Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Pergunto como se designa o executante da circuncisão.

Obrigada

Resposta:

O dicionário Aulete Digital regista duas formas com o significado em apreço: circuncidador e circuncisador.1 Outros dicionários consultados (Dicionário Houaiss, dicionário da Academia das Ciências) não registam este termo.

1 Agradecemos ao consulente André Pires Lavado (Samora Correia, Portugal) as indicações relativas estes dicionário.

Pergunta:

Em textos das ciências exatas e biológicas, é comum o uso do termo quali-quantitativa para definir, por exemplo, uma análise que seja qualitativa e quantitativa. Gostaria de saber se é correto o uso deste adjetivo composto: quali-quantitativa.

Obrigada!

Resposta:

Considero que "quali-" surge por truncação de qualitativo, e em "quali-quantitativo" parece comportar-se como um pseudoprefixo. Mas, mesmo que assim seja, não se justifica o uso do hífen, uma vez que não há  sequência de vogais, nem de h, nem de r ou s. Sendo assim, a grafia correcta deveria ser "qualiquantitativo".

Digo «deveria», porque a forma "qualiquantitativo" ainda não está dicionarizada, e é possível que muitos lexicógrafos ofereçam certa resistência na sua adopção. De qualquer modo, é certo que a palavra está a ser usada nos meios científicos, associada a substantivos como abordagem, análise ou avaliação.

Pergunta:

A forma "refractoviedade" é possível, no sentido de «refractária ao tratamento»?

Resposta:

A palavra é impossível. De refractário, no sentido de «que não se ressente de acções exteriores», «resistente», o mais que se pode derivar é refractariedade, que está atestado no Dicionário Houaiss, mais precisamente no artigo dedicado ao elemento de composição frang-.

Pergunta:

Com a chegada do mês de Setembro, é muito comum ler em jornais a expressão "reentré" ou "rentré", porém esta palavra aparece das duas formas, o que me suscita confusão e dúvidas. Qual é a forma correcta de escrever este estrangeirismo?

Obrigada.

Resposta:

Rentrée. Trata-se de um galicismo que é o feminino substantivado de rentré, particípio passado do verbo rentrer, «voltar, regressar (a casa)». Digamos que rentrée é, literal e etimologicamente, o mesmo que reentrada, mas em português corrente designa a noção de «regresso de férias».

Pergunta:

«Modéstia à parte...»

Está correcto? Se não, como deve ser?

Grato.

Resposta:

É mesmo assim como escreve, como se dissesse «pondo a modéstia de lado (= à parte)». À parte é uma locução ou expressão. Aparte é outra coisa: constitui uma só unidade lexical, isto é, uma só palavra, e significa «esclarecimento, comentário, confidência».