Pergunta:
«O leitor há de convir COMIGO EM que Fernando Pessoa é um gênio da língua.» (Celso Pedro Luft)
O verbo convir, quando pede a sequência «com alguém» mais «em algo», possui dois objetos indiretos?
Desde já, agradeço a enorme atenção.
Resposta:
Depois da Nomenclatura Gramatical Brasileira* (mais conhecida por NGB), houve uma simplificação de certos termos – não plenamente seguida por todos os gramáticos tradicionais, mesmo após a implantação nacional das determinações desse documento no ensino de gramática.
Um dos pontos de discórdia teve a ver com a simplificação do «complemento relativo» (CR), absorvido pelo termo «objeto indireto» (OI). Qualquer termo preposicionado que servisse de complemento verbal (exceto os que indicassem circunstância adverbial) foi então enquadrado no grupo dos OIs.
O que antes era CR (ex.: «Gosto de você») virou OI. Logo, para ser OI, não era mais necessária a substituição por um pronome oblíquo átono, como em «Deram um presente a Maria = Deram-lhe um presente».
Por conseguinte, todos os termos preposicionados nas frases seguintes passaram a ser ensinados (desde a década de 1960) como OIs no Brasil:
– Discordaram de você.
– Concordaram com você.
– Confiaram em você.
– Apontaram para você.
– Entregaram algo a você.
Desse modo, na frase do consulente – segundo o Dicionário prático de regência verbal, de Celso P. Luft –, o verbo convir, na construção «convir com alguém em alguma coisa», exige dois OIs, segundo a NGB.
Sempre às ordens!
* Por ser brasileiro o consulente, a resposta se baseia na terminologia gramatical tradicional empregada no Brasil.