D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O Acordo Ortográfico de 1990 (AO1990) suprime quase todos os acentos diferenciais.

1 – Posso concluir que a entrada em vigor do AO1990 leva a que se passe a grafar "Meda" e não mais "Mêda"?

2 – Posso concluir que a entrada em vigor do AO1990 leva a que se passe a grafar rio "Coa" e não mais rio Côa?

3 – Posso concluir que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras contém um erro quando inclui a palavra côa, que deveria ser simplesmente "coa"?

Resposta:

1. Rebelo Gonçalves (RG) em 1966 já recomendava que o concelho se grafasse Meda, sem acento. Não foi o novo Acordo Ortográfico (AO) que fez perder o acento à palavra.

2. Não há nada no novo AO que recuse o acento em Côa. Côa, forma verbal e substantivo, com acento, aparece registado em RG e está taxativamente imposto na norma que ainda vigora em Portugal. O acento destina-se a distinguir côa de coa, uma palavra antiga formada pela preposição com e pelo determinante a, forma que até já nem aparece nalguns dicionários.

Não se pode negar a legitimidade do registo côa no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras  (VOLP PB). O que se lastima é que os legisladores do novo AO não tenham tido a coragem de retirar o acento em côa, como fizeram em pólo. Lastima-se também que no VOLP PB não tenha havido a coragem de fazer com côa o que fez com pêra e pêro, palavras às quais a Academia Brasileira de Letras retirou os acentos (que existiam para se distinguirem de formas arcaicas), não obstante também não figurarem, como côa, no texto do novo AO.

Por aqui se vê como são precisas orientações claras para a elaboração do vocabulário...

Pergunta:

Gostaria de clarificar a ortografia destas palavras. Segundo uma vossa resposta, indicam que se deve escrever sem acento. Mas o Dicionário Climepsi refere que glicósido tem acento, o que me leva a pensar que aminoglicósido seguirá a mesma linha.

Agradeço desde já a vossa resposta.

Resposta:

O Dicionário Houaiss regista glicósido. Não regista aminoglicósido (esdrúxula) nem aminoglicosido (grave).

Regista, no entanto, acético e aminoacético, ácido e aminoácido.

Penso que, logicamente, deve ser glicósido e aminoglicósido.

O uso da língua, porém, não se subordina à lógica: os falantes vão escolhendo as palavras que mais se adequam ao fim pretendido. Como já apareceu registado aminoglicosido num dicionário de termos médicos, significa que a palavra também é usada sem acento. Assim, proponho aminoglicósido, como solução preferencial, e aminoglicosido, como variante possível, mas menos aconselhável.

Ao seu dispor,

Pergunta:

Numa reportagem sobre uma casa de chá, um jornalista do sítio lifecooler.com usou os parêntesis da seguinte maneira: «Chá de( )cor», podendo assim ler-se «Chá decor» (pertinente a decoração) ou «Chá de cor». É correcto, este uso?

Resposta:

Uma parentética sem qualquer signo no seu interior é uma parentética vazia. O seu significado objectivo só pode ser esse: o vazio. Figuradamente (se não foi um esquecimento) pode significar que deliberadamente não se incluiu uma informação que poderia lá ter estado.

Como originalidade, têm sido usados os parênteses para na palavra significar uma alternativa de outra palavra, como, por exemplo, (im)possível. Para o duplo sentido que sugere, eu escreveria «chá (de)cor».

Não conheço nada nas normas nem na gramática que nos permita escrever uma abertura de parênteses seguida imediatamente do fecho, sem nada incluído. Assim, não me parece aceitável o agrupamento: *«Chá de( )cor».

Ao seu dispor,

1. Notícias

a) A Academia das Ciências de Lisboa (ACL) anunciou uma nova edição do Vocabulário da Língua Portuguesa, com os neologismos de uso corrente generalizado, incorporados no léxico comum ao longo dos últimos quarenta anos.

Sublinha que este vocabulário será realizado nos termos do Acordo Ortográfico (1990). A publicação será feita pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Pergunta:

1) O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras (ABL) [em português do Brasil (PB)] contém a palavra ahn, descrita como interjeição.

Julgo saber que o h se usa no início de certas palavras por razões etimológicas. Nos dígrafos nh, lh e ch. E no final de certos vocábulos, como ah, convencionalmente. Nenhum dos casos aqui se aplica.

Está ahn corretamente grafado? Muito agradecia resposta e comentário.

2) O Acordo Ortográfico de 1990 indica explicitamente que se grafa Cernache (e logo não Sernache). O VOLP da ABL contém tanto os vocábulos cernachense como sernanchense. Este último termo está corretamente grafado?

3) O VOLP contém o encadeamento vocabular palha de itália (com minúscula). Se fosse com hífen, eu perceberia (palha-de-itália); mas prescindindo-se do hífen não seria antes "palha de Itália" (com maiúscula)?

(Este VOLP da ABL começa a enervar-me.)

Resposta:

Ahn!

Este termo não é novidade no VOLP PB 2009. O Vocabulário da Academia Brasileira de Letras (ABL) de 1998 já tinha esta interjeição.

A ideia brasileira terá sido utilizar para a exclamação uma grafia diferente de hã? usada na interrogação. A ABL é soberana na adopção das variantes adequadas à sua comunidade linguística.

Cernache e cernachense

As grafias corre{#c|}tas  são Cernache e cernachense. "Sernanchense" não está no VOLP PB, como erradamente afirma.1 O que o VOLP PB regist{#|r}a é sernancelhense ou sernancelhano, de Sernancelhe.

Palha-de-itália

Concordo plenamente consigo. Houve no VOLP PB 2009 a preocupação de suprimir o hífen nesta locução para satisfazer o Acordo de 1990. Caíram, porém, numa incoerência. Em casa de jantar, por exemplo, não há qualquer ambiguidade de que se trata dum compartimento onde se janta; mas em palha de itália pode supor-se que se trata de palha que só exista em Itália.

Não é a minúscula no top{#ó|ô}nimo que desfaz a ambiguidade; aliás, isoladamente o nome próprio deveria ser escrito com maiúscula inicial, e a expressão tem um erro ortográfico, mesmo à luz do novo AO. Dever-se-ia ter adoptado palha-de-itália. Então, sim, a expressão não representa o sentido positivo de cada uma das suas palavras, mas uma palha especial, semelha...