D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Tenho uma simples e objetiva pergunta a fazer: segundo as normas de acentuação da língua portuguesa (AO 1990), deveria acentuar-se o nome próprio Gilson? Se não, por quê? Agradecer-lhes-ia, também, se me citassem a origem e o significado do mesmo nome.

Muito obrigado!

Resposta:

Gilson, segundo o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, é escrito sem acento. Deste modo, como as palavras terminadas em n, para serem graves, precisam de acento (ex.: hífen), Gilson, com esta grafia, deve ser pronunciado como palavra aguda. Considerando-a palavra portuguesa, para ser grave, precisaria de acento: *Gílson.

Segundo o mesmo autor, Gilson vem do francês também Gilson, contracção de Gilesson, derivado de Gil(l)e(s).

No francês, «faire gille» significa safar-se, retirar-se, etc.

Não consigo ajudar mais.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Gostaria de saber qual a vossa opinião relativamente à inclusão das palavras coerdeiro e coerdar, no VOLP brasileiro, em substituição de co-herdeiro e co-herdar.

E, já agora, se o h é eliminado em palavras como húmido, em Portugal, por que motivo se mantém em handebol, no Brasil?

Resposta:

Antes de quaisquer outras considerações, faço-lhe as seguintes perguntas:

1. Tem a certeza de que no VOLP brasileiro para o novo AO figurarão as grafias coerdeiro, coerdar?

2. Já foi publicado o VOLP para o novo AO pela sua Academia Brasileira de Letras?

Respondo agora às suas questões:

Em toda a documentação já publicada em Portugal sobre termos para o novo AO, figuram sempre co-herdeiro, co-herdar, ambos com hífen. O novo AO indica que co- se aglutinará sempre, mas não apresenta nenhum exemplo em que essa aglutinação seja acompanhada da supressão do h do elemento seguinte. Julgo que não era esse o espírito dos cientistas que elaboraram o acordo. Em a) da mesma Base XVI escreveram que o hífen é obrigatório quando o segundo elemento começa com h. Na Base II não há nenhum exemplo novo de fusão com eliminação do h.

Se é um fa{#c|}to o que afirma, trata-se duma inovação brasileira do seu VOLP. O que vem sempre confirmar que é indispensável haver um VOLP adequado ao português europeu, como não me canso de pedir.

Quanto a handebol e andebol [do inglês handeball], têm sido legítimas as duas grafias em Portugal. Trata-se de uma dupla grafia já existente, como muitas outras que enfraquecem o argumento daqueles que se opõem ao novo AO, por este aceitar duplas grafias.

Pedimos encarecidamente que nos responda com brevidade às perguntas acima.

Muito obrigado

...

Pergunta:

No programa Cuidado com a Língua! [sobre a linguagem nos tribunais] da RTP, um actor referiu várias vezes a palavra "decibéis". Sempre pensei que o plural da unidade decibel (unidade de medida em na acústica, electrónica, etc.) era "decibels" e referi o caso à produção do programa.

Amavelmente, alertaram-me para duas respostas [ver Textos Relacionados] que o Ciberdúvidas deu sobre este assunto. Como essas respostas me suscitam sérias e legítimas dúvidas, aqui deixo algumas considerações sobre o assunto.

1) Não sou perito em língua portuguesa, mas sou utilizador da unidade "decibel" por profissão. Trabalhei na área do ruído há alguns anos e, embora esteja afastado dessa matéria neste momento, como sou músico, o decibel continua a cruzar-se com o meu quotidiano profissional.

Sempre ouvi dizer que as unidades não têm género, nem plural. Não se diz "uma" grama. Nem se devia dizer, de facto, em rigor, "dez gramas". A unidade é o grama (g). E o grama é uma unidade, não é um adjectivo! Mas, enfim, condescendo que soa um bocado esquisito dizer que uma coisa pesa dez grama...

Quanto aos "decibéis", aí sim, a situação torna-se, na minha opinião, totalmente caricata.

Deixem-me usar aqui alguma teoria...

A unidade de que estamos a falar aqui é o bel. O bel é o logaritmo de uma razão entre os valores de duas variáveis. Na prática, o valor do bel é quase sempre um número enorme, cuja utilização não dá grande jeito.

Daí dividir-se esse valor por dez e daí o decibel, unidade que é usada na prática corrent...

Resposta:

Para clarificação da razão de ser do plural decibéis, solicitámos o esclarecimento aos dois consultores do Ciberdúvidas mais qualificados neste assunto: D’Silvas Filho, autor do minucioso Prontuário, da Texto Editora (nomeadamente nas questões das unidades de medida),  e Maria Regina Rocha, consultora  do programa Cuidado com a Língua!.

 

1 — Resposta de D’Silvas Filho:

 

O Sistema Internacional de Unidades (SI), que Portugal segue, indica que na escrita por extenso as unidades têm plural. A tradução para a língua portuguesa apresenta como exemplos: metros, joules, segundos.

Destinando-se o discurso a falantes portugueses, devemos pluralizar as unidades com as regras gramaticais da nossa língua. Logo, decibéis.

Tratando-se de textos para uso internacional, poder-se-á então usar a linguagem franca na comunidade científica, como defende o consulente Carlos Alberto Augusto.

 

2 — Resposta de Maria Regina Rocha:

 

Dois assuntos importa esclarecer: o...

Pergunta:

Peço imensa desculpa, mas a resposta para a qual me remete[ra]m não responde às questões que eu vos coloquei. Não diz qual o acto oficial que encetou o período de transição por exemplo, desde quando ele está a contar, e se já posso escrever de acordo com o acordo. Ainda que uma parte da minha questão seja abordada nessa resposta, a consulta que vos fiz é variada e tem inúmeros pormenores que não são simplesmente de todo focados.

Nomeadamente, porque é que desaconselham que se comece já a escrever assim, se já estamos no período de transição (se é que estamos, algo que não me foi confirmado)? Na resposta em questão, apenas se diz que o período de é de 6 anos, mas não diz desde quando (dia e mês e ano), nem com que acto, ele iniciou.

É que repare, se já 3 países ratificaram o acordo + 2.º protocolo, e aparentemente isso é suficiente, nesse caso, à partida, o período começaria a contar desde a ratificação. Portugal penso que já ratificou tudo, embora não saiba quando exactamente. No Brasil, é dois anos até vigorar, em Portugal é 6, em Angola por exemplo vigoraria imediatamente após ratificação. Mas isso não me responde se no período de transição está apoiada pelas instâncias a dupla grafia ou só a partir da entrada em vigor é que posso escrever de acordo com o acordo.

Podem por favor clarificar?

Obrigado.

Resposta:

O que Portugal ratificou foi a possibilidade de que o novo AO entrasse em vigor só com a assinatura de 3 países, dispensando a obrigatoriedade de todos assinarem como no Preâmbulo do Acordo de 1990 estava previsto.

Uma vez que já há 4 países que concordam com esta adenda, o novo AO pode entrar em vigor no país agora signatário quando este o entender.

Entrou no Brasil no princípio deste ano. Entrará em Cabo Verde no Verão deste ano. Veio a notícia de que o ministro da Cultura deseja que entre em Portugal antes de Janeiro de 2010.

Enquanto uma nova grafia não entra oficialmente em vigor, a legal é a anterior.

Mesmo durante a moratória (2 anos para o Brasil; pelo menos 6 para Cabo Verde; eram 6 para Portugal, agora já não se sabe), mesmo nesse período, continua válida a grafia que estava em vigor antes de vigorar a do novo AO.

Pode-se ser um grande defensor do novo AO (como eu sou), mas os factos são estes.

Acresce ainda que tenho sérias dúvidas de que o novo AO possa vigorar convenientemente em Portugal sem haver, oficialmente estabelecido, um Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), adequado às variantes recomendadas para o português europeu (PE). Digo isto, porque, na análise daquilo que já está impresso como recomendações de palavras para o novo AO, se verificam discrepâncias inaceitáveis até numa utilização corrente.

No Brasil, o novo AO entra em vigor, mas está em vias de publicação este mês um monumental VOLP PB para o novo AO, até com prosódia, o que nos dá uma imagem do grande amor que os nossos irmãos têm pela sua e nossa língua.

Ao seu dispor

Pergunta:

Gostaria de saber se há alguma sigla ou algum tipo de abreviatura para a expressão «do corrente mês».

Exemplo: «A inauguração terá lugar no dia 20 do corrente mês.»

Desde já agradeço a atenção dispensada.

Resposta:

A abreviatura consagrada para corrente é corr.

Ao seu dispor,