Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Gostaria de saber se na seguinte frase, «Se receber o cheque original após a suspensão do respetivo pagamento, não conseguirá descontá-lo», a partícula -lo está incorreta (e, se sim, porquê), se ambas as formas são possíveis, ou se deve dizer-se antes: «Se receber o cheque original após a suspensão do respetivo pagamento, não o conseguirá descontar.»

Resposta:

Sempre que temos um grupo de dois verbos seguidos, mesmo que não constituam uma locução verbal, e um deles está no infinitivo, é comum, e recomendado por alguns gramáticos, associar o pronome a esse infinitivo, mesmo nos casos em que, com um só verbo, o pronome viria, obrigatoriamente, para antes do verbo. Isso não impede, no entanto, que a colocação do pronome antes do verbo se possa aplicar, ficando, de certo modo, ao critério de cada um o uso de uma ou outra estrutura.

Saliento, todavia, que alguns gramáticos consideram desviante o uso da próclise nestes casos, aceitando apenas como uso formal aquele em que o pronome se associa ao verbo no infinitivo, ou seja, o primeiro exemplo que aponta.

Em síntese, a meu ver, ambas as frases em apreço são adequadas, embora possa haver quem não aceite como própria de um nível formal da língua a segunda hipótese que apresenta.

Pergunta:

Autoconstrução é uma palavra composta por aglutinação, ou justaposição?

Resposta:

Vale a pena, antes de mais, alertar para o facto de nem todos os estudiosos estarem de acordo sobre a definição de aglutinação e de justaposição. Para uns, há aglutinação sempre que não há hífen; para outros, só há aglutinação quando uma das palavras (normalmente a que se situa à esquerda), sofre alterações que poderão ser a perda de uma ou duas letras ou o ganho de uma vogal de ligação. Assim, a palavra passatempo é, para uns, aglutinada, porque não tem hífen, e, para outros, justaposta, porque é possível, sem quaisquer alterações, identificar as duas palavras-base: passa + tempo.

A par destas situações, outras há em que o primeiro elemento já não existe de forma autónoma na língua, constituindo-se um radical, grego ou latino, usado tão-somente na formação de palavras novas.

Nesta ambiguidade classificativa, há ainda que referir que a palavra auto se reveste de particular complexidade.

Auto é considerado nas gramáticas como um elemento, ou radical, de origem grega (de autos), com o sentido de «autónomo», «próprio» ou «de si próprio». Surge desta forma em palavras como autoconfiança, autoavaliação, etc.

Curiosamente, a partir da palavra automóvel, em que entra este elemento, passou a utilizar-se um outro, homónimo, mas constituindo uma truncação de automóvel. Esta truncação está presente em palavras como autoestrada, autódromo, etc.

Na pa...

Pergunta:

Peço a vossa atenção para as frases seguintes: «Aventure-se por Portugal. Descubra a simplicidade de um país autêntico.»

a) Sabendo que o imperativo afirmativo apenas possui formas próprias para as segundas pessoas do singular e do plural, tomando as restantes pessoas as formas do presente do conjuntivo;

b) Sabendo (ainda relativamente ao modo imperativo) que a 3.ª pessoa terá de ser antecedida, expressamente ou não, por você e afins...

c) As formas verbais na frase acima dir-se-ão no presente do conjuntivo, ou no imperativo?

Resposta:

A sua questão reduz-se, na verdade, à primeira premissa, ou seja, à alínea a), pois, de facto, o imperativo, sendo um modo do discurso direto, ou seja, da comunicação em situação em que o emissor e o recetor estão no mesmo espaço ao mesmo tempo e a comunicar um com o outro, tem apenas a segunda pessoa, quer do singular, quer do plural. Há subjacente um eu a falar com um tu ou com um vós.

A complexidade das relações sociais faz com que nem sempre a segunda pessoa satisfaça as condições de comunicação formal, havendo, em muitos casos, necessidade de recorrer à terceira pessoa, do singular ou do plural, para definir ou expressar o tipo de relação, mais distanciada, entre o emissor e o recetor. Aí, os falantes recorrem às formas do conjuntivo, fazendo o mesmo sempre que o imperativo é negativo.

Por outro lado, a afirmação que faz em b) não corresponde à prática de aplicação do imperativo, pois não é habitual o uso expresso do pronome, ou de qualquer outra forma de sujeito, com o imperativo. Claro que, gramaticalmente, temos, pela flexão do verbo e, claro!, pelo contexto comunicacional, informação sobre o recetor ou recetores (seja ele tu, vós (ou vocês), você (ou o senhor, a senhora, etc.) ou vocês (ou os senhores, as senhoras, etc.). Mesmo quando o nome do recetor vem expresso, ele nunca é sujeito mas, sim, vocativo:

1) «Maria, faz os trabalhos.»

2) «Maria, não faças os trabalhos.»

3) «João, José, façam os trabalhos.»

Assim, as frases em apreço estão gramaticalmente no presente do conjuntivo, tendo no contexto em que ocorrem valor imperativo. Poderíamos mesmo dizer, com maior rigor, valor argumentativo, uma vez que o objetivo é persuadir, ou convencer, o recetor, que, no caso em análise, é também um leitor, pois, tanto ...

Pergunta:

Será a palavra prateleira da família da palavra prato?

Resposta:

Uma pesquisa no dicionário em linha da Porto Editora permite-nos identificar a origem da palavra prateleira: De pratel +-eira.

Por seu lado, se virmos o que significa pratel, ficaremos a saber que significa «prato pequeno».

Podemos, pois, dizer que prato e prateleira são da mesma família, até porque o sentido inicial de prateleira era «local onde se colocam os pratos», tendo depois evoluído para o sentido que hoje lhe atribuímos.

Pergunta:

Qual é a família de palavras de susto?

Resposta:

O Vocabulário Ortográfico do Português, no Portal da Língua Portuguesa, tem, no seu motor de busca, disponíveis algumas opções que nos permitem obter ajuda para questões como a que apresenta.

Com efeito, além de se poder optar por pesquisar uma forma tal qual como se nos apresenta («igual a»), podemos ainda pesquisar palavras que contenham («contém») determinada estrutura ou ainda que comecem («começa com») ou acabem («termina com») de determinada forma.

Assim, para a palavra susto, poderemos fazer a pesquisa por «contém», retirando a vogal final: «contém sust». Obteremos um conjunto de palavras, muitas delas não estando relacionadas com susto e que podemos eliminar logo ou com recurso a um dicionário, ficando, no final, com as que se relacionam com a palavra que nos interessa, no caso em análise, susto. Temos assim: «susto; assustar; assustadiço; assustador; assustadoramente; assustável, etc.»