Eunice Marta - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Eunice Marta
Eunice Marta
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Licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal. Ex-consultora do Ciberdúvidas e, atualmente, docente do Instituto Piaget de Benguela, em Angola.

 
Textos publicados pela autora

Viu-se e… não se acreditou. Mas foi mesmo assim que estava escrito, como sendo o presente do indicativo do verbo reaver: «*Eu reei, tu reás, ele reá, nós reemos, vós reeis, eles reão» (!!!).1

Só mesmo um qualquer pirata informático podia ter feito esta maldade ao Dicionário de Verbos Conjugados, da Porto Editora…

Pergunta:

Queria saber se me podem dizer qual a origem do meu sobrenome Galheto. Por muito que eu procure, não a encontro. Se serve de alguma ajuda, o nome vem do pai do meu avô materno, que vivia no Alentejo, perto de Beja, numa pequena terra chamada Baleizão.

Resposta:

Galheto não integra a lista dos «apelidos oriundos de alcunhas» incluída no Tratado das Alcunhas Alentejanas, de Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva (Lisboa, Ed. Colibri, 2003). Portanto, não parece haver relação entre o nome de família e a cultura do universo geográfico alentejano a que pertence.

No entanto, Galheto encontra-se, de facto, registado como «antiga alcunha do nome masculino galheteiro, que, por sua vez, deriva de galheta, segundo o Dicionário Onomástico-Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado.

Nota: Não encontrámos registo deste sobrenome em nenhuma das outras obras de referência específícas da antroponímia (J. Leite de Vasconcelos, A Antroponímia Portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional, 1928; Manuel de Sousa, As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas, Ed. Correio da Manhã, 2001; Orlando Neves, Dicionário de Nomes Próprios, Ed. Notícias, 2002; Sebastião Laércio de Azevedo, Dicionário de Nomes de Pessoas, 1993).

Pergunta:

Qual a origem do antropónimo/topónimo Góis?

Resposta:

Góis é, de facto, topónimo e antropónimo (como apelido), segundo o Dicionário Onomástico-Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado (2003), caso frequente na língua portuguesa, a partir do qual se conclui que um está na origem do outro (ou o apelido tem origem geográfica ou o topónimo resulta do nome/apelido dos seus proprietários).

Enquanto topónimo, é frequente em Portugal – nos distritos de Coimbra, Alenquer (Casal dos Góis), Almodôvar (Montinho dos Góis), Arronches (Cova de Góis), Estremoz (Tapada do Góis), Évora (Herdade dos Góis), Lisboa (Pátio dos Góis), Mértola (A dos Góis), Odemira (Montinho dos Góis) – e no Brasil: Baía, Ceará, Rio Grande do Sul, São Paulo.

Da pesquisa realizada, concluímos que não é consensual a opinião sobre a origem do nome próprio Góis, para além de que resulta das formas antigas Goes, Gooes, Guoes, Goiz, Guois ou Goyos.

Por um lado, J. Leite de Vasconcelos, em Antroponímia Portuguesa1 (1928), coloca Gooes entre os casos de apelidos de origem geográfica, baseando-se nos Livros de Linhagens ou Nobiliários (in Portugaliae Monumenta Historica) a partir dos quais explica «como é que os nomes geográficos se originaram e transmitiram nas famílias: […] – “Reymon Rodriguez de Gooes…, e chamou-se de Gooes, porque viinha de hua irmãa do senhor de Gooes”» (p. 160), defendendo «a ligação de vários apelidos com senhorios, por exemlo: os senhores de Goes, chamaram-se do mesmo apelido» (p. 161). A presença da preposição de (de Gooes) no nome de família original reforça a tese de origem geográfica do apelido (os senhores de Gooes, os proprietários de Gooes), leva...

Pergunta:

Gostaria de saber as palavras compostas e derivadas das originais: porta, livro, fio e caracol.

Resposta:

A palavra derivada é a que resulta de um processo de sufixação ou de prefixação da palavra primitiva. Portanto, de porta, livro, fio e caracol podem formar-se, respetivamente, várias palavras derivadas, como, por exemplo:

Porta – portão; portal; portada; portaria; portinhola; porteiro.

Livro – livrinho; livreco; livreiro; livraria.

Fio – fiozinho; fiar; fiação; enfiar.

Caracol – caracolinho; caracoleta; encaracolar; encaracolamento.

Por sua vez, as palavras compostas resultam da associação de duas ou mais palavras (composição morfossintática) ou de um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras (composição morfológica). São, por isso, exemplo de palavras compostas as seguintes:

Porta – porta de fole1; porta de correr1.

Livro – livro de bolso; livro de ponto; livro de registo.

Fio – fios de ovos1; fio de prumo1.

1 Antes da aplicação do novo acordo ortográfico, grande parte destas palavras compostas (em que a preposição de era o elemento de ligação) grafavam-se com hífen: porta-de-fole; porta-de-correr; fios-de-ovos; fio-de-prumo. Com a nova ortografia, não se emprega o hífen nas pa...

Pergunta:

Primeiramente, parabéns pelo ótimo site.

Dúvida: qual o correto na pergunta a seguir? «Qual a lotação e quantidade atual de funcionários hoje no cargo de servente e por lei quantos deveriam ter?» Usa-se deveriam, ou deveria?

Resposta:

O texto em causa parece pertencer a um registo escrito de um discurso oral, em que o emissor se dirige a outra(s) pessoa(s), negligenciando a construção frásica e omitindo partes/constituintes imprescindíveis a um discurso escrito correto.

Enquanto registo direto de enunciado oral – em que a pontuação/divisão de frases é evidenciada pela entoação, passando-se naturalmente de uma mensagem a outra –, marcado pela informalidade, desvaloriza a gramaticalidade do discurso, privilegiando o conteúdo da mensagem que pretende passar.

É o que se passa com o caso em referência. O enunciado que nos apresenta como uma única frase – «Qual a lotação e quantidade atual de funcionários hoje no cargo de servente e por lei quantos deveriam?» – contém duas frases/orações/mensagens, o que gera problemas a nível da concordância do predicado com o respetivo sujeito. E isso deve-se às elipses1 nas duas frases:

a) do predicado/verbo da 1.ª frase («é»), predicado este que é diferente do da 2.ª frase («deveriam ter» ou «deveria ter»).

b) do sujeito da 2.ª frase do qual dependerá a forma verbal – «deveria ter» ou «deveriam ter».

c) de «funcionários hoje no cargo de servente» representado pelo pronome interrogativo quantos, que, por ocorrer antes do predicado, pode gerar ambiguidades relativamente à sua função sintática.

Analisemos, então, o enunciado:

1.ª frase – «Qual [é] a lotação e quantidade atual de funcionários hoje no cargo de servente?»

2.ª frase – «E, po...