Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Agradecia que me informassem se a palavra “Caribe” e “Caraíbas” têm o mesmo significado e qual é a mais correcta. Vejo que existem referências a «Mar do Caribe» e «Mar das Caraíbas».

Resposta:

Rebelo Gonçalves, no Vocabulário da Língua Portuguesa, de 1966, só regista caraíba, adjectivo dos dois géneros, e Caraíbas, etnónimo masculino que se aplica ao povo indígena das Antilhas e topónimo feminino nas designações ilhas Caraíbas e mar das Caraíbas. José Pedro Machado, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, só inclui caraíba como adjectivo e substantivo, mas no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa (3.ª edição, de 2003) regista igualmente a variante Caribes. Ambos os termos remontariam à palavra utilizada pelos Caraíbas para designar os invasores espanhóis, pois que significa «estrangeiro» (ibidem). Os espanhóis transformaram o termo em designativo das populações que o usavam. Ainda para José Pedro Machado (Dicionário Etimológico), caraíba teria sido recebido do espanhol.

Mais recentemente, o mesmo José Pedro Machado, no Grande Vocabulário da Língua Portuguesa (2001), regista caraíba [adjectivo e substantivo], Caraíbas (etnóni...

Pergunta:

Gostaria que me ajudassem na resolução desta dúvida. No Dicionário de Terminologia Linguística surge a forma separada com um hífen. Nos dicionários, a palavra está aglutinada. Qual a forma correcta?

Resposta:

Trata-se de um caso de composição morfológica (também chamada "erudita"), em que participa o elemento antepositivo neuro- (de origem grega, como o significado de «nervo» ou «sistema nervoso»). Compostos com este elemento dispensam o hífen. No entanto, quem consulte o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, encontrará neuro-epitélio, com hífen, ao lado de neuroembrioma, sem ele.

O Dicionário Houaiss regista neuroepitélio, repondo o uso geral de neuro- sem hífen.

De qualquer maneira, quer o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, quer o Dicionário Houaiss consagram a forma neurocirurgia. Sendo assim, só se pode concluir que a forma “neuro-cirurgia”, que consta, de facto, da lista de exemplos do subdomínio de morfologia (Num. Linguística B2.4.1.2.1.) do Dicionário de Terminologia Linguística, é incorrecta.

 

N.E. – Com a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990, passou a prevalecer a regra estabelecida na

Pergunta:

Qual a origem do nome “Judite Labandeiro”?

Resposta:

Segundo José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Judite remonta ao nome hebraico ‘Iehudith’, «judia» (o autor afirma haver outras significações atribuídas, sem as enumerar), através do latim ‘Judith’. É, pois, um nome relacionado com Judá, em hebraico ‘Iehudah’, «louvor a Deus», nome de um dos filhos de Jacob. Está também ligado a Judas, ‘Iehudah’, pelo grego ‘Ioúdas’, em que o -s é desinência grega (idem, ibidem).

Em relação a Labandeiro, não foi possível encontrar a sua origem, mas a forma “Lavandeira”/“Labandeira” é apelido galego. Pode significar duas realidades: uma ave ou várias aves conhecidas como lavandeiras também em Portugal; ou uma lavadeira. O apelido português Labandeiro tem outra variante, Lavandeiro, formas talvez simplesmente relacionadas com o ofício de lavandeiro ou lavadeiro, muito embora estes vocábulos tenham ainda outras acepções («cesto, «fossa para depositar água pluvial», «pequeno mamífero»; cf. José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa). Mas tudo isto são conjecturas.

Pergunta:

Um dos reis magos chama-se Melchior ou Belchior? Já ouvi as duas e não sei qual a mais correcta!

Resposta:

O nome referido na pergunta tem duas variantes, Melchior e Belchior, forma que parece ser mais popular, pelo menos, em Portugal. José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, regista as duas variantes e atribui-lhes origem hebraica, mas não lhes dá um significado preciso, apenas as relacionando com a ideia de «rei».

Pergunta:

Qual é apalavra primitiva de desfiar? Será uma palavra derivada por prefixação e sufixação partindo do princípio de que a palavra primitiva é fio?

Resposta:

A base (ou palavra primitiva) de desfiar é fiar. É verdade que fiar deriva, por sua vez, de fio, mas os processos de prefixação e sufixação que resultam na formação de desfiar não são simultâneos. Se o fossem, estaríamos perante mais um dos casos (controversos) de derivação parassintética, que corresponde à junção simultânea de um prefixo e de um sufixo a uma base; p. ex.: avermelhar deriva de vermelho por prefixação e sufixação simultâneas, já que não deriva nem de “vermelhar” nem de “avermelho” (ver Margarita Correia e Lúcia San Payo Lemos, 2005, Inovação Lexical em Português, Lisboa, Edições Colibri, págs. 32/33).