Edite Prada - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Edite Prada
Edite Prada
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Edite Prada é consultora do Ciberdúvidas. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português/Francês, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; mestrado interdisciplinar em Estudos Portugueses, defendido na Universidade Aberta de Lisboa. Autora de A Produção do Contraste no Português Europeu.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

As palavras elegível e ilegível podem ser consideradas palavras parónimas?

Resposta:

Sim. Trata-se de palavras com grafias próximas, que, por vezes, se confundem. Por outro lado, são duas palavras cuja pronúncia é igual, pelo que também poderíamos considerá-las como homófonas. Veja-se o que se diz no Dicionário Terminológico:

Homofonia
Relação entre palavras que são pronunciadas de forma idêntica, apesar de terem, normalmente, grafias distintas.
Ex.: passo/paço; sem/cem.
Paronímia
Relação entre palavras com grafias próximas.
Ex.: perfeito/prefeito; emigração/imigração; previdência/providência; cumprimento/comprimento; discrição/descrição; despensa/dispensa.
 
N. E. (08/10/2024) – Sobre a perspetiva que permite considerar elegível e ilegível como palavras homófonas, ler "As palavras elegível e ilegível" em O Nosso Idioma.

Pergunta:

Gostaria de saber se existe a palavra creditamento.

Exemplo: «Insumos permitem o creditamento de imposto.»

Resposta:

Não encontrei a palavra em nenhum dos dicionários ou vocabulários consultados. Em alguns casos encontrei creditação, que, parece-me, poderá substituir creditamento.

Por outro lado, importa ter em conta o facto de a palavra estar bem construída em português, uma vez que aplica o sufixo -mento ao radical de um verbo, como em distanciar > distanciamento, ou abastecer > abastecimento...

Saliente-se, porém, que, havendo várias formas de construir nomes a partir de verbos, cada verbo costuma ser, digamos assim, seletivo, ou seja, nem todas as formas são exploradas com cada verbo, pelo que, havendo identificada/registada a palavra creditação, talvez seja preferível usá-la, em vez de criar uma nova com o mesmo sentido.

Pergunta:

Ouvi falar na palavra neguinhos referente a um tipo de copo de vinho, ou a uma medida do mesmo, usada nas antigas tascas nortenhas.

Gostava de saber qual a origem e o significado deste termo.

Resposta:

Não encontrei a palavra referida em nenhum dos dicionários de regionalismos transmontanos nem nos dicionários gerais. Ocorre no dicionário Houaiss, como equivalente, mas com valor afetivo, a «negrinho», sem qualquer referência que ligue a palavra ao sentido que refere.

No entanto, consultando a palavra negrinho, pude verificar que um dos sentidos é «variedade de uva tinta», pelo que poderá ter-se dado em Trás-os-Montes uma alteração semelhante à que aconteceu no Brasil com a mesma palavra (de negrinho para neguinho), só que associando, por metonímia, a uva ao vinho. Como, normalmente, as bebidas eram servidas em copos com uma determinada medida (por exemplo, copo de três) é bem provável que à designação se associasse uma dada medida, mas, também relativamente a este aspeto, nada encontrei de relevante.

Pergunta:

Gostaria de confirmar se a palavra irrisório está aplicada de forma adequada (com respeito à semântica) na seguinte frase:

«O povo permite que os políticos acabem com o dinheiro de formas irrisórias e nunca acontece nada.»

Observação – o significado para irrisório seria: que provoca riso ou motejo, segundo o dicionário online Michaelis.

Resposta:

Consultando os dicionários, por exemplo, o Houaiss, ou o dicionário em linha da Porto Editora, poderemos ver que irrisório tem, no mínimo, dois sentidos: um, equivalente ao que o consulente indica; outro, com sentido de «insignificante, sem valor».

Em qualquer dos casos, pelo menos do meu ponto de vista, a utilização dos dinheiros públicos nem dá vontade de rir, nem é insignificante, se tivermos em conta que é o povo quem paga a fatura.

Por essa razão, do ponto de vista semântico, no contexto restrito em que está utilizado, eu não o utilizaria.

Salvaguarda-se, no entanto, a possibilidade de, em contextos mais alargados, o adjetivo poder ser usado em frases próximas da que está em apreço.

Pergunta:

Tenho tentado perceber, de forma aprofundada, e de modo a estabelecer regras compreensíveis para os alunos, a diferença entre o complemento e o modificador restritivo do nome. No Dicionário Terminológico, nada é claro. Encontrei aqui, no vosso espaço, esta explicação.

Ainda se aplica à luz do DT? Ou diz respeito unicamente à TLEBS?

Há mais algum desenvolvimento quanto à alínea e)?

E, no caso «o rapaz de barba», não se poderá, à luz a alínea c), considerar complemento (= «o rapaz é barbudo»)?

Resposta:

A resposta em apreço é datada de 28/10/2009, pelo que já tem em conta o DT, que surge de forma definitiva em 2008. De qualquer forma, como se trata, efetivamente, de um aspeto muito problemático, apresento uma sistematização que repete, de certo modo, o que disse na resposta anterior.

Complemento ou modificador do nome

Pedem complemento os nomes:

A. Derivados:

1. de outro nome: «O artista [arte] de circo»

2. de adjetivos: «A beleza [belo] da Maria»

3. de verbos: «A construção [construir] do edifício»

B. Icónicos

«A imagem de Lisboa»

«O retrato de Ricardina»

C. Que designam parentesco ou amizade

«O filho do João»

«A irmã do Manuel»

«O amigo da Francisca»

D . Que regem preposição

«A mania de»

«A hipótese de»

E. Que estabelecem uma relação de:

parte-todo: «a perna da mesa»

possuidor-agente-tema: «o livro da Maria» (o seu livro); «o quadro do Douro, de Júlio Resende» (o agente é Júlio Resende; o tema é o Douro)

fonte-origem: «o vinho do Porto»

matéria: «mesa de madeira»; «camisa de seda»

Nota 1 – O complemento do nome, do ponto de vista semântico, é sempre restritivo.