«[...] Ao contrário de outros países colonizadores, Portugal abandonou historicamente o idioma no Brasil à sua sorte. Isto é, nunca investiu na 'protecção', no estímulo, da sua norma, sobretudo em cenário colonial. E eu acho que fez bem. Permitiu o desenvolvimento duma gramática alternativa que, em não poucos aspectos, se revela mais rica, mais flexível. E a linguística portuguesa deveria evitar dar hoje apoio, mesmo por omissão, aos sectores mais reaccionários da linguística brasileira.
A nossa História foi aquela que foi, e a «defesa da unidade essencial da língua portuguesa» é hoje tagarelice ideológica, nunca tendo sido (e, repito, ainda bem) um empenho político. Sim, Portugal nunca foi linguisticamente imperialista. Uma parvoíce? Um golpe de sabedoria? É tarde para nos preocuparmos com respostas. A «desagregação» da língua portuguesa, que cada Acordo disse querer estancar, é de há muito irreversível.
Em suma: o 'Acordo' do futuro poderá ser um acordar em não nos empatarmos mais uns aos outros. E esse, senhores e amigos, será, finalmente, um Acordo como deve ser.»
[Texto lido pelo escritor e linguista Fernando Venâncio na comunicação que apresentou no Encontro de Profissionais da Escrita (sobre a adoção do Acordo Ortográfico em Portugal) – com a gravação vídeo aqui – realizado na Academia das Ciências de Lisboa, no dia 9 de Março de 2017. Disponível, na íntegra, no Pórtico da Língua Portuguesa.]
Cf. Parlamento rejeita desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico