Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Será que podem indicar uma boa gramática para uma aluna do 9.º ano? Obrigada.

Resposta:

As gramáticas que pode encontrar recomendadas para o 3.º ciclo do ensino básico e para o ensino secundário são, na sua generalidade, adequadas.

Uma das gramáticas que me parecem bem concebidas e que têm a vantagem de conter propostas de exercícios com as respectivas correcções é a Gramática Pedagógica e Cultural da Língua Portuguesa, de Álvaro Gomes, Porto Editora.

Pergunta:

Apesar de não ser uma pergunta sobre a língua portuguesa, presumo que possa interessar a quem, como eu, tenha de escrever textos (em português).

Ao consultar/ler livros em inglês, deparo-me com várias diferenças tipográficas quando comparados com livros em português. Por exemplo, o posicionamento de índices no início e/ou fim do livro, a posição da primeira frase numa secção, a posição do texto da lombada quando a capa do livro está voltada para cima, etc.

Assim gostaria de saber se existem regras tipográficas para a escrita de textos em português.

Infelizmente, ou talvez não, parece-me que não existem tais regras. Se existem e são seguidas, apenas posso dizer que estas são, pelo menos aparentemente, mais permissivas quando comparadas com as regras de um livro impresso, por exemplo, nos EUA.

Resta-me dizer que um livro com bom conteúdo e má apresentação pode ser tão difícil de ler como um com mau conteúdo e boa apresentação. Por alguma razão existem tipos que não são bons para a escrita de textos...

Obrigado!

Resposta:

Desconheço a existência de uma norma editada pelo Instituto Português da Qualidade que verse sobre aspectos como os que refere.

Dos três aspectos que salienta: posição do índice, espaço livre no início de uma secção ou capítulo e posição do título na lombada, parece-me haver algum consenso, nas diversas obras que consultei, quanto à posição do índice, que, todos defendem, deve ser colocado no início.

Convém, no entanto, ter em conta que não era esse o procedimento habitual na tipografia portuguesa, que tinha por norma colocar o índice no final. Este procedimento tinha, provavelmente, como justificação a ordem cronológica de elaboração da obra, partindo-se do princípio de que o índice era a última coisa a ser organizada. Era o ponto de vista do autor/produtor que prevalecia. A passagem do índice para o início, seguindo um procedimento mais comum noutros países, implica uma mudança de ponto de vista. Não é já a visão de quem faz a obra que prevalece, mas o ponto de vista de quem a utiliza. E o índice deixou de ser a súmula final para ser um instrumento orientador para o leitor.
Se, ao consultar uma obra portuguesa, não encontrar o índice no início, poderá verificar a data de edição, e é bem provável que não tenha sido editada nos últimos anos, a menos que seja uma reimpressão.

Quanto à posição exacta em que se deve iniciar um capítulo ou secção, das obras que consultei poucas referem este aspecto, talvez por considerarem que essa posição pode ser objecto de alterações que se prendam com a organização geral das páginas.

Relativamente à posição do texto nas lombadas, todos os documentos que consultei são omissos e, olhando para alguns livros à minha volta, verifico que são várias as opções, desde conter apenas o título...

Pergunta:

Consultei o tratamento deste tema no site, mas tenho uma dúvida que não terá sido abordada. Trata-se da obrigatoriedade do uso de maiúscula nas referências a diplomas legais.

O emprego de maiúscula é obrigatório para a identificação de um diploma específico. Exemplo: «O Decreto-Lei n.º xxx/2008 de 15 de Novembro.»

No entanto, gostaria que me esclarecessem se o uso de maiúscula é ainda obrigatório nas sucessivas referências a esse diploma ao longo do texto. Exemplo: «Aquele decreto-lei veio regular.....» ou «A Lei n.º xxxx/2007, relativa a […]. Esta lei deverá ainda ser regulamentada.»

Muito obrigada pela vossa atenção.

Resposta:

Não encontrei indicações específicas acerca da situação concreta que coloca. No entanto, uma leitura de alguns acórdãos disponíveis na página do Supremo Tribunal de Justiça, http://www.dgsi.pt/, permite concluir que, efectivamente, quando um normativo é identificado de forma individualizada se impõe o uso da maiúscula e nos casos em que essa referência é integrada na sequência textual, sem a necessidade de individualizar o normativo em causa é possível, muitas vezes, considerar que, ali, se trata de um nome comum, podendo ser grafado com minúscula.

Este procedimento é preconizado na base analítica 39 do acordo ortográfico de 1945, disponível em: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo&version=1945#, que a seguir se transcreve, embora nessa base se não refira expressamente o caso da referência aos normativos:

 

«39 Os nomes de raças, povos ou populações, qualquer que seja a sua modalidade, os nomes pertencentes ao calendário, com excepção das designações dos dias da semana, escritas sempre com minúscula, e os nomes de festas públicas tradicionais, seja qual for o povo a que se refiram, escrevem-se todos com maiúscula inicial, por constituírem verdadeiras formas onomásticas. Exemplos: os Açorianos, os Americanos, os Brasileiros, os Cariocas, os Hispanos, os Lisboetas, os Louletanos, os Marcianos, os Mato-Grossenses, os Minhotos, os Murtoseiros, os Negros, os Portugueses, os Tupinambás; Abril, Brumário, Elafebólion, Nissã ou Nissão, Outono, Primavera, Ramadã ou Ramadão, Xebate; Carnaval (também nome do calendário), Elafebólias, Lupercais, Saturnais, Tesmofórias. Relativamente a todos estes nomes, note-se que é importante distinguir deles as formas que podem corresp...

Pergunta:

Numa carta, como posso detectar a função emotiva da linguagem?

Resposta:

Na função emotiva (uma das seis funções da linguagem definidas por Roman Jakobson) prevalecem as marcas do emissor, ou seja, daquele que fala ou escreve. A mensagem centra-se nas suas opiniões e emoções. Geralmente usa-se a 1.ª pessoa do singular, e pode haver recurso a interjeições ou a frases que indiquem o estado de espírito do emissor.

Qualquer indicação que possibilite identificar o que pensa ou sente quem está a escrever constitui uma marca referente à função emotiva.

Assumindo que se trata de uma carta informal, ou pessoal, em que o emissor conta, por exemplo, uma viagem que fez, contribuem para a função emotiva expressões de entusiasmo, do tipo «adorei»; «foi espectacular», etc.

Pergunta:

Primeiramente parabenizo-lhes pelo trabalho que desenvolvem, e através do qual tenho sido cultivado.

Gostaria de saber se toda oração subordinada substantiva objetiva direta pode ser transformada em oração reduzida de infinitivo, por exemplo: «Respondeu-lhe que manteria a pessoa em casa», para «Respondeu-lhe manter a pessoa em casa». Ou há verbos que não permitem essa transformação?

Antecipadamente agradeço.

Resposta:

Obrigado pelas suas palavras simpáticas. De uma forma geral, nos verbos que se constroem com uma oração completiva, esta pode ser infinitiva. O verbo esquecer não é excepção. Incluo três exemplos que retirei do Corpus do Português:

(1) «Antônio Castro, ultrajado na ciência, respondeu sentir espanto em confrontar com um vigário tão incompetente e burro pois outra coisa não era quem acaso duvidasse do estado de Sofia, morta de muitas horas.» (Abreu, Caio Fernando, Onde Andará Dulce Veiga?, 1990)

(2) «Perguntei se tava [sic] a passeio, respondeu ter vindo visitar um tio.» (Louzeiro, José, Devotos do Ódio, 1987)

(3) «Questionado, pelo JN, sobre se teve relação de trabalho subordinada, em sociedade ou em colaboração com Barros Guedes, Carlos Mendonça Guedes e José Barbosa da Rocha, respondeu ter tido relações de colaboração com Mendonça Guedes em projectos de betão e estruturas, no seu gabinete, para municípios fora do Porto, anteriores à sua entrada como vereador na Câmara.» (Jornal de Notícias, O mistério da licença 151/75, 97-05-13)

No entanto, o exemplo que apresenta e que repito com o número (4) soa estranho:

(4) «Respondeu-lhe manter a pessoa em casa.»

Podemos questionar-nos se a razão dessa estranheza é o facto de conter um pronome com função de objecto indirecto; mas se colocarmos o mesmo pronome nos outros exemplos creio que não varia a sua aceitabilidade:

(1.1) «Antônio Castro, ultrajado na ciência, respondeu-lhe sentir espanto em confronta...