D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber se existe abreviatura para a palavra psicopedagogia e qual é. Por favor!

Resposta:

O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) 2009 da vossa ilustre Academia Brasileira de Letras indica para abreviatura de pedagogia: pedag. e para fisiologia a abreviatura: fisiol.

Como também indica para abreviatura de psicofisiologia: psicofisl., recomendo semelhantemente para psicopedagogia a abreviatura psicopedg.

Como sempre, lembro que, no caso de abreviaturas não oficializadas, é indispensável indicar previamente no texto o que representam.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Não concordo muito que se dê primazia à fonética em detrimento da etimologia, embora assuma naturais evoluções linguísticas e esteja disposto a compreender melhor o polémico "N.A.O." [Novo Acordo Ortográfico]... Ora, mais até do que todas as outras alterações inerentes à entrada em vigor do dito acordo, as que mais "confusão"/relutância/"receio" me causam e para as quais gostaria de obter, se possível, justificação (ou, pelo menos, reflexão conjunta) são:

— Supressão do acento circunflexo nas formas verbais crêem, dêem, lêem e vêem, etc.;

— Supressão do acento agudo na forma verbal pára, tornando-a indistinta da preposição para (!);

— Supressão do acento circunflexo em pêra e pêlo, por ex., tornando ambos os termos indiferenciados das preposições pera (ainda que arcaica) e pelo.

E qual a lógica de manter o acento circunflexo em pôde (do verbo poder) e pôr, distinguindo ambas as palavras da forma verbal pode e da preposição por e, ao mesmo tempo, avançar com a supressão do acento agudo de pára!?

E não será demasiado radical/precipitado alterar completamente a grafia (e consequente imagem mental) das palavras Creem, deem, leem, veem

A supressão do acento não causa qualquer problema neste caso.

Pára e para

Concordo consigo que o acento em pára deveria ter ficado opcional, como em fôrma/forma, amámos/amamos, dêmos/demos.

Pêra/pera, pêro/pero

Não há qualquer inconveniente na supressão do acento, porque as formas que poderiam fazer confusão já não se usam.

Pôde/pode

O acento em pôde é importante para distinguir bem o presente do passado, o que pode (agora e para o futuro, não no passado) ser muito relevante em documentos oficiais.

Assunção, perentório

A queda das consoantes mudas não tem grande mal nestas palavras. Já o mesmo não digo em corrector (de

Pergunta:

Segundo o que já ouvi falar, no Brasil têm sido tomadas medidas para que o gerúndio deixe de ser usado nos casos em que, no português europeu, este é substituído por «a + infinitivo», ou seja, os brasileiros deixariam de escrever e pronunciar «eu estou trabalhando» em troca de «eu estou a trabalhar» como em Portugal. Gostaria de saber se isso é verdade, pois isso seria um grande passo para a unificação "de facto" da língua portuguesa, não só a nível ortográfico.

Por outro lado gostaria de saber se os portugueses poderão continuar a escrever recepção, óptica, decepção ou aspecto, quando o acordo ortográfico entrar definitivamente em vigor, pois os pês e os cês que se escrevem nestas palavras e que são mudos em Portugal pronunciam-se no Brasil.

Resposta:

O novo acordo ortográfico (AO) procura dar alguma uniformização à ortografia; não unifica a língua, pois aceita semântica e sintaxe diferentes nas diversas comunidades linguísticas. Até mesmo na ortografia, torna, no universo da língua, legais grafias diferentes, com o mesmo significado e função.

Quanto ao gerúndio, o Brasil não vai ser obrigado a mudar os seus hábitos linguísticos. Não há nada no novo AO que o prescreva. Nem isso fazia sentido, pois esses hábitos de uso do gerúndio são até dialectais em Portugal.

No que se refere aos termos: recepção, decepção, aspecto, óptica, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, português do Brasil (VOLP PB), publicado pela Academia Brasileira de Letras (ABL), regista efectivamente todas estas grafias, mas só com dupla em aspecto/aspeto. Distingue óptica, ciência da visão, de ótica, ciência da audição. Isto é, não tem “receção” nem “deceção”, que provavelmente serão adoptadas em Portugal. Creio que quanto a óptica, prevalecerá o bom senso em Portugal, de manter também o p, mudo na ciência da visão.

Enquanto o novo AO não estiver em vigor em Portugal, a grafia oficial é a de 1945 e suplementos posteriores. "Quem escrever agora com os termos diferentes do novo AO" está oficialmente a grafar com erros ortográficos, se não prevenir que o faz intencionalmente.

Mesmo quando o novo AO estiver em vigor, durante o período da moratória continua a ser válida também a grafia de 1945. Acabada a moratória (foi de seis anos), será conveniente usarem-se em Portugal ...

Pergunta:

Eu gostaria de saber qual é a palavra que traz ditongo: é paisinho, ou paizinho?

Obrigada.

Resposta:

Paisinho é o diminutivo de país. Como o primeiro i não é tónico, em paisinho não pode ser acentuado; mas o hiato [ɐ-i] ou [a-i], se for essa a pronúncia, mantém-se na ortoépia da palavra, como em país. Da mesma forma se conserva o s, que faz parte da palavra, como em pires/piresinho.

Paizinho é o diminutivo de pai (ditongo [aj]: com consoante de ligação –z- e o sufixo –inho, ou pai mais o sufixo -zinho no critério da Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Gostaria de saber se o apelido "Férrinha" tem ou não acento. É que por norma uso frequentemente este apelido no dia-a-dia e tenho visto escrito das duas formas (com e sem acento). E já agora gostava que a questão levasse em consideração o novo acordo ortográfico em vigor.

Muito obrigado pelo esclarecimento e pelo excelente trabalho deste sítio em prol da tão maltratada língua portuguesa.

Resposta:

Para que Ferrinha tivesse acento no e, seria necessário que a palavra fosse pronunciada como esdrúxula, o que não é o caso.

Eu pronuncio o diminutivo de ferro, ferrinho, com e semimudo, como em que. No entanto, ninguém nos impede de pronunciar a palavra Ferrinha com o e semiaberto, neste caso subtónico, como em pegada ¦pè¦, diferindo de pegada (de pegar), sem necessidade de acentos. São estas as normas em vigor e que se manterão no novo AO: mandam não acentuar nem as subtónicas (como mazinha), nem as homógrafas heterofónicas (como colher ¦ê¦ e colher ¦é¦).

Ao seu dispor,