Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

O que é a pronominalização?

Resposta:

Pronominalização (de pronominalizar +-ção) é um termo gramatical (do domínio linguístico) utilizado para designar a substituição de um nome ou de um sintagma nominal por um pronome (pessoal, possessivo, demonstrativo). Como se refere a um conteúdo gramatical, tal palavra ocorre com bastante frequência nos sumários das aulas de línguas e nas fichas de trabalho de Português, em que se solicita, precisamente, a substituição de um nome/substantivo ou de um sintagma nominal por um pronome adequado à frase e, consequentemente, correspondente à respetiva função sintática. Por exemplo, se, num determinado exercício, for proposta a substuição de nomes/sintagmas nominais por pronomes nas seguintes frases:

a) «Eu li o texto.» (o texto = complemento direto)

b) «O Joâo pediu à mãe e ao pai.» (à mãe e ao pai = complemento indireto)

c) «A Inês realizou os trabalhos.» (os trabalhos = complemento direto)

d) «A professora mostrou a caneta e deu a caneta à Joana.» (a caneta = compl. direto; à Joana = compl. indireto)

e) O meu pai comprou milho e deu o milho aos pássaros.» (o milho = compl. direto; aos pássaros = compl. indireto)

A resolução do exercício implicaria o seguinte resultado:

a) «Eu li-o....

Pergunta:

Gostaria de saber se em Portugal existem diferenças de significado entre os verbos compreender e perceber.

Resposta:

Compreender e perceber são, na grande maioria das vezes, sinónimos. No entanto, cada um desses verbos tem um outro significado que não lhes é comum. Se tivermos em conta as suas etimologias, poderemos aperceber-nos de que, desde os respetivos étimos latinos, existem sentidos comuns, mas também distintos entre os dois verbos.

Assim, compreender deriva «do latim comprĕhendĕre, ”agarrar em conjunto; unir, ligar; encerrar, fechar; segurar, prender; apreender, apoderar-se de, arrestar; envolver (com manifestações de amizade, de bondade, etc.); abranger (com as palavras de uma fórmula); atingir, alcançar (com a inteligência, com o pensamento)”» (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado).

Por sua vez, perceber provém «do latim percĭpĕre, “apossar-se de, agarrar-se a; agarrar, tomar; recolher, receber; perceber, experimentar; recolher, escutar, ouvir; recolher pela inteligência». No domínio da filosofia, o verbo perceber equivale a «conhecer com certeza» (idem).

Não é de se estranhar, portanto, que tanto compreender como perceber possam ser usados para designar quatro ações/situações:

  a) Saber o que quer dizer, o que significa; decifrar o sentido ou significado de uma mensagem oral ou escrita; entender o que é dito ou escrito; decifrar o significado do que é dito ou escrito numa determinada língua. Exemplos:

  «Compreender/perceber uma pergunta.»

  «Percebeste/compreendeste o que ele quis dizer?»

  «Compreender/perceber o texto.»

  «Compre...

Pergunta:

Estou com uma dúvida. Qual das sentenças abaixo está correta?

«Senhores políticos, está na hora de fazer mais por quem os elegeu.»

«Senhores políticos, está na hora de fazer mais por quem os elegeram.»

Resposta:

Quando o sujeito é o pronome relativo quem, a frase «constrói-se, de regra, com o verbo na 3.ª pessoa do singular» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 499).

Na frase apresentada, se fizermos a análise sintática da oração «quem os elegeu», verificamos que: quem é o sujeito; elegeu – predicado; os (pronome que se refere aos senhores políticos) – complemento direto.

Portanto, a forma correta é a primeira proposta pelo consulente: «Senhores políticos, está na hora de fazer mais por quem os elegeu.»

Pergunta:

A palavra céu, classificando-a quanto à acentuação, é uma palavra aguda, ou grave?

Obrigada.

Resposta:

A classificação de aguda (oxítona), grave (paroxítona) e esdrúxula (proparoxítana), quanto à acentuação, é possível apenas quando «as palavras têm mais de uma sílaba» (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 2002, p. 36).

Ora, a palavra céu tem uma única sílaba – é um monossílabo –, razão pela qual não se enquadra nesse tipo de classificação. Como o som dessa palavra é emitido fortemente, é um monossílabo tónico constituído por um ditongo – céu – acentuado, porque éu se destaca pela acentuação gráfica da palavra.

Pergunta:

A minha dúvida é com as palavras microondas e microrganismo, segundo o novo Acordo Ortográfico. Encontrei alguns artigos sobre estas palavras, mas nenhum respondeu à minha dúvida.

Penso que a grafia correta é mesmo como escrevi: microondas e microrganismo. Gostava de saber se está correcto e, se estiver, qual a regra para dobrar o o e não dobrar. Microrganismo é a excepção?

Resposta:

Micro-ondas, microrganismo e micro-organismo são as formas atestadas pelo Vocabulário Ortográfico do Português, assim como por outros recursos da aplicação do novo acordo (AO), o Acordo Ortográfico de 1990 (Vocabulário Ortográfico, da Priberam, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora; o Dicionário Universal, da Texto Editora).

A palavra microrganismo não é uma exceção definida pelo AO, é uma variante de micro-organismo. Trata-se de um caso de forma lexicalizada em que se deu a crase das vogais que ocorrem na periferia do elemento de formação e da base, forma essa já registada na tradição lexicográfica portuguesa e que importa manter. Assim, em microrganismo, a aglutinação resulta da atestação de uma forma que perdeu a composicionalidade (ou seja, esta palavra perdeu o valor de mera soma de elementos). Tal como os pares hidroelétrico e hidrelétrico, pré-existente e preexistente, as formas microrganismo e micro-organismo são variantes com motivação na variação linguística existente, em que os instrumentos lexicográficos, independentemente e antes da aplicação do AO 90, atestam mais do que uma forma possível para uma mesma palavra, sem que isso decorra de assistemacidades na aplicação d...