Repito o raciocínio já várias vezes feito em Ciberdúvidas.
As palavras terminadas nas sequências postónicas em apreço ea e ua são esdrúxulas aparentes segundo os linguistas que as consideram sempre na realidade graves, isto é, que consideram estas sequências ditongos crescentes, logo pronunciadas sempre numa só emissão de voz. Dado que as palavras área e água, sendo graves, terminam em a, não necessitariam de acento gráfico. Este só existe porque assim o exige a norma nestes casos de sequências postónicas, ficando as palavras com acentuação como se fossem esdrúxulas.
Para outros linguistas, o ponto de vista é diferente. A pronúncia destas palavras (em fala lenta) implica a diérese dos ditongos (crescentes, logo instáveis): ¦á-re-a¦, e, portanto, neste ponto de vista, estamos em rigor em presença efectivamente de esdrúxulas. Há mesmo quem, dada a sua instabilidade, recuse a existência de ditongos crescentes, não obstante outros colegas linguistas os terem registado nas diversas normas oficiais.
No caso de água, levanta-se um problema contra esta corrente linguística “`contraditongos´ crescentes”. Os dígrafos qu e gu obrigam à ligação fonética sempre com a vogal seguinte (a separação na translineação é proibida). Então a posição dos ditos fica neste caso comprometida, pois o ditongo crescente não pode nestas palavras ser ignorado quando a vogal seguinte é pronunciada (ex.: água, frequente, linguista, etc.).
Quanto à pronúncia de paroxítona e proparoxítona, o Grande Dicionário da Porto Editora recomenda para o primeiro o o som ¦ó¦~[ɔ] e para o segundo o som ¦u¦~[u]. O Dicionário da Academia 2001, controverso na família que se diz linguista, recomenda também esta prolação.
NOTAS.
Em primeiro lugar, quanto à pronúncia, sublinho que não se podem estabelecer nunca regras taxativas. Há quem reclame, por exemplo, que a pronúncia ultimamente indicada nos dicionários se refere à da zona de Lisboa, que tradicionalmente nunca foi considerada padrão no português europeu.
Em segundo lugar, estes desacordos provam bem que em muitos aspectos os estudos linguísticos não são ainda uma ciência, pois no conceito de ciência está a exigência de igualdade de conclusões sobre um determinado assunto, em todo o universo da comunidade científica.
Diferenças neste texto para o novo acordo
Termos para Portugal: efetivamente, aspetos.
Para o Brasil: Sequências, frequente, linguistas, linguística, linguísticos
Note-se que, neste caso particular, as palavras alteradas para o Brasil são em maior número que para Portugal.