Pergunta:
Tenho dúvidas quanto à mais adequada colocação do hífen.
Em vez de escrever «Por toda a vida poder amar-te», eu gostaria de saber se poderia escrever: «Por toda a vida poder-te amar», ao que me foi respondido que sim.
Entretanto, surgiu-me uma nova dúvida: Nesse último caso, o sentido não ficaria diferente, já que o te, originalmente, refere-se a amar («amar a ti») e não a poder?
No Brasil, ele seria escrito «por toda a vida poder te amar», ou seja, em vez de uma ênclise em poder, seria uma próclise em amar.
Não sei se, gramaticalmente, essa colocação já seja "pacificamente" aceita como possível, embora seja bastante difundida na prática. Ela pareceu-me mais apropriada já que, ao que me parece, amar-te seria uma oração subordinada substantiva reduzida de infinitivo, em vez de formar uma locução verbal com poder. A mesma dúvida aparece em «tentar servir-te», etc.
Mais uma vez, grato pela atenção!
Resposta:
Em Portugal, estão corretas as duas maneiras de colocar o pronome: «poder amar-te» e «poder-te amar». No Brasil, é corrente colocar o pronome antes do infinitivo sem hífen: «poder te amar». Para melhor contextualização desta resposta, recomenda-se a leitura dos Textos Relacionados que a acompanham nesta página.
O uso do hífen com os verbos auxiliares é um recurso gráfico que decorre do funcionamento dos pronomes átonos em Portugal, o qual tem importantes diferenças quando comparado com os usos e as normas do Brasil.
A possibilidade de associar o pronome ao auxiliar (poder) e não ao verbo principal (amar, com o qual se relaciona semântica e logicamente) deve ser bastante antiga na língua, porque podem recolher-se casos em que o pronome aparece antes do auxiliar, o que sugere que era possível fazer "subir" o pronome átono (também chamado clítico) para junto do verbo auxiliar, como a seguir se atesta com os auxiliares ir ou poder (os pronomes estão sublinhados, e os auxiliares, em itálico):
(1) «E meu irmãão Almançor a Sevylha me foy casar com hûû rey muy poderoso e de muy grande prez. » (Crónica Geral de Espanha de 1344, in Corpus do Português)
(2) «Pera deante me pode derribar anteparando [...].» (D. Duarte, Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela, c. 1438, ibidem).
Nos exemplos acima, em português medieval, o pronome me aparece antes do verbo auxiliar – foy (foi) em (1), e pode, em (2) –, e não depois do verbo principal (casar, derribar). No p...