Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Por favor, gostaria de saber o diminutivo de tórax. Seria "toraxzinho"?

Obrigada pela ajuda.

Resposta:

A palavra tórax poderá ter como diminutivo toraxinho e toraxito. Quanto às formas com os sufixos -zinho e -zito, "toraxzinho" ou "toraxzito", embora pronunciáveis, elas encontram alguma dificuldade no plano da aceitabilidade ortográfica porque a sequência <xz> não ocorre na grafia das palavras portuguesas. Poderá propor-se "toraxezinho", mas isso é supor que haja formas com a inserção (epêntese) de um e, por exemplo, "tóraxes". Note-se que substantivos de origem grega como tórax ou clímax ou não têm marca morfológica de plural em português europeu (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora) ou têm essa marca em português do Brasil mas com a passagem do x a c: tórax > tóraces. Isolando exactamente o radical torac- como variante de tórax, parece então que "toracinho" e "toracito" têm configurações mais adequadas. Mas, sabendo que tórax é uma palavra culta, é de prever que os seus diminutivos raramente ocorram por serem mais adequados ao registo familiar.

Pergunta:

Qual a origem e o significado das expressões populares «Não há cá pão para malucos» e «Brincamos ou colamos cartazes»?

Obrigado.

Resposta:

Não encontramos as expressões em apreço nos dicionários consultados. A linguagem que os constitui não tem as características arcaicas de tantas e tantas expressões idiomáticas. Por isso, calculo que sejam relativamente recentes no português europeu, sobretudo por o uso de «colar cartazes» indiciar uma actividade que marcou a democratização da vida política portuguesa depois do 25 de Abril de 1974.

Pergunta:

Tem tradução para o português o imposto ou taxa feudal medieval chamada formariage? Faço esta pergunta pois a palavra retromencionada parece ser francesa.

Aliás, este tributo era pago pelo servo, quando este se casava, ao senhor feudal, ou era pago pelos servos ao senhor feudal por ocasião do casamento deste último?

Sempre muito grato por tudo.

Resposta:

Apenas encontro em páginas da Internet um termo alternativo a formariage, de facto, de origem francesa: consórcio. Tais páginas são relativas a materiais didácticos sobre o período feudal e não constituem a fonte mais autorizada para a identificação do termo procurado. Fica aqui feita a ressalva, na expectativa da recolha de mais elementos sobre a palavra em apreço.

Pergunta:

Qual é a etimologia das palavras atlântico, jónico, mar, mediterrâneo e oceano?

Obrigado!

Resposta:

atlântico

Deriva de Atlas, que na mitologia grega era o deus que sustinha as colunas do mundo e detinha o oceano. Em grego, o substantivo era Átlas, Atlantos, que se adaptou ao latim como Atlas, Atlantis, do qual se formou o adjectivo que é hoje Atlântico. Hoje, Atlas é também o nome da cadeia montanhosa que se estende ao longo do Norte de África, de Marrocos, a oeste, à Tunísia, a este, passando pela Argélia.

jónico

Costuma ser atributo de parte do Mediterrâneo, o mar Jónico, limitado a este pelas costa da Grécia e a oeste pelas do Sul da Itália. O nome relaciona-se com o do povo grego, os Jónios, que habitava zonas da Grécia (Ática e norte do Peloponeso) e o litoral da Ásia Menor (actual Turquia). Este nome parece ser pré-helénico e talvez se relacione com o sânscrito yoni, «útero, vulva», fazendo alusão a um povo adorador de uma divindade feminina (ver ionian em Online English Etymology).

mar

É palavra de origem latina, mar, maris. Este vocábulo remonta à raiz indo-europeia *mori-, «laguna», que está presente em línguas de outras subfamílias indo-europeias: alemão Meer, «lago»; russo more; irlandês muir.

ver Ernesto d´Andrade, Histórias de Palavras. Do Indo-Europeu ao Português, Lisboa, A. S...

Pergunta:

Diz-se «eu acolcheto», ou «eu acolchEtu» (E = aberto)?

Resposta:

A pronúncia mais correcta é com e aberto (é), tal como em interpreto, aperto ou começo. Os verbos da 1.ª conjugação com o ou e no radical (mor- de morar e começ- de começar), abrem estas vogais quando estas se tornam tónicas  nas 1.ª,  2.ª e 3.ª  pessoas do singular e na 3.ª do plural  do presente do indicativo:  morar  — moro, moras, mora, moram; começarcomeço, começas, começa, começam.1


1 Em português europeu, seguido de -ch-, o e do radical dos verbos da 1.ª conjugação pode também ser pronunciado como [ɐ] ou [ɐj]: f[ɐ(j)]cho, f[ɐ(j)]chas, f[ɐ(j)]cha, f[ɐ(j)]cham. Se a referida vogal se encontrar antes de -j- (desejar, farejar), pronuncia-se [e] (é fechado), [ɐ] ou [ɐj]: des[e]jo/des[ɐ(j)]ja, des[e]jas/des[ɐ(j)]jas, etc. Ainda em Portugal, antes de -nh- e -lh