Helena Ventura - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Helena Ventura
Helena Ventura
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Licenciada em Filologia Germânica, pós-graduação em Linguística. Autora, entre outras obras, do Guia Prático de Verbos com Preposições.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria que me indicassem as funções sintácticas das expressões «para mim» e «destas crianças» nas frases seguintes:

a) «Para mim, ficavam as tarefas difíceis.»

b) «O que será destas crianças?»

Muito obrigada.

Resposta:

Na frase a), «para mim» é o modificador ou o adjunto adverbial de fim (dantes, em Portugal, chamava-se complemento circunstancial de fim; cf. Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967, B. I.2.), passível de ser posto em correspondência com uma oração subordinada adverbial final de infinitivo: «As tarefas difíceis ficavam para eu as fazer.»

Na frase b), «destas crianças» pode ser encarado como o complemento de uma expressão mais extensa, com a função de predicativo do sujeito e que surge abreviada (elipse): «O que será (o futuro) destas crianças?» No entanto, a sequência «ser de» é também registada como uma construção especial do verbo ser, a qual, entre outras aceções, tem a de «acontecer», significado que é o que adquire na frase b). Énio Ramalho no seu Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintático da Língua Portuguesa (Livraria Chardron e Lello e Irmãos – Porto), dá abonações para este uso:

«ser de: que há-de s[er] de mim, agora?... (que me irá acontecer, como irei viver, etc.?); se não fossem aquels ladrões, que seria hoje de Basílio nesta sociedade de Lisboa, e casado com Guilhermina? (qual seria a sorte de?) – Camilo [Castelo Branco [...].»

Pergunta:

É comum ouvir em certos anúncios publicitários do Brasil a seguinte oração: «Dê um presente a quem você gosta.» Creio haver aqui um problema, uma vez que não se deu atenção à regência do verbo gostar, o qual pede a preposição de. Se quisermos construir gramaticalmente, teremos de usar a preposição supramencionada. Penso que a forma limpa de qualquer senão sintático é esta: «Dê um presente à pessoa de que (ou de quem) você gosta.» Estou certo?

Muito agradecido!

Resposta:

Exactamente. Diz-se «gostar de»: «dê um presente à pessoa de quem gosta» — porque se trata de uma pessoa, usamos quem (ou, também, que).

Quando tratamos de coisas ou animais, usamos só que. Ex.: «Escolho a cor de que mais gosto; acaricio o meu cão, o animal de que mais gosto.»

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem a dúvida a respeito da regência do verbo enviar e do substantivo preparação.

Diz-se: «Enviei algumas intenções para o Santuário X», ou «ao Santuário X»? Pois já li ambas as possibilidades.

O mesmo se refere ao substantivo preparação. Quando poderei dizer «preparação de» e «preparação para»?

Resposta:

O verbo enviar rege a preposição para quando referimos lugares, cidades, países. Exs.: «Enviei algumas intenções para o Santuário.»; «Enviei a encomenda para o Brasil, para Porto Seguro.» Usa-se a regência com a preposição a quando referimos pessoas. Ex.: «Enviei a encomenda à minha amiga.»

Quanto ao vocábulo preparação, depende do contexto em que é utilizado:

a) se queremos referir o aspecto determinativo, usamos de; ex.: «Vamos agora iniciar a preparação do cozinhado»;

b) se queremos referir um propósito, uma finalidade, usamos para; ex.: «Eles começaram a preparação para os exames.»

Pergunta:

Qual a regência correcta do verbo enamorar? Ou enamorar-se? E. g. «Estava enamorado por Lisboa», ou «Enamorou-se de Lisboa»?

Grato pelo atenção dispensada.

Resposta:

A regência correcta de enamorar-se é com a preposição de. Exs.:

«A violoncelista enamorou-se do colega e fixou residência no país onde estagiava.»

«Estavam cada vez mais enamorados um do outro.»

Notas:

1. A preposição por usa-se com o verbo (com significado idêntico) apaixonar-se. Ex.:

«Apaixonou-se por Lisboa.»

«Estava apaixonado por Lisboa.»

2. Sem o pronome se, os verbos enamorar e apaixonar são transitivos directos: «Qualquer coisa enamora os jovens»; «Sua beleza e doçura apaixonaram o severo cinquentão» (Aulete Digital).

 

CfAdagiário do namoro

Pergunta:

Devo dizer: «ocupar-me em», ou «ocupar-me com»?

Resposta:

Dependendo do contexto, assim as regências podem variar. Por exemplo:

— Num contexto em que o verbo ocupar tem o significado de «preencher», podemos usar com ou em. Ex.: «Depois da aposentação, ela tinha de arranjar alguma coisa com/em que ocupar o espírito.»

— Quando o verbo é conjugado reflexamente, com o significado de «tratar», «versar», usamos de. Ex.: «O jornal ocupa-se apenas de assuntos económicos.»

— Quando o verbo significa «tomar a seu cargo/ao seu cuidado», usamos de. Ex.: «A mulher ocupava-se da casa e dos filhos.»

— Quando o verbo tem o significado relacionado com alguma actividade ou profissão, usamos em. Ex.: «Em que é que se ocupa ela agora?»

— Quando o verbo tem o significado de «cuidar de», usamos em. Ex.: «... mas, enquanto nos ocupávamos em defender a praia...» (Padre. Ant.º Vieira, Cartas).

— Quando o verbo tem o significado de «dedicar-se a», usamos em. Ex.: «... ocupava-se até pela manhã na lição da Sagrada Escritura...» (Frei Luís de Sousa, Vida do Arcebispo).