Agradeço a sua observação, que me permitiu introduzir pequenas correcções na resposta em causa. Todavia, convém esclarecer alguns pontos:
1. Quando se diz que no Brasil se aceita ou é corrente o uso do pronome sujeito em lugar do clítico, adopta-se um ponto de vista que é descritivo e não normativo quer sobre o uso quer mesmo sobre atitudes normativas.
2. No entanto, no Brasil, há quem contemple o facto mencionado no ponto anterior, pelo menos, em gramáticas que parecem propor uma norma mais sensível às realidades do uso linguístico brasileiro. Com efeito, na Gramática de Usos do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2000, pág. 453), de Helena de Moura Neves, afirma-se que «também é comum, na conversação, o emprego dos pronomes tônicos como sujeito do infinitivo, nessas construções: [...] Manda ELE fugir daqui! [...] Entretanto, essa construção já aparece em textos literários. Mas foi apenas um instante de desconfiança, o dele, e ele sorriu pegando-a, toda e suave como ela era, e tão curiosa como uma mulher é curiosa, o que fez ELE se lembrar de sua esposa. [A maçã no escuro, Clarice Lispector]»
3. Em Portugal, a atitude normativa a respeito de «vi ela» é de completa rejeição; e, apesar de haver falantes que usam o pronome sujeito no contexto em discussão, é também verdade que muitos falantes, independentemente do seu nível sociocultural, continuam a empregar o clítico: «eu vi-a».
4. Assim, e, repita-se, dado que a perspectiva adoptada era descritiva e não normativa, não se entende que se diga que a resposta está eivada de preconceito. Não é verdade, porque o que se pretende é mostrar tendências evolutivas de uma das variedades da língua, tal como se poderia comentar as inovações fonéticas e fonológicas que aparentemente afastam o português de Portugal tanto da pronúncia portuguesa mais antiga como da que é norma no Brasil.
Em conclusão, a perda de grande parte dos clíticos, sobretudo os de terceira pessoa, no português do Brasil é um facto amplamente comentado quer por linguistas quer por gramáticos normativistas. Essa perda tem tido repercussões mesmo no discurso escrito. Apontar estes factos não é negar o papel que a tradição normativa e o sistema educativo brasileiros possam eventualmente ter na recuperação de todo o sistema de clíticos no Brasil enquanto comunidade linguística.