Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber qual a legislação/decreto-lei que obriga a aprendizagem/utilização da letra cursiva em escolas do 1.º ciclo/ensino básico em Portugal. Existem as Metas Curriculares de Português, actualizadas no site do Ministério da Educação, mas não encontro na constituição qualquer menção de «letra cursiva legível fluente».

Muito obrigada.

Resposta:

O documento Metas Curriculares de Português – Ensino Básico (1.º, 2.º e 3.º ciclos (agosto 2012), que faz referência à «escrita cursiva legível, em letra fluente», logo a abrir a Introdução indica que «[se] consigna no Despacho n.º 5306/2012, de 18 de abril de 2012, que o desenvolvimento do ensino será orientado por Metas Curriculares cuja definição organiza e facilita o ensino [...]», alertando-nos para o facto de que «As Metas ora definidas [se] constituem [...] como o documento de referência para o ensino e a aprendizagem e para a avaliação interna e externa», o que não deixa espaço para dúvidas sobre a sua legitimação.

Para além disso, indica-nos nos «Domínios de Referência, Objetivos e Descritores de Desempenho» para os vários anos do Ensino Básico que «Os objetivos e descritores indicados em cada ano de escolaridade são obrigatórios. Sempre que necessário, devem continuar a ser mobilizados em anos subsequentes».

Ora, no que diz respeito às Metas do 1.º Ciclo – 1.º e 2.º anos, no domínio da Oralidade e Escrita (LE1, LE2), no âmbito de «Transcrever e escrever textos», são-nos apresentados os seguintes objetivos e descritores de desempenho:

LE1

«1. Transcrever um texto curto apresentado em letra de imprensa em escrita cursiva legível, de maneira fluente ou, pelo menos, sílaba a sílaba, respeitando acentos e espaços entre as palavras.

2. Transcrever em letra de imprensa, utilizando o teclado de um computador, um texto de 5 linhas apresentado em letra cursiva» (p. 10).

LE2

«1. T...

Pergunta:

Como se diz? «Próxima sexta-feira», ou «sexta-feira da próxima semana»? Se for as duas, porquê?

Resposta:

Tudo depende do contexto e do dia em que se estiver. Por exemplo, se eu me quiser referir a uma sexta-feira da semana que estiver a decorrer, poderei dizer simplesmente: «a próxima sexta-feira».

No entanto, se me quiser referir a uma sexta-feira da semana seguinte, deverei dizer: «a sexta-feira da próxima semana».

 

Cf. Viagem pelos nomes de sexta-feira

Pergunta:

Qual é a regência do verbo informar (informar alguém de algo?) e da expressão «venho informar» (venho informar alguém de algo?)?

Resposta:

«Informar de que» é a construção indicada por Rodrigo de Sá Nogueira, no seu Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem (Lisboa, Clássica Editora, 1989, p. 221), tendo em conta o facto de que «quem se informa informa-se de alguma coisa», razão pela qual a estrutura correta implica o uso da preposição de. Por isso, chama-nos a atenção de que não se deve dizer *«Informo V. Ex.ª que recebi a sua carta», *«Informo-o que o meu filho já partiu», *«Ele informou-me que desiste da sua pretensão», alertando-nos para as formas corretas:

«Informo V. Ex.ª de que recebi a sua carta.»

«Informo-o de que o meu filho já partiu.» «Ele informou-me de que desiste da sua pretensão.»

Por sua vez, o Dicionário Estrutural Estilístico e Sintático de Língua Portuguesa (Porto, Lello & Irmão, p. 342), de Énio Ramalho, para além da preposição de, acolhe, também, a ocorrência da preposição sobre — informar sobre (informar alguém sobre alguma coisa). Exemplos:

«O ministro informou o presidente sobre a atual situação política.» «O ministro informou o presidente da atual situação política.»

Por outro lado, segundo o Dicionário Gramatical dos Verbos Portugueses, da Texto Editores (2007), o verbo informar admite várias construções, de acordo com o seu sentido e a respetiva sintaxe:

— como transitivo direto, com o valor de «dar informações» e/ou «comunicar» permite duas estruturas:

– Grupo nominal (sujeito) + Verbo + Grupo nominal (complemento direto). Exemplos:«O guia da faculdade informa os alunos.»

«Os jornais informam os leitores.» – GN (suj.) + Verbo + Frase finita (compl. direto). Ex.: «O...

Pergunta:

«Leitores pouco experientes em livros mais sombrios, mas por eles curiosos, têm n´As Três Vidas um simpático manual de iniciação». Nesta frase, o adjectivo curiosos rege a preposição por?

Resposta:

Segundo o Dicionário Estrutural Estilístico e Sintático da Língua Portuguesa (Porto, Lello & Irmão), de Énio Ramalho, a preposição por é pedida pelo nome/substantivo curiosidadecuriosidade por [exemplos.: «Eu fui assistir àquele comício só por curiosidade»; «Ele tem curiosidade por tudo o que é do mar»], enquanto o adjetivo curioso rege a preposição decurioso de [ex.: «Era curioso de tudo e sobre tudo queria saber»].

Na frase apresentada, o adjetivo curiosos, referente aos «leitores pouco experientes em livros mais sombrios», ocorre com a preposição por — em «por eles curiosos» —, adotando a regência do substantivo curiosidade, o que não nos parece ilegítimo, uma vez que «curiosos» corresponde a «ter curiosidade por».

Pergunta:

Qual o significado/origem da expressão « que é para ti os ratos não roem»?

Resposta:

Não encontrámos nenhum registo dessa expressão na bibliografia específica1 consultada sobre expressões correntes, populares e idiomáticas.

No entanto, da leitura que fazemos desse enunciado, parece-nos que se poderá inferir que se trata de uma expressão pouco abonatória dirigida a alguém (a um tu — «que é para ti» —, reveladora da pouca consideração e do desprezo com que esta pessoa é encarada por parte do emissor, pois é colocada abaixo dos ratos (um animal associado à sujidade, motivo de nojo). Ora, se nem os ratos querem/comem o que é para essa pessoa, isso significa que a mesma não é respeitada como ser humano, que é vista como um ser inferior.

1 Bibliografia consultada: Guilherme Augusto Simões, Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, Lisboa, Dom Quixote, 1993: Orlando Neves, Dicionário de Frases Feitas, Porto, Lello & Irmão, 1991; Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, Porto, Papiro Editora, 2007; Maria Alice Moreira Santos, Dicionário de Provérbios, Adágios, Ditados, Máximas, Aforismos e Frases Feitas, Porto, Porto Editora, 2000; Deolinda Milhano, Dicionário de Ditados (Provérbios) e Frases Feitas, Lisboa, Colibri, 2008; José Pedro Machado, O Grande Livro dos Provérbios, Lisboa, Editorial Notícias, 2005; Gabriela Funk e Mattias Funk, Dicionário Prático de Provérbios Portugueses, Lisboa, Cosmos, 2008; Maria Ribeiro, Provérbios e Adágios Populares, Lisboa, Planeta Editora, 2003; António Moreira, Provérbios Portugueses, Lisboa, Editorial Notícias, 1996; José Alves Reis, Provérbios e Ditos Populares, Porto, Litexa Editora, 1996.