Pergunta:
Sou estudante brasileiro, cursando a graduação em Letras na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Acompanho o sítio Ciberdúvidas e as discussões que lá se passam, há alguns anos. E, certamente, sou mais um dos inúmeros consulentes que têm dúvidas com relação ao uso do hífen de acordo com a Reforma Ortográfica.
Minha dificuldade, em específico, é concernente ao prefixo re-. Li algumas respostas, das quais a 24188, mas, mesmo assim, persiste o problema. O que entendo, na regra b) do 1.º da Base XVI e em seu complemento, dado pelo texto introdutório do 1.º, que indica quais os prefixos e falsos prefixos considerados, é que, apesar de re- não estar relacionado na lista, podemos inferir que nela se encontra, já que há ali um terrível "etc.", que dá à interpretação possibilidades mil. Li também alguns artigos a respeito do Acordo, como o "Guia prático da Nova Ortografia", de autoria do professor Douglas Tufano, publicado aqui no Brasil pela Editora Melhoramentos, e não obtive esclarecimento sobre isso.
Serão aceitáveis as grafias de "re-edição" e "re-educação", por exemplo? Se não, quais são os argumentos que posso utilizar para refutá-las?
Acredito que o senhor pode me ajudar a sanar essas terríveis dúvidas.
Desde já, muitíssimo obrigado.
Resposta:
Os dicionários adequados ao novo AO, que já foram publicados em Portugal, não são unânimes no tratamento do prefixo re-. Um deles regista re-educação, com hífen; o outro, reeducação, sem hífen.
Até hoje tem sido reeducação quer em Portugal quer no Brasil.
Julgo que nesta palavra a mudança para uma grafia com hífen foi uma má interpretação das regras do novo AO [separar com hífen o prefixo quando a sua letra terminal for igual à letra com que começa o segundo elemento, Base XVI, b)]. A tendência da língua é para a aglutinação quando se formam unidades mórficas com prefixos de poucas letras (ex.: re-, de-). Repare-se que na mesma Base do novo AO se prescreve que o prefixo co- seja fundido com o segundo elemento, mesmo que iniciado com o (ex.: coopositor sem hífen, que tem sido até hoje co-opositor com hífen, quer em Portugal quer no Brasil).
Penso que a boa norma de actuação, enquanto não houver um vocabulário oficial para o novo acordo, é seguir estritamente o que está indicado no texto do novo AO. Ora este não menciona o prefixo re-, como muito bem observa; e nada nos autoriza a incluí-lo no “etc.” da norma.
A sua ilustre Academia Brasileira de Letras está a ultimar um Vocabulário Ortográfico para a Língua Portuguesa (VOLP) para o novo AO (publicação em Fevereiro p. f., segundo as últimas informações que possuo). Essa deve ser a sua fonte oficial. Escreva-lhes. Pode ser que obtenha resposta para o seu problema.
Em Portugal, devido à inércia de todas as entidades responsáveis, que se desculpam com falta de verbas e com o facto de termos uma moratória para 6 anos de adaptação, ainda não temos perspectivas