Pergunta:
Tenho uma dúvida sobre o uso da preposição em frases como:
«Em uma conversa, esteja atento a se o seu interlocutor lhe entende.»
«O professor estava atento a que ninguém colasse na prova.»
«Ela mostrou-se grata a que a ajudassem naquele momento difícil.»
Esse uso da preposição antes de que ou se é realmente natural no português, ou soa artificial?
Pergunto porque, ao ensinar esse ponto aos alunos, a construção lhes pareceu estranha ao ouvido.
Gostaria também de saber se há outros exemplos com outras preposições (como para, em, com) usadas antes de orações introduzidas por que ou se, para compreender melhor a extensão desse uso.
Poderiam esclarecer a correção dessas construções e indicar bibliografia onde essa questão esteja tratada, de preferência com páginas específicas?
Muito obrigado.
Resposta:
É natural e, portanto, correto, na língua portuguesa o uso de preposição antes da conjunção integrante que: «a que», «com que», «de que», «em que», «para que»...
O papel da preposição nesse contexto é o seguinte: marcar a relação de subordinação entre um elemento da oração principal e o seu complemento oracional (a oração subordinada substantiva objetiva indireta ou completiva nominal)*. Exemplos:
– Elas nos avisaram de que tudo seria mais fácil.
– Não vamos insistir em que você volte.
– Precisamos admoestar os jovens a/para que estudem.
– Estamos seguros de que nada será fácil.
– Eu admiro o seu interesse por que todos estejam bem.
– Ele era receptivo a que se acolhessem novas ideias.
O que provoca estranhamento em usos como «O professor estava atento a que ninguém colasse na prova» são, pelo menos, dois fatores: um de ordem linguística (1) e outro de ordem extralinguística (2), a saber:
(1) A frequência com que costumamos omitir as preposições antes das conjunções integrantes nos faz estranhar o sua aparição, quando explicitada: «Elas nos avisaram (de) que tudo seria mais fácil.»
2) A falta de conhecimento linguístico mais profundo gerado pela baixa leitura de textos que exploram possibilidades linguísticas menos comuns costuma-nos gerar certo estranhamento. Quanto mais se investe no letramento, mais se passam a conhecer as estruturas gramaticais pouco usuais do nosso idioma, como em «Ele se mostrou grato a que o ajudassem naquele momento» ou «Hesitou sobre se devia aceitar ou não o convite».
Especificamente sobre a conjunção integrante se, o uso de preposição antes dela é raríssimo nos compê...