Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o significado da palavra “encanitante”? Vi recentemente a palavra num artigo do Vasco Graça Moura no Diário de Noticias : « (...) o assaz encanitante Dr. Gilberto Madail (...)»

Resposta:

Encanitante é um adjectivo derivado por sufixação (sufixo -ante; cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág. 101) do verbo encanitar, que tem as seguintes acepções: «sofrer dos nervos», «irritar-se» e «irritar» (por exemplo, «ora, não me encanites!»; ver Caldas Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, edição brasileira, Rio de Janeiro, Editora Delta, 1958 e José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores, 1991).

Pergunta:

A seguinte frase – «Certo dia, resolveu divertir-se» – é simples ou complexa e porquê?

Resposta:

A frase é complexa. A oração subordinante é «Certo dia, resolveu», e a subordinada substantiva completiva é «divertir-se». Observe-se, porém, que esta análise não é evidente, porque se poderia comparar os verbos resolver, decidir ou deliberar com o verbo querer, que evidencia um comportamento muito semelhante ao dos auxiliares temporais, aspectuais e modais. A classe constituída por querer, desejar, tentar e conseguir (na qual também se incluem decidir, resolver e deliberar) não tem um comportamento homogéneo), mas podemos caracterizá-la pelo facto de todos os seus membros seleccionarem um complemento de infinitivo não flexionado, cujo sujeito remete para o mesmo indivíduo que o sujeito desses mesmos verbos (ver Anabela Gonçalves e Teresa da Costa, em (Auxiliar a) Compreender os Verbos Auxiliares, Lisboa, Edições Colibri, 2002, pág. 83): (1) o João quer enganar o mundo (2) *o João quer a Rita enganar o mundo Em (1), a frase é gramatical, porque o sujeito do infinitivo se refere à mesma pessoa que o sujeito de «quer», isto é, «o João». Em (2), a sequ[ü]ência é agramatical por violar a referida condição. Contudo, constata-se que o verbo querer forma um predicado complexo com o infinitivo que selecciona, porque, tal como andar (auxiliar aspectual) e poder (auxiliar modal), os pronomes átonos podem associar-se quer a estes verbos quer aos infinitivos que os completam: (3) o João anda-te a enganar/o João anda a enganar-te (4) o João pode-te enganar/o João pode enganar-te (5) o João quer-te enganar/o João quer enganar-te. Os pares apresentados em (3), (4) e (5) revelam que o pronome átono (isto é, o clítico te) tanto pode acompanhar o infinitivo como o verbo mais à esquerda...

Pergunta:

Eu sou estudante de graduação.

O que é a fonotáctica e o que significam os sinais < e > nela?

Resposta:

No Dicionário de Termos Linguísticos, fonotáctica define-se do seguinte modo: «Termo usado em fonologia para referir a organização específica, ou o comportamento táctico, de sons ou fonemas que podem ocorrer numa língua. Em português, por exemplo, sequências consonânticas tais como /fs/ e /spm/ não ocorrem em posição inicial de palavra. Estas restrições podem ser declaradas em termos de regras fonotácticas.»

Tanto quanto sei, os parênteses em ângulo não são específicos nem pertencem à fonotáctica. São usados para representar a forma gráfica das palavras, digamos que em oposição aos parênteses rectos, utilizados para representar a sua pronúncia; p. ex.: e ['mũdu].

Pergunta:

Escreve-se “Casamansa” ou “Casamança”?

Qual a grafia que deve adoptar-se em relação a este topónimo do Senegal?

Obrigada.

Resposta:

José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico-Etimológico da Língua Portuguesa, regista Casamansa como designação de um rio que serve de fronteira entre o Senegal e a Guiné-Bissau (África Ocidental). Além disso, é o nome da zona senegalesa actualmente dividida nas regiões de Ziguinchor e Kolda, compreendidas entre o sul da Gâmbia e o referido rio.

O Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves também inclui a forma Casamansa. E mais recentemente, o Dicionário Temático da Lusofonia (direcção e coordenação de Fernando Cristóvão, Lisboa, Texto Editores, 2005) dedica um artigo a Casamansa, grafando este nome com s na última sílaba. A forma “Casamança” não é, portanto, correcta, devendo ter surgido por influência do francês “Casamance”.

Leio algures: «[...] fomos assistir a um dos mais carismáticos concertos deste início de Outubro John Cale ex-Velvet Underground no CCB grande auditorio. Meia casa com um som rock bastante energético que nos levou a crer que este SR. 1 ainda tem garras para tocar guitarra e sintetizador.»
     Quem consulte o Dicionário da Academia das Ciências de ...