D´Silvas Filho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
D´Silvas Filho
D´Silvas Filho
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D´Silvas Filho, pseudónimo literário de um docente aposentado do ensino superior, com prolongada actividade pedagógica, cargos em órgãos de gestão e categoria final de professor coordenador deste mesmo ensino. Autor, entre outros livros, do Prontuário Universal — Erros Corrigidos de Português. Consultor do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Não descobri se esta dúvida, quiçá muito básica, já estava respondida noutra entrada:

O "século XVIII" e o "século de setecentos" são o mesmo, não são?

(e por aí adiante, "séc. XVI"; "quinhentos"...)

Agradeço desde já.

Resposta:

O Dicionário Houaiss regista para a entrada setecentos:

«O século XVIII, considerado principalmente a partir dos acontecimentos artísticos, literários, filosóficos, que nele ocorreram.»

Ao seu dispor,

Pergunta:

O que justifica a separação e acentuação gráfica de "tu-iu-iú"? Por favor, sejam minuciosos.

Grato.

Resposta:

Compreende-se a sua dúvida. De facto, é frequente as palavras terminadas em u não precisarem de acento para serem oxítonas (ex.: peru). O que acontece é que, sem acento gráfico, as palavras terminadas em -iu são agudas, mas com tónica num ditongo decrescente (ex.: partiu, reuniu, etc.).

Ora, segundo os dicionários portugueses, o nome da ave (provavelmente de raiz onomatopaica) repete o som iú-iú [tu-ju-ju]. Então, para que o último encontro vocálico seja um ditongo crescente, e não decrescente, é necessário o acento no u.

Ao seu dispor,

 

N. E. (24/04/2024) – A divisão silábica apresentada pelo Portal da Língua, pela Infopédia e pelo Dicionário Michaelis é tui.ui.ú.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a regra de aplicação dos prefixos di- e tri- antes e depois do novo Acordo Ortográfico, nomeadamente nas palavras "di-hidrato" ou "tri-hidrato", ou seja, quando precedem um palavra iniciada por h e, já agora, também vogal.

Obrigada.

Resposta:

Antes ou agora no novo Acordo Ortográfico (AO), é obrigatório o hífen para os compostos nos quais o segundo elemento começa com h. Assim: di-hidrato, tri-hidrato).

Quanto aos outros compostos com di- e tri-, aglutinam no novo AO quer com consoante quer com vogal, como sempre foi. Aparecem vocabulários ortográficos a separar o prefixo ou antepositivo antes de palavra que começa com i, mas é uma má interpretação do AO, pois estes elementos átonos monofásicos, como re-, pre-, pro-, vão aglutinar num vocabulário feito com discernimento (repare-se que nesse vocabulário se regista di-iodeto, com hífen, mas o mesmo regista diibridismo, sem ele...). Nem sequer se deram ao cuidado de ver que di- e tri-, como re-, pre-, pro-, não figuram na lista do 1.º da Base XVI do AO.

Um dos problemas do novo AO é nem sempre ter sido suficientemente pormenorizado nas exclusões às regras que estabeleceu, o que tem dado origem a uma baralhada de más interpretações, como aconteceu logo no início nas separações "re-e" (ex.: *re-eleito), ainda no correcctor ortográfico que uso, e já eliminadas nos recentes vocabulários para o novo AO.

Pergunta:

Consultei muitas das respostas do Ciberdúvidas quanto à questão das siglas, mas nelas não encontro resposta à minha dúvida.

Vejo com alguma frequência em textos portugueses frases como, por exemplo, «O programa Inglês para Fins Académicos (EAP) visa...» ou «... tendo trabalhado largos anos no Centro Científico de Investigação (SCI)...». Obviamente que as siglas utilizadas são as dos nomes em inglês (English for Academic Purposes) e (Scientific Center of Investigation), e a minha pergunta é: é correcto traduzirmos o nome da instituição para português e mantermos as siglas na língua de origem? Não se deveria alertar, de alguma forma, o leitor de que a sigla provém do nome em inglês?

Resposta:

Claro que devemos usar as siglas correspondentes às designações na língua oficial do país em que vivemos. É nesse espírito que em Portugal se recomenda, por exemplo, OTAN para sigla de Organização do Tratado do Atlântico Norte) e não NATO, que é a sigla de North Atlantic Treaty Organization.

A verdade, porém, é que a sigla correspondente à designação em inglês está generalizada em Portugal.

Nesta globalização em que presentemente vivemos, é preciso atender ao facto de que o inglês é frequentemente a língua franca. Assim, devemos ser tolerantes com as siglas consagradas em inglês. Quando se tiver de usar uma sigla em inglês, recomenda-se que se escreva entre parênteses a designação em inglês correspondente. Se houver também já generalizada designação diferente em português, e só na dúvida de a em inglês poder não ser conhecida, pode-se neste caso acrescentar a portuguesa; ex.: NATO (North Atlantic Treaty Organization: Organização do Tratado do Atlântico Norte).

 

CfA Folha,  Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias

 

Ao seu dispor,

Pergunta:

É de nosso conhecimento que os ditongos abertos "ói" e "éi" não possuem mais acento agudo nas palavras paroxítonas com o Novo Acordo Ortográfico. Porém, na última semana, deparei-me com um texto na mídia escrita (jornal) com a palavra "farois" escrita sem acento.

Ora, se somente as palavras paroxítonas que possuem ditongo aberto "ói" e "éi" perderam o acento, então há um erro de grafia nessa palavra citada, pois ela é uma oxítona.

Observei essa palavra escrita dessa forma no jornal e em um programa de televisão também.

A pergunta que faço: essa palavra "farois" é uma exceção à regra, ou seja, mesmo sendo oxítona, também perdeu o acento?

Um grande abraço!

Resposta:

O texto do novo Acordo Ortográfico é muito claro (Base VIII, 1.º d):

«Acentuam-se com acento agudo:

[...] As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi , -éu ou -ói, podendo estes dois últimos ser seguidos ou não de -s». Dá, entre outros, como exemplo, heróis.

Concluído, deve escrever-se faróis. Sem acento está errada; deve ter sido uma extrapolação indevida da supressão do acento no ditongo oi das paroxítonas.

Ao seu dispor,