D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

"Como se abrevia Vossas Senhorias?

De acordo com as novas tendências da Língua Portuguesa, é correto usar Vs. Ss.?

Isso ocorre só no Brasil?

Resposta:

A Academia das Ciências de Lisboa recomendou para abreviatura de Vossas Senhorias o conjunto VV. S.as .

No entanto, como esta recomendação já tem mais de meio século e não me agrada a duplicação dos VV, permito-me preferir V.as S.as . Se me diz que a prática de Vs. Ss. é aceite aí no Brasil, não sou eu quem vá condená-la.

Ao seu dispor,

Pergunta:

A locução adverbial de modo "a rigor" não pode ser nunca substituída por "de rigor"?

Ex.: De rigor as matrículas são sempre feitas no local.

Resposta:

Rebelo Gonçalves regista as seguintes locuções:

  1. - Adjectiva: `de rigor´
  2. - Adverbiais de modo: `a rigor´, `em rigor´.

Que eu aplico em frases, respectivamente:

  1. - `É de rigor acentuar as proparoxítonas.´
  2. - `Vestiu-se a rigor para a cerimónia´.
    - `Em rigor, o termo Nobel (prémio Nobel) não se deve pronunciar ¦nóbel¦.´

Considerando elidido o grupo em negrito no agrupamento: `como é de rigor, as matrículas são sempre feitas no local´, não considero a sua frase incorrecta. Mas deve ser virgulada.

Pergunta:

Existe em Portugal alguma entidade, grupo de trabalho e/ou pessoa responsável(eis) pela tradução/adaptação/introdução na língua dos estrangeirismos?

Faço esta pergunta dado que, quanto maior for o período de tempo em que elas são utilizadas, mais difícil se torna a assimilação da "congénere" portuguesa por parte da população. Não só por falta de conhecimento como também por ser um pouco ridicularizada, sem que haja uma razão racional para tal atitude (ex: "Windows"-Janelas, "Franchising"-???, "Bold"-Negrito).

Gostaria igualmente de pedir o conselho do Ciberdúvidas sobre possíveis publicações onde possamos encontrar expressões portuguesas para estrangeirismos.

Agradeço antecipadamente a vossa resposta.

Resposta:

Em Portugal, a entidade que oficializa os termos da língua é a Academia das Ciências de Lisboa. Tem sido lenta neste objectivo. Como já indiquei anteriormente, anunciou-se que iria ser publicado um dicionário oficial actualizado, com inclusão de muitos neologismos. Aguardemos.

Tem toda a razão quanto à necessidade de substituir o estrangeirismo inconveniente logo que ele surge na escrita. Depois, é difícil, se não impossível, substituí-lo (ex.: «marketing» por mercadologia).

Nos termos que aponta, `Windows´ é o nome duma marca, e não é de norma a sua substituição por outro termo; em «franchising» será já talvez difícil também a sua substituição; quanto a «bold», sim, é um barbarismo evitável e deve usar-se o negrito, há muito consagrado.

Existem várias obras que dão recomendações sobre a substituição de estrangeirismos por termos vernáculos: dicionários, vocabulários, trabalhos específicos. Sem desprimor para outras, cito, por exemplo:

«Estrangeirismo na Língua Portuguesa» de José Pedro Machado;

«Dicionário de Estrangeirismos», de Francisco Alves da Costa.

Na Sociedade da Língua Portuguesa, secção de Linguística, o grupo que vem tratando da Provedoria da Língua tem como objectivo, também, sugerir orientações sobre os termos vernáculos recomendados para substituir barbarismos. Este grupo de trabalho está em reorganização e oportunamente informará como vai fazer a divulgação suficiente das suas propostas.

Cibernota:

As obras acima referidas podem ser adquiridas através da Internet:

  • "Estrangeirismos na Língua Portuguesa", de José ...

Pergunta:

Qual seria o substantivo correto para se referir ao verbo tabular?

Procurei no dicionário e não encontro nenhuma das duas formas, sendo que, na linguagem oral, ouvimos as duas.

Resposta:

Também não encontrei estes vocábulos nas obras que possuo.

As palavras terminadas em -ção significam, via de regra, `acto ou efeito de´ (ex.: absorção, de `absorptione-´: acto ou efeito de absorver). Por outro lado, as terminadas com o sufixo nominal -mento, em substantivos derivadas de verbos, exprimem a ideia de acção, resultado de acção (ex.: absorvimento, de absorver + mento = absorção). Nota: termos registados em Rebelo Gonçalves e Aurélio.

Assim, no meu ponto de vista, tabulação e tabulamento, ambas bem formadas, podem ser consideradas legítimas na língua, com o mesmo significado.

No entanto, desde que existam os dois termos, frequentemente acontece em Portugal ser preferida a terminação -ção. Por exemplo, `além de absorção, também absolvição, não obstante se poder usar absolvimento (mas o que não é regra geral porque, por ex., prefere-se internamento a internação e incitamento a incitação).

Neste caso, para acto ou efeito de tabular (verbo), eu escolheria tabulação.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Algumas palavras técnicas são utilizadas corriqueiramente no meio científico, porém não existem nos dicionários.

Por exemplo: "randomizado" (do inglês randomized). Esta palavra existe?

Qual o processo de incorporação de uma palavra à língua portuguesa?

Resposta:

A palavra randomizado está registada no dicionário de José Pedro Machado com o significado: «que apresenta randomização: processo que procura a tendência para a igualização das estimativas». Aurélio regista randomização com o significado de «acidentalização: planeamento em que se procura `controlar´ a influência de variáveis». Na técnica, o sentido de «random» é frequentemente de aleatório (ex.: «random access»: acesso aleatório, «random algorithm»: algoritmo aleatório, «random logic»: lógica aleatória, etc.

Considero o termo randomizado bem formado e já incluído no léxico. Na falta de indicações oficiais, actualizadas, uma palavra está no léxico da nossa língua quando aparece registada em dicionário ou vocabulário considerado de referência por comunidade culta da lusofonia (como por exemplo as obras acima indicadas). Não basta um grupo restrito de pessoas a utilizar.

E eu verdadeiramente só considero que um termo é português quando a sua formação obedece à índole da língua. Neste aspecto, termos como `freudismo´ pronunciado ¦frói¦, ou `chauvinismo´ pronunciado ¦chô¦ são para mim sempre barbarismos.

Claro que, uma vez no léxico, as novas palavras são susceptíveis de se irem enriquecendo com outros valores semânticos, independentemente dos seus falantes num momento da história.

Ao seu dispor,