Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber qual o significado e a origem da palavra buvete.

Resposta:

Buvete é o aportuguesamento de buvette, que em francês designa genericamente um lugar onde se bebe. Em Portugal, contudo, este galicismo surge associado ao termalismo, designando o lugar onde se ministra um tratamento que consiste na ingestão de água termal.

Pergunta:

Em primeiro lugar, tenho uma questão que julgo simples: qual é a diferença entre pesquisa e procura? Esta definição vem da necessidade de definir a função de um browser, a que chamamos navegador, que tem a particularidade de permitir pesquisar/procurar informação de modo passivo.

Em segundo lugar, qual é a diferença entre substantivo concreto e substantivo abstracto?

Já vi a definição de que um substantivo concreto nomeia objectos concretos; i. e., objectos que se conhecem através dos sentidos. Porém deus é considerado, nalgumas gramáticas, um substantivo concreto.

«Realidade» é um substantivo concreto, ou abstracto? De facto, eu interajo com a realidade através do sentidos e das acções. Eu posso distinguir o que é real do que não é real — isto é, do que é ideal. Consigo distinguir a realidade da ideia. Então realidade é um substantivo concreto, e ideia, um abstracto? Formulo a questão de um modo ingénuo, mas pretendo com isto entender como se distinguem os substantivos.

Já reparei que a distinção entre substantivo concreto e abstracto não é coerente nas respostas pertinentes que encontrei no Ciberdúvidas: 26/02/1999, 26/11/199802/01/200219/03/200321/10/2004.

A minha questão, portanto...

Resposta:

Digamos que a pesquisa é uma forma de procura. Do ponto de vista linguístico, diz-se que pesquisa é hipónimo de procura, e este termo, hiperónimo daquele.
No contexto das consultas feitas em páginas da Internet, as duas palavras são praticamente sinónimas, juntando-se a elas uma terceira, busca.

Relativamente à distinção entre substantivos abstractos e substantivos concretos, já a discutimos várias vezes no Ciberdúvidas. Penso que a respostas não são contraditórias, antes definindo critérios flexíveis, porque, como observa o próprio consulente, não é rígido o contraste entre abstracção e concretude, e haverá sempre excepções e casos-fronteira. De uma resposta de Maria Regina Rocha, transcrevo a seguinte passagem:

«Embora os conceitos de concreto e abstracto sejam tradicionalmente considerados em oposição, há quem conceba esta classificação não numa perspectiva de oposição, mas na de uma escala que vai do mais concreto ao mais abstracto, podendo uma palavra ter diferentes graus de abstracção, consoante os contextos. Por outro lado, há substantivos que têm propriedades de um e outro tipo, entrando numa zona de indefinição. Como outras classificações, esta também não é perfeita.»

Por fim, estranho o pedido do consulente, porque o nosso sistema de pesquisa já separa as muitas perguntas em arquivo por categorias. Por conseguinte, recomendo a consulta da página Perguntas e Respostas do Ciberdúvidas.

Pergunta:

Pode usar-se a expressão «efeito legado» no contexto de algo que na mesma pessoa fica por determinado comportamento anterior? Exemplo: na diabetes, o bom controlo metabólico da glicemia no início do diagnóstico da doença leva, mesmo que o controlo se deteriore um pouco posteriormente, a bons resultados nas complicações, diminuindo-as: «efeito legado» («legacy effect»). Na literatura inglesa é esta a expressão, «legacy effect», e há uma explicação científica para esse efeito.

Resposta:

Nos dicionários especializados de que dispus (Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa, edição da Porto Editora, e o Dicionário Médico de L. Manuila e outros, edição da CLIMEPSI Editores), não encontro nem a expressão inglesa nem um termo português aproximado. Parece-me, no entanto, que «efeito legado» ou «efeito de legação» são traduções portuguesas adequadas, susceptíveis de se tornarem termos de uma dada área de especialidade.

É de notar que «legacy effect» — ou, aportuguesando já, efeito legado — pode ter conotação negativa noutras áreas de especialidade. É o que acontece, por exemplo, em gestão, a avaliar pela seguinte passagem, traduzida de uma página em inglês, disponível na Internet:

«O efeito legado é o impacto sobre uma organização de programas e actividades passados já não necessários mas ainda executados. Os administradores consideram o efeito legado como um dos problemas mais frustrantes que enfrentam. Um administrador planeia uma nova iniciativa, e as pessoas continuam a fazer as coisas como antigamente.» [No original: «The Legacy Effect is the impact on an organization of historical programs and activities no longer needed but still performed. Managers find the Legacy Effect to be one of the most frustrating problems they face. A manager plans a new initiative, and the people just keep doing things the same old way.»]

Pergunta:

Podem dizer-me qual é a tradução correcta do instrumento médico rib cutter?

Obrigada.

Resposta:

Um termo do português europeu equivalente a rib cutter é talhador de costelas, segundo pude apurar na Internet. Trata-se de um instrumento de autópsia, usado para cortar costelas.

Pergunta:

Que actividades integram o conceito de escritório, em termos jurídicos?

Qual o significado segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa?

Obrigada.

Resposta:

No plano da linguagem jurídica, não encontro identificadas com precisão as actividades de um escritório, mas suponho que se trata de um espaço cuja finalidade é sobretudo a administração de uma entidade pública ou privada. Em Portugal, um escritório é definido como uma forma de estabelecimento estável, conforme se pode ler no artigo 4.º-A do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC):

«1 – Considera-se estabelecimento estável qualquer instalação fixa através da qual seja exercida uma actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola.

2 – Incluem-se na noção de estabelecimento estável, desde que satisfeitas as condições estipuladas no número anterior:

a) Um local de direcção;
b) Uma sucursal;
c) Um escritório;
d) Uma fábrica;
e) Uma oficina;
f) Uma mina, um poço de petróleo ou de gás, uma pedreira ou qualquer outro local de extracção de recursos naturais situados em território português.»

No Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, a palavra escritório tem as seguintes acepções:

1. «Divisão de uma casa de habitação destinada ao trabalho intelectual, à escrita e à leitura, onde está instalada uma secretária, estantes com livros e arquivadores.»
2. «Mobiliário que decora essa divisão apropriado às actividades aí desempenhadas.»
3. «Local onde exercem a sua actividade funcionários administrativos, advogados, solicitadores, procuradores, despachantes.»
4. «Móvel com escaninhos e tampa geralmente inclinada sobre a qual se escreve.»
5. «(regionalismo) Andar térreo; rés-do-chão.»