso do hífen englobam ainda as relacionadas para os compostos, locuções e encadeamentos e com a ênclise, a tmese, ou mesóclise, e com o verbo haver.

Concretizando1:

Casos em que se deve usar hífen:

1. Quando o segundo termo iniciar por h.

•    Anti-higiênico, extra-humano

Um tropeção na ainda mais macroscópico" class="img-adjust">

«Vamos entrar de fim-de-semana e, ao que diz a metereologia, o tempo não deverá estar de praia. Por isso, e porque tinha uma farta colheita, seleccionei para hoje um conjunto de textos mais longos, mais intemporais, mas também mais próprios de uma leitura ora relaxada, ora útil, ora mais reflexiva. (...)»

José Manuel Fernandes, no boletim informativo que redige e envia por correio eletrónico com as atualizações diárias do jornal digital Observador, de 12/06/2015

«Em bom português»?

O futuro da língua portuguesa discutido em bom português foi o título genérico do colóquio promovido pelo Diário de Notícias no dia 27 de maio, no âmbito das comemorações dos 150 anos deste secular matutino português. Só foi pena que o «bom português» se tenha ficado nas intenções – e, no respetivo programa, ninguém se tivesse preocupado com aqueles intrusivos welcome coffee e coffee break, em vez dos correspondentes termos em português: receção e pausa/intervalo/café.

 

Pergunta:

Talvez me possam ajudar com uma dúvida grande com que me deparo diariamente na minha função de revisor de traduções:

Quando um texto inglês usa maiúsculas iniciais para realçar um sintagma (ou grupo de palavras) no meio de uma frase, como é que se deve lidar com isso na tradução? Eis um exemplo:

«Do not use Print Without Saving so as not to lose your work.»

Possíveis traduções (em português europeu):

«Não use a opção Imprimir Sem Guardar para não perder o seu trabalho.»

Não use a opção “Imprimir sem guardar” para não perder o seu trabalho.

«Não use a opção <b»

«Não use a opção <i»

«Não use a opção Imprimir sem guardar para não perder o seu trabalho.»

Na minha opinião, a última opção é incorreta porque, devido ao realce de apenas uma única palavra, toda a frase torna-se ambígua, adquirindo um segundo significado que não reflete o significado (único) da frase em inglês. O problema é que os tradutores que usam esse tipo de uso de maiúsculas e minúsculas, justificam essa opção dizendo sempre que “apenas assim é correto em português”. Cito, como exemplo, dum guia de estilo para português de um cliente meu: «Escreve com maiúsculas só a primeira letra da primeira palavra, ao contrário da formatação americana, que exagera no uso de maiúsculas.» Qual a vossa opinião relativamente a este assunto? (Caso queiram ver exemplos deste tipo de uso maiúsculas e minúsculas em sintagmas, sem qualquer outro tipo de realce, podem consultar, por exemplo, a Ajuda do Facebook).

Obrigado.

Resposta:

Embora o uso das maiúsculas e das minúsculas tenha regras devidamente estabelecidas tanto na norma de 1945 (pontos 39 a 47 das Bases Analíticas do Acordo Ortográfico de 1945) como na de 1990 (Base XIX do presente Acordo Ortográfico), trata-se de uma área de alguma liberdade de estilo e gosto, dependentes, como aqui já se observava, de critérios editoriais específicos. É o que de resto se recomenda nas observações da Base IX do AO: «As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.»

Dai que, na escrita jornalística, «os nomes de cargos, postos ou dignidades hierárquicas, sejam quais forem os respetivos graus, assim como os vocábulos que designam títulos, qualquer que seja a importância destes», se escrevam, sempre, com inicial minúscula – enquanto noutro tipo de registo (institucional e/ou mais formal), a regra é uso da maiúscula.

Por exemplo: «O primeiro-ministro Passos Coelho», no primeiro caso, «o Primeiro-Ministro Passos Coelho, no segundo; «a procuradora-geral da República», «a Procuradora-Geral da República»; «o papa Francisco», «o Papa Francisco»; etc., etc.

No caso em apreço, por ser claramente do âmbito de «obra especializada» (um manual de instruções informático?), não colhem os argumentos que recusam a utilização das maiúsculas iniciais num conjunto sintático com sentido (técnico) específico. Sem elas ...

Pergunta:

É sempre com grande prazer que agradeço o vosso excelente e útil trabalho, que uso frequentemente.

Consultei dois dicionários e não encontrei a palavra "marisqueio", que costumo usar com o significado de «atividade de captura ou apanha de marisco». Também não encontrei uma palavra que a pudesse substituir (por exemplo, "mariscagem"), pelo que peço a vossa ajuda para a encontrar.

Resposta:

Na verdade, que se conheça, nenhum dicionário ou vocabulário regista as palavras "marisqueio” e “mariscagem”, com o significado referido («atividade de captura ou apanha de marisco») – embora, no primeiro caso, até já exista na Ria Formosa (Algarve, Portugal) o chamado Observatório da Moluscicultura e Marisqueio1. É bem provável que a palavra surja em português por adaptação da forma marisqueo empregada quer em castelhano quer em galego como derivado de um verbo, mariscar, ou seja, o mesmo que mariscar, «apanhar ou andar à procura de marisco».

Observe-se que, em português, os substantivos terminados em -eio são geralmente derivados de verbos acabados em -ear2,  o que poderá levar a considerar que marisqueio é forma anómala, porque pressupõe a palavra não atestada *"marisquear", e não o atestado mariscar. Mesmo assim, é vocábulo que, em Portugal, a língua adaptou sem dificuldade e que entrou no uso, razões que permitem aceitá-lo como legítimo. Não obstante, uma consulta de páginas da Internet relacionadas com o Brasil revela que, neste país, se prefere o termo mariscagem, termo bem formado e, portanto, correto.