As palavras – ou, melhor, os conceitos – em confronto são, na verdade, mito e misticismo. De mito diz o dicionário em linha da Porto Editora:
1. relato das proezas de deuses ou de heróis, suscetível de fornecer uma explicação do real, nomeadamente no que diz respeito a certos fenómenos naturais ou a algumas facetas do comportamento humano
2. narrativa fabulosa de origem popular; lenda
3. elaboração do espírito essencialmente ou puramente imaginativa
4. alegoria
5. representação falsa e simplista, mas geralmente admitida por todos os membros de um grupo
6. algo ou alguém que é recordado ou representado de forma irrealista
7. exposição de uma ideia ou de uma doutrina sob forma voluntariamente poética e quase religiosa
O mesmo dicionário define misticismo como:
1. atitude caracterizada pela crença na possibilidade de comunicação direta com o divino ou a divindade
2. atitude essencialmente afetiva que dá prioridade às crenças intuitivas, que garantiriam revelações inacessíveis ao conhecimento racional
3. tendência para acreditar em verdades sobrenaturais
4. vida contemplativa
5. devoção exagerada
Vendo as definições de ambas as palavras, poderemos verificar que há alguns pontos de contacto entre os dois conceitos, embora misticismo seja, parece-me, algo mais individual, enquanto mito assume contornos sociais, ou grupais. Misticismo não pretende explicar nada, antes atingir algo sobrenatural, ao passo que mito surge, por vezes, para explicar ou ajudar a manter procedimentos, atitudes ou crenças que assumem uma determinada representação no grupo.
Quanto ao uso, eventualmente indevido, de misticismo, só perante exemplos concretos conseguiria dar um parecer mais objetivo.