Helena Ventura - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Helena Ventura
Helena Ventura
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Licenciada em Filologia Germânica, pós-graduação em Linguística. Autora, entre outras obras, do Guia Prático de Verbos com Preposições.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber os contextos onde ocorrem os verbos desculpar e desculpar-se. Tenho dúvidas sobre as funções/complementos que os mesmos pedem. Ou serão sinónimos?

Resposta:

O verbo desculpar é um verbo transitivo directo (desculpar alguém por alguma acção). Ex.: «A professora desculpa o aluno por ele não ter feito o trabalho de casa.»

O verbo desculpar-se significa apresentar pedidos de desculpa a alguém, por alguma acção cometida ou não cometida e tentar dar justificação. Ex.: «O aluno desculpou-se à professora por não ter feito o trabalho de casa.»

Mais comummente costumamos fazer a formulação deste modo: «O aluno  pediu desculpa  à professora por não ter feito o trabalho de casa e tentou explicar a razão por que não o fez.»

Pergunta:

Deve-se dizer e escrever: «o evento é sobejamente conhecido pelas pessoas», ou «o evento é sobejamente conhecido das pessoas»?

Resposta:

O complemento agente da passiva é mais frequentemente introduzido pela preposição por: «O evento é sobejamente conhecido pelas pessoas» — esta formulação está correta.

Mas há situações em que o agente da passiva pode ser introduzido pela preposição de (nesta situação pretende-se dar alguma ênfase ao aspecto determinativo).

Assim, a segunda formulação também está correcta e soa melhor, devendo, pois, dar-se-lhe preferência.
Vejamos outros exemplos:

(1) «As jovens estavam acompanhadas pelos pais.»

Ou:

«As jovens estavam acompanhadas dos pais.»

(2) «Sou apaixonada por música clássica.»

Ou:

«Sou apaixonada de música clássica.»

 

Pergunta:

É válida a fórmula «substituir-se a»?

Por exemplo: «As almas eternas podem ser compreendidas como metáforas que se substituem a uma realidade desagradável.»

Não deveria ser, mais simplesmente: «... que substituem uma realidade desagradável»?

Resposta:

É possível utilizar «substituir-se a», significando «ocupar um lugar que não é o seu; ter uma função que inicialmente não lhe competia».

Por conseguinte, o exemplo apresentado é válido.

Outro exemplo: «A irmã mais velha substitui-se à mãe nas tarefas domésticas.»

Contudo, também poderíamos dizer: «A irmã mais velha substitui a mãe nas tarefas domésticas.»

Assim, também podemos aceitar a formulação mais simples: «... que substituem uma realidade desagradável.»

Pergunta:

Gostava que me esclarecesse a seguinte dúvida: qual a preposição adequada para disponibilizar e estar disponível? Disponibilizar para alguém? Ou a alguém? Estar disponível para alguém ou a alguém?

Obrigada.

Resposta:

O verbo disponibilizar significa «colocar à disposição»; ex.:

«Disponibilizei [ou "disponibilizei-lhe"] toda a informação que possuía sobre a origem do fado, para que ele pudesse elaborar o trabalho.»

Neste caso disponibilizamos algo a alguém, mas também  podemos disponibilizar algo a alguém, para alguém concretizar um fim.

O verbo também pode ser usado reflexivamente: disponibilizar-se para; ex.: «Disponibilizámo-nos para mostrar a cidade aos nossos amigos estrangeiros.»

No caso de «estar disponível», estamos disponíveis para alguém ou alguma coisa. Ex.:

«Naquele dia ela não estava disponível para receber a amiga.»

«Não estava disponível para ir ao cinema.»

Não confundir «estar disponível (para)» com «estar disposto/a (a)». O primeiro implica tempo, o segundo implica vontade.

Pergunta:

Saudações uma vez mais.

Gostaria de saber se a regência do verbo presidir é «Ele preside o grupo» ou «Ele preside ao grupo». Vejo tanto uma como outra serem utilizadas na comunicação social. Estarão as duas correctas, ou dever-se-á usar uma em detrimento da outra?

Muito obrigado.

Resposta:

O verbo presidir pode ser (cf. J. Malaca Casteleiro, Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Lisboa, Texto Editora):

— um verbo intransitivo e rege a preposição a, no sentido de «ter lugar de honra»: «ele preside ao grupo»

— um verbo transitivo, quando significa «dirigir como presidente»: «ele preside o grupo».