Pergunta:
Gosto muito do Rúben Amorim e vejo todas as conferências de imprensa dele.
Tenho uma dúvida sobre uma frase que ele disse hoje, ou seja (minuto 10:32, Youtube):
«O contexto é completamente diferente. Quando jogámos aqui, acho que tínhamos os mesmos pontos ou, se o Porto ganhasse, apanhava-nos na classificação.»
Tendo em conta que foi um evento relativo ao passado e hoje não poderia acontecer, não deveria ter dito: «Se o Porto tivesse ganhado, ter-nos-ia apanhado/tinha-nos apanhado na classificação»?
Obrigado.
Resposta:
A frase dita por Rúben Amorim ao minuto 10:32 da conferência de imprensa de antevisão do jogo do Sporting contra o Porto, ocorrido a 28/04/2024, está correta.
A oração «se o Porto ganhasse» consiste numa oração condicional contrafactual, uma vez que Rúben Amorim, na conferência de imprensa em questão, estava a referir-se à última vez em que o Sporting tinha jogado contra o Porto. Neste caso, a interpretação da oração faz-nos assumir que o antecedente é falso, ou seja, que o Porto não ganhou esse último jogo contra o Sporting.
Segundo Maria Lobo, em Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), as orações condicionais contrafactuais geralmente ocorrem com o pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo, «mas também são possíveis o imperfeito do conjuntivo e o presente do indicativo» (pág. 2021). Neste sentido, o uso da oração «se o Porto ganhasse» no contexto referido está correto. No entanto, também seria aceitável o pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo «se o Porto tivesse ganhado».
Quanto ao uso do imperfeito simples do indicativo na oração principal, «apanhava-nos na classificação», também está correto, uma vez que, tal como indica Maria Lobo, a sua função é realçar o mundo alternativo que é construído e contribuir para uma interpretação contrafactual da frase que está condicionada pragmaticamente. Pois, é «através da relação que se estabelece entre o tempo da oração principal e o da oração subordinada que conseguimos interpretar ...