Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Dizemos: «Gotas de água pesadas e frias», ou «Gotas de água pesada e fria»?

Resposta:

A concordância gramatical faz-se com o nome que é núcleo do grupo nominal. No caso em análise, o núcleo é gotas. Por isso, a concordância é feita com esse nome, pelo que os adjetivos deverão estar no plural: «Gotas de água pesadas e frias

Isso não impede, todavia, que, em determinados contextos, a concordância possa ser feita com o nome mais encaixado, ou seja, com o nome que se encontra ligado ao núcleo. Na presente situação, seria água. Este tipo de concordância, a que se dá o nome de silepse, é um recurso estilístico usado sempre que se pretende dar destaque a um nome que não seja o núcleo, alterando, de algum modo, o sentido geral. Assim, em «Gotas de água pesadas e frias», o foco da mensagem está em gotas, ao passo que, se se disser «Gotas de água pesada e fria», o destaque vai para água.

Pergunta:

Eu tenho uma dúvida sobre o verbo lembrar. Nós fizemos uma camiseta do grupo de evangelismo e na frente escrevemos: «Você lembra de quem é Jesus?» Está certo?

Resposta:

Na observação 2 do verbete lembrar do Dicionário Prático de Regência Verbal, Celso Luft diz que «lembrar de alguém ou de algo» é uma inovação derivada de «lembrar-se de alguém ou de algo». Refere ainda que, embora alguns gramáticos normativos condenem o uso dessa forma, ela tem vindo a impor-se pelo uso. O exemplo que submete à nossa apreciação inclui-se nesse tipo de inovação e é aceitável, sobretudo, parece-me, no Brasil.

De qualquer modo, recomenda-se as duas seguintes hipóteses: «Você lembra quem é Jesus?» ou «Você se lembra de quem é Jesus?»1

 

Agradeço a Luciano Eduardo de Oliveira a achega sobre o uso deste verbo.

Pergunta:

Qual é a opção correta: «Que ele nos ajude a fazer», ou «a fazermos»?

Resposta:

Embora ambas as frases sejam aceitáveis, há uma clara preferência pela forma impessoal. Para percebermos porquê, torna-se necessário completar a frase, introduzindo o verbo inicial a que se liga aquele que. Imaginemos que a frase é «Esperamos que ele nos ajude a fazer o trabalho.» Quando o sujeito do infinitivo é o mesmo (ou integra) que o sujeito do verbo da oração subordinante, podemos optar por usar quer o infinitivo pessoal quer o impessoal. É o que acontece, por exemplo, na frase «Eles compraram livros para ler/lerem.» E é também o que acontece com a frase em apreço na versão completa que propomos.

Note-se que, se o sujeito for diferente e estiver expresso, a concordância tem de se fazer com o sujeito do infinitivo: «Eles compraram livros para os filhos lerem.»

Pergunta:

A palavra folhar é da família de folha?

Resposta:

Sim, é. Se consultarmos o dicionário da Porto Editora, poderemos ver que, além de ter um sentido associado a folha (cobrir de folha, ornar com folhagem…), a palavra tem como origem folha + ar.

Pergunta:

Qual seria o plural da palavra licença-prêmio?

Resposta:

Consultando o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, podemos verificar que a palavra admite dois plurais: licenças-prêmio e licenças-prêmios.