Pergunta:
Tenho algumas dúvidas quanto ao processo de formação das palavras biforme e (o)/(a) caça.
Penso que a palavra biforme é formada por composição morfológica, sendo que tanto bi- como -forme são radicais (bi- = «duas» / -forme = «formas»), e seguindo o exemplo de cruciforme (cruci- = «cruz» / -forme = «forma»; «em forma de cruz»). No entanto, algumas gramáticas apresentam bi-/bis- como prefixo de origem latina, apresentando como exemplos bisneto, bimestral, o que me leva a duvidar do processo de formação da palavra biforme. Assim sendo, biforme é um composto morfológico ou palavra derivada por prefixação, ou pode-se considerar os dois processos?
Quanto à palavra caça, a dúvida consiste na expressão «o caça». Esta palavra surge descontextualizada num exercício, pelo que creio que o raciocínio de quem o resolve pode levar à consideração de dois processos distintos de derivação, uma vez que tanto a conversão como a derivação não afixal permitem a formação de nomes a partir de verbos. Como classificar o processo da palavra «(a) caça» no par de frases «ele caça muito bem» e «a caça de elefantes é proibida» e da palavra «(o) caça» no par «ele caça muito bem» e «o caça voa a alta velocidade». A minha primeira lógica é classificá-los como conversão, mas serão ambas formadas da mesma forma? Se não, como explicá-lo a alunos de 8.º ano?
Obrigada pela atenção.
Resposta:
Os dois exemplos em questão levantam alguns problemas de análise que podem não ser fáceis de apreender para alunos mais jovens.
Sobre o elemento bi- não há consenso, mas tende-se a considerá-lo entre os prefixos, e, portanto, biforme é uma palavra derivada por prefixação (cf. resposta "Bi- e tri- entre prefixos e radicais").
No segundo caso, considera-se caça, no feminino, como um derivado não afixal (na terminologia mais antiga, um derivado regressivo) de caçar. No masculino, é o resultado elíptico de um composto ou de uma expressão composta lexicalizada: «o [avião de] caça».
Em suma, os vocábulos em apreço não serão os mais adequados para alunos do 8.º ano estudarem morfologia, justamente pelos vários aspetos que a sua análise envolve que estão bem identificados pela consulente. Aconselha-se a seleção de exemplos de análise mais consensual, como minimercado, palavra derivada por prefixação, e cantar/«o/um cantar», que é um caso de conversão.