D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Há alguma abreviatura para a palavra menina?

Resposta:

Não encontrei tal abreviatura entre as muitas dos actualizados vocabulários ortográficos da língua portuguesa brasileiro ou da Porto Editora. O brasileiro sugere M.lle (mademoiselle) para senhorita. Eu sugiro: M.na para menina.

Lembro, como sempre, que as abreviaturas devem ser usadas com cuidado, utilizando-se só as consagradas. Todas as outras, se não houver uma legenda separada que as explique e na primeira vez que forem usadas num texto, devem ser explicadas com o seu completo desenvolvimento por extenso e colocadas depois entre parênteses [ex.: Sociedade da Língua Portuguesa (SLP)].

Ao seu dispor,

Pergunta:

No enunciado de um problema matemático consta a frase: «Qual é a fração que subtraída de 1/5 é igual a 1/6?», qual é a interpretação correta?

1 – a fração incógnita menos 1/5 seria igual a 1/6 ou

2 – 1/5 menos a fração incógnita seria igual a 1/6?

No livro texto de Matemática da 7.ª série que minha filha cursa, a resposta correta é a baseada na segunda hipótese, mas achamos que a primeira é a correta. Se houver uma única forma realmente correta, gostaríamos muito de ter uma fundamentação gramática e técnica. Desde já agradecemos.

Resposta:

Questão: «Qual é a fracção que subtraída de 1/5 é igual a 1/6?»

Esta pergunta aplicada a valores numéricos tem um erro lógico-conceptual. Só seria legítima se a incógnita pudesse ter várias soluções e tivéssemos de escolher condições para a definir. Por exemplo: «Qual é o carro que visto ao longe, e na aparência, é igual a este?»

Ora, este raciocínio não pode ser aplicado a valores numéricos concretos.

A pergunta está mal formulada, no descuido que muitas vezes se tem com a necessidade de precisão na mensagem escrita.

Existe ambiguidade na expressão «é igual a». A palavra igual pode significar: «ser idêntico» (ex.: «esta cor é igual a essa») ou o sinal = , que separa dois membros duma equação algébrica, com o sentido de que se tem o mesmo resultado numérico nos dois membros.

É possível considerar-se correcta a hipótese 1, se dermos a igual o significado de «idêntico». Qual é a fracção que subtraída de 1/5 é idêntica a 1/6? Resposta: a fracção idêntica a 1/6 é 1/6... Subtraído ou não de 1/5, o número 1/6 é igual sempre a 1/6.

Atendendo, porém, ao valor do intelecto humano, que depreende normalmente sempre bem qual o sentido exacto pretendido numa frase ambígua, a pergunta correcta é a 2. Só a chicana política é que costuma aproveitar-se das ambiguidades óbvias para baralhar argumentos num contraditório.

De facto, o raciocínio automático é: como a pergunta fica sem justificação para existir, porque deixa de haver incógnita, então, se foi feita, é porque há uma incógnita, que é diferente de 1/6 (lucubração de nível já elevado, que exige múltiplas associações cerebrais, nem sempre ainda possíveis nas limitações ...

Pergunta:

Conforme Base XV 1.º) do novo Acordo Ortográfico, em Obs.: «Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, paraquedas, paraquedista, etc.»

Ora, no Portal da Língua Portuguesa aparece a indicação seguinte: Ortografia Antiga (PE), Ortografia Antiga (PB) e Ortografia Nova, respectivamente: pára-quedas, pára-quedas e pára-quedas (tal como para-quedismo e para-quedista).

Por outro lado, pesquisando no vocabulário do mesmo portal, encontra-se paraquedas com a indicação de «variação ortográfica de para-quedas» (mas, assim, deixa de estar conforme com a Base XV, creio).

[...]

Gostaria do vosso comentário sobre a grafia correcta a adoptar.

Obrigado.

Resposta:

Tenho escrito em Ciberdúvidas (e numa linha geral um pouco semelhante à do Vocabulário Ortográfico da Língua PortuguesaVOLP — brasileiro) que sigo nos meus trabalhos, em resumo, os seguintes critérios no estabelecimento dos vocábulos para o novo Acordo Ortográfico (AO):

1 Respeito estrito pelo texto do Acordo de 1990. Variantes diferentes serão “não preferenciais”.
2
Coerência nas soluções adoptadas, sem contrariar 1.
3 Atender à tradição naquilo que não estiver taxativamente regulamentado no novo AO (e naquilo que se depreender dos exemplos escolhidos).
4 Simplificação no que for francamente útil e não colidir com os critérios anteriores.
5 Unidade, atendendo aos vocábulos que foram escolhidos no VOLP brasileiro, sem sacrificar as nossas variantes peculiares (ex.: húmido para Portugal, etc.).

Destinado a uma publicação com um anexo didáctico pormenorizado sobre o que muda e o que fica sem alteração no novo AO, já estudei este problema do “paraquedas” e do “paraquedista” estabelecidos no texto do novo AO. O que tenciono propor será (texto entre aspas):

«Paraquedas: O novo AO (e seguindo o critério do respeito pela tradição) não exige que sejam alterados os compostos com o antepositivo para- (sem acento é agora também a grafia da forma verbal no novo AO), mantendo o hífen: para-brisas,

Pergunta:

Sou autora de uma gramática da língua portuguesa para italianos. Estou a fazer um folheto, a pedido da editora Zanichelli, para inserir em cada volume sobre o acordo ortográfico. A minha dúvida está na supressão do acento gráfico diferenciador nas paroxítonas na flexão de alguns verbos. Assim: amámos perde o acento? pode/pôde?

E a grafia de crê,, , crêem, lêem, vêem? Continua?

Obrigada pela atenção.

Resposta:

No pretérito perfeito do indicativo dos verbos com terminação –ámos, passa a ser facultativo o acento: -ámos/-amos.

Continua a ser obrigatório o acento no pretérito em pôde, diferentemente do presente pode.

As terminações verbais –eem deixam de ter acento. No entanto, as terminações oxítonas (agudas) continuam a tê-lo: crê, , , descrê, relê, revê.

 

Cf.O acento diferencial

 

Ao seu dispor,

Pergunta:

Sei que este assunto já foi abordado, mas gostaria ainda de obter alguns esclarecimentos. Uma vez que CD não é bem uma sigla como as outras pois já se instalou no uso oral como um nome, será legítimo escrevê-la como palavra ("cêdê") e pluralizar esta ("cêdês"), sobretudo na ausência de outros indicadores para o seu entendimento no plural? Por exemplo, «aquela mesa era uma confusão: cadernos, papéis, pacotes de batatas fritas vazios, CD...». «CD» não funciona; "CDs" ou "CD's" não é aceitável. Usar "cêdês" entre aspas? Optar pela expressão discos compactos? Neste caso, não deveria formar-se uma palavra composta ("discos-compactos"), atendendo a que qualquer disco de madeira ou de metal é compacto?

Resposta:

CD é a sigla inglesa de «compact disc». O VOLP da Academia Brasileira de Letras grafa com pontos: C.D.

Não é um siglóide (que é lido como uma palavra), pois pronuncia-se letra a letra: cê, dê

As siglas, como muito bem observa, não se pluralizam com s; pluralizam com o determinante: «os CD».

Por outro lado, a palavra "cêdê" como acrónimo seria ilegítima, pois teria dois acentos circunflexos.

O contexto normalmente caracteriza o sentido da abreviatura CD, mas no caso em que possam surgir dúvidas é conveniente usar o extenso: disco-compacto [ordem natural na língua portuguesa: Nome (N) Adjectivo(A)].

Quanto ao hífen, há controvérsia. No meu ponto de vista, disco-compacto enquadra-se na minha classificação de “unidade semântica com um sentido particular no geral” (como o de cor-de-rosa em rosas de várias cores). Qualquer disco pode ser um disco compacto, mas um disco-compacto é um CD.

A propósito, reconheço que existe uma grande confusão quanto ao emprego do hífen; e as escolhas arbitrárias de alguns estudiosos não têm ajudado nada. Não se percebe por que razão «o azul escuro» precisa de hífen (associação NA) ou alguns dicionários grafam *cor-de-laranja (que é uma cor bem definida e, logo, uma locução que não precisa de hífenes, como sala de jantar). Por outro lado, surgem agora ideias peregrinas de eliminar os hífenes em todas as ligações NA ou nas ligações por preposição; mas “cair em saco-roto” não significa que se caia num saco; ou uma quest...