Para clarificação da razão de ser do plural decibéis, solicitámos o esclarecimento aos dois consultores do Ciberdúvidas mais qualificados neste assunto: D’Silvas Filho, autor do minucioso Prontuário, da Texto Editora (nomeadamente nas questões das unidades de medida), e Maria Regina Rocha, consultora do programa Cuidado com a Língua!.
1 — Resposta de D’Silvas Filho:
O Sistema Internacional de Unidades (SI), que Portugal segue, indica que na escrita por extenso as unidades têm plural. A tradução para a língua portuguesa apresenta como exemplos: metros, joules, segundos.
Destinando-se o discurso a falantes portugueses, devemos pluralizar as unidades com as regras gramaticais da nossa língua. Logo, decibéis.
Tratando-se de textos para uso internacional, poder-se-á então usar a linguagem franca na comunidade científica, como defende o consulente Carlos Alberto Augusto.
2 — Resposta de Maria Regina Rocha:
Dois assuntos importa esclarecer: o género e o número das unidades e o plural da palavra decibel.
Primeiro: as unidades de peso, de medida e outras têm género e número, pois são substantivos. Ora os substantivos são palavras que, em português, têm um género gramatical (masculino ou feminino) e flexionam normalmente em número, ou seja, têm singular e plural. Assim, existem unidades que são do género feminino, como a candela e a mole, e as que são do género masculino como é o caso da palavra grama, que designa a unidade de massa do sistema CGS (centímetro, grama, segundo), que é a milésima parte da massa do quilograma-padrão: trata-se de uma palavra do género masculino («o grama»), e tem plural («os gramas»).
Quanto ao bel (B) e ao decibel (dB), não valerá a pena discutir qual é a unidade (se o B, se o dB), na medida em que não é uma unidade que faça parte do SI (Sistema Internacional) de unidades — é uma unidade de uso consuetudinário, digamos assim. O SI, esse sim, define oficialmente as suas unidades, e, por exemplo, a unidade fundamental das medidas de massa é o kg (quilograma), e não o grama, embora o milésimo de um kg (quilograma) continue a ser o grama. Isto para dizer que, se o SI definisse uma unidade, possivelmente definiria o decibel (dB), de que o bel (B) seria o décuplo, dado que o decibel é o mais prático para uso corrente.
Consideremos, então, a palavra decibel. Ela é formada de bel (do nome do físico escocês A. G. Bell) e é do género masculino: «o decibel». Ora as unidades são definidas a nível internacional e, depois, a flexão ou a ausência dela em cada língua tem que ver com a estrutura da própria língua. Em português, a regra da formação do plural das palavras não monossilábicas terminadas em -el é a de fazerem o plural em -is (com a queda do -l), como, por exemplo, anéis, capitéis, carrosséis, corcéis, cordéis, cruéis, dosséis, fiéis, painéis, papéis, pincéis, quartéis, tonéis, móveis ou níqueis. Assim, respeitando a regra de flexão destas palavras na nossa língua, a forma decibéis é o plural adequado de decibel.
Quanto à palavra bel, normalmente não se usa, e muito menos no plural, pelo que a opção bel, invariável, não é desprovida de sentido. Uma informação suplementar: tanto gel como mel têm plural duplo (geles/géis e meles/méis).
Permito-me discordar da opinião do Sr. Carlos Alberto Augusto que Portugal tenha «horror ao rigor científico». Os neologismos simultaneamente estrangeirismos constituem uma área delicada, que exige equilíbrio entre o respeito pela origem da palavra e o ainda maior respeito pela estrutura da nossa língua.