Na rubrica “Dia a Dia” da revista “Actual” do “Expresso” publicado em 2004-10-30, lê-se, com data de sexta, 22: «Brasília anunciou estar pronta para adoptar o acordo ortográfico da língua portuguesa.»
De facto, dispondo já do seu actualizado Vocabulário, com 350 000 entradas (1998), é agora fácil para o Brasil avançar com o novo acordo. Basta indicar que passam a ser válidas universalmente as palavras em que no seu “Vocabulário” não aparecem grafadas as consoantes mudas, que se eliminam o trema e alguns outros acentos gráficos (poucos) e dar indicações sobre a simplificação nas regras do hífen, fáceis de seguir. Para as duplas grafias, nem é preciso notar nada, pois nada muda para o país irmão. Assim, pode decretar rapidamente a entrada em vigor do acordo, estabelecendo uma data, eventualmente de curto prazo, para modificação dos livros didáticos e dos dicionários. Entrando em vigor o acordo no Brasil, pode surgir imediatamente uma vaga de fundo para que neste país se passe a escrever com as novas modificações (não muito significativas para o Brasil). Será inclusivamente de esperar que os seus textos oficiais sejam escritos desde logo no novo acordo, nomeadamente os relacionados com as instâncias internacionais.
Então, provavelmente seguir-se-lhe-á rapidamente Cabo Verde; e depois outros países das oito pátrias de língua oficial comum.
Na expectativa de que Portugal fique isolado, com a restante lusofonia a seguir a grafia adoptada no Brasil, todos aqueles que ainda sentem como o vate: «esta ditosa Pátria minha amada», ficarão profundamente envergonhados com a inércia dos nossos responsáveis pelo património linguístico. Responsáveis a todos os níveis: `os que se desculpam com a falta de meios´ e `os que distribuem mal as contribuições dos eternamente sacrificados´.
O nosso Dicionário da Academia, 2001 (70 000 entradas só, com muitas lacunas importantes) tem a sua utilidade, mas, numa visão de futuro (devia-se ter previsto o que pode estar iminente...), falta-nos a publicação de um vocabulário completo, como o actual da Academia Brasileira de Letras e como foi o da Academia das Ciências de Lisboa de 1940 (que aliás serviu nessa altura de modelo para o léxico brasileiro). A comparação no tempo não é nada edificante...
Continuo a pensar que o acordo não deveria entrar em vigor em nenhum dos países sem um vocabulário ortográfico comum, também respeitando as cláusulas assinadas (que estabeleciam a entrada em vigor do acordo para um ano depois de publicado o vocabulário). Mas ninguém pode impedir um país soberano (extremamente importante e decisivo na língua comum) de modificar a sua ortografia quando entender, não é?
Resta-nos a esperança de que os bons irmãos brasileiros tenham a paciência de esperar por nós. Consta que o tal vocabulário comum está em elaboração em Portugal, mas consta que ainda atrasado. Façamos votos para que os nossos políticos se lembrem também da língua que usam e tomem muito rapidamente