Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

O verbo imprescindir existe?

Resposta:

A palavra imprescindir não se encontra atestada nos dicionários consultados.

Este verbo, apesar de não constar na grande maioria dos dicionários, é uma palavra bem formada segundo as regras de formação de palavras do português, aparecendo ocorrências do seu uso em alguns textos em português do Brasil na internet.

Com a junção do prefixo latino im-, que segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa tem o significado de «privação, negação», ao verbo prescindir, depreende-se que a intenção seria a de alterar o significado deste verbo para o seu oposto.

De acordo com a versão em linha do Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, prescindir significa «abdicar voluntariamente de alguma coisa ou de alguém; não ter necessidade de alguma coisa». Como antónimos deste verbo existem atestados termos, como por exemplo, necessitar, precisar e carecer.

Comummente em situações em que se pretende expressar algo de que não se pode prescindir utiliza-se o adjetivo imprescindível, que no Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, tem a seguinte aceção: «que é absolutamente necessário, não se podendo dispensar ou pôr de lado; que não se pode prescindir».

O que diferencia uma língua não materna de uma língua materna?
Uma contextualização teórica

«língua materna consiste na língua (ou nas línguas) que o falante adquire nos primeiros anos de vida. [...] Por oposição, a aquisição de estruturas linguísticas em fases tardias do desenvolvimento do falante que ocorrem depois de este já ter adquirido a(s) sua(s) língua(s) materna(s), significa que esta língua corresponde a um sistema linguístico não materno» – escreve Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas, num texto em que explica as principais diferenças entre língua materna e língua não materna.

Pergunta:

Considerando a frase:

«Assim, é função do gramático preservar o uso de ser corrompido pela ignorância.»

pergunto se poderia ser escrita:

«Assim, é função de o gramático preservar o uso de ser corrompido pela ignorância.»

Em que caso não se usa contração, quando vier um verbo no infinitivo?

Obrigado.

Resposta:

Em português, a contração da preposição de ocorre quando esta tem como complemento um sintagma nominal.

A frase apresentada pelo consulente tem como sujeito a oração infinitiva «preservar o uso de ser corrompido pela ignorância», que está em posição pós-verbal. Isto significa que a expressão «função do gramático» é o predicado da frase e, por isso, não está dependente da oração infinitiva.

O termo «o gramático» é regido pela preposição de e é, portanto, constituinte do sintagma preposicional introduzido pela preposição de. Uma vez que se trata de um sintagma nominal, deve ocorrer a contração do determinante artigo definido o com a preposição de; portanto, a frase correta, neste caso, é «Assim, é função do gramático preservar o uso de ser corrompido pela ignorância.»

De acordo com a norma-padrão, a contração da preposição de com o determinante artigo definido não é permitida quando existe uma fronteira de oração. Caso a oração infinitiva fosse um complemento da preposição e não o sujeito da frase, então o ideal seria a não ocorrência da contração, como se verifica em (1). Todavia, tal como assinalam Eduardo Paiva RaposoMaria Francisca Xavier na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), a contração com a preposição de em fronteira de oração, «sendo estigmatizada na norma-padrão, é, no entanto, bastante comum na oralidade e mesmo na escrita menos formal» (pág. 1508). Portanto, frases como (1) são indiscutivelmente corretas, enquanto casos como (2) ...

«Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão»
O significado do provérbio

A origem e significado da expressão «Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão» foi o tema abordado pela consultora do Ciberdúvidas Inês Gama, no programa Páginas de Português, da Antena 2.

Qual o estatuto do inglês nos dias de hoje?
A situação atual da língua inglesa no mundo

«[S]e tivermos em consideração que, atualmente, o inglês é a língua mais usada pelos falantes do mundo inteiro, uma vez que conta com 1,75 milhões de falantes (cerca de ua em quatro pessoas no mundo), de um ponto de vista comunicativo, é lícito utilizar a expressões língua mundial e língua universal para designar a situação atual deste idioma» – escreve Inês Gama, consultora do Ciberdúvidas, num texto em que reflete sobre a situação atual da língua inglesa, a propósito do texto «Não há língua universal alguma» do advogado e esperantólogo Miguel Faria de Bastos.

 [Sobre esta controvérsia, O inglês, língua universal: sim ou não?, vide os textos: Não há língua universal alguma e Um mundo anglofonizado]