Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber o aumentativo da palavra rosa.

Obrigada.

Resposta:

A palavra rosa, como substantivo, é uma designação comum a diversas variedades: rosa-chá, rosa-de-lobo, rosa-de-tocar, etc.

As dimensões são limitadas para cada variedade. Como, além disso, a rosa é uma flor muito apreciada, não carece de aumentativo sintético para se notabilizar. O aumentativo analítico depende do adjectivo escolhido por cada falante para designar uma rosa que lhe é particularmente impressionante: rosa encantadora, rosa maravilhosa, etc.

Pontualmente, poderá formar-se a palavra rosão, de acordo com a tendência descrita por Celso Cunha e Lindley Cinta, na Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, João Sá da Costa Editores, pág. 91): «[...] nos aumentativos em -ão, o género normal é o masculino, mesmo quando a palavra derivante é feminina.»

Pergunta:

Será possível ajudarem-me a determinar a origem do meu apelido?

Obrigado.

Resposta:

Sobre a origem do apelido Parreirão, só conheço o que diz José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa:

«Ant[iga] alc[unha]. Aument[ativo] de parreira? Do s.m. parreirão, no Alentejo, "mesa côncava em plano inclinado e terminada em goteira, para o fabrico de queijo de ovelha"?»

Pergunta:

Gostaria de saber o que significa «mau luto», expressão que surge num texto sobre o Douro, do qual transcrevo a parte em questão:

«(...) e o discurso sobre a paisagem pode transformar-se rapidamente num manifesto sobre a perda e a injúria. Num instante, voltam as imagens poderosas de Biel ou de Alvão, para que, a preto e branco, volte a paz e a quietude das paisagens extraordinárias, ou regresse o mau luto pelo suposto perdido.»

Resposta:

A expressão «mau luto» parece enquadrar-se na linguagem da psicanálise. Nas abordagens psicanalíticas, fala-se em trabalho do luto como «processo psíquico pelo qual um indivíduo, após ter perdido um objeto de seu afeto, consegue gradualmente desapegar-se dele» (Dicionário Houaiss). Considero, portanto, que é disso que se trata: a paisagem é construída por imagens afetivamente investidas, relacionadas com a idealização de um passado real ou imaginário (simbolizado pelo «preto e branco» de certas fotografias antigas), a qual é compensação ou refúgio de um presente percebido como deprimente; o resultado pode ser um «mau luto», isto é, a intensificação de um sentimento de perda, sem horizonte de autonomia futura.

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem acerca das diferenças linguísticas das seguintes expressões: «criança ao colo» e «criança de colo»

Faço-vos este pedido para poder fundamentar uma reclamação por, num determinado estabelecimento comercial, se terem recusado a atender-me como prioritário, quando levava comigo o meu filho de 2 meses.

Alegaram que, como ele estava no seu carrinho, não se tratava de um caso prioritário.

Ora, a lei é explicita quando refere que o atendimento prioritário se destina a pessoas com crianças "de" colo, e não crianças "ao" colo.

Poderão ajudar-me a dar a distinção dos diferentes significados destas expressões?

Sem outro assunto, agradeço desde já a disponibilidade.

Resposta:

Em português europeu, é verdade que uma «criança de colo» tanto pode estar ao colo como numa cadeirinha, como ainda num berço, porque não consegue andar. Se a lei der prioridade a clientes com crianças de colo, depreende-se que tanto faz que eles as transportem entre os braços ou as sentem/deitem num carrinho de bebé. Uma «criança de colo» não é, portanto, equivalente a uma «criança ao colo»: esta pode eventualmente andar, porque já tem 2, 3 ou 4 anos, mas alguém a carrega nos braços; aquela não anda, porque tem meses e não possui a força e o controlo motor necessários para caminhar. Em suma, uma «criança ao colo» pode não ser uma «criança de colo».

Pergunta:

Gostaria de saber se as palavras navegação, navegante, navegador, navegável podem ser consideradas da família de nave (veículo espacial) e ainda se as palavras pegada, pedestre, apear, pedicuro são palavras da família de .

Obrigada.

Resposta:

Nave

A palavra não significa necessariamente «veículo espacial», porque já antes das viagens ao espaço se aplicava a uma embarcação. Historicamente, navegar remonta ao latim navigo, as, are, avi, atum, «percorrer o mar ou qualquer superfície líquida e mesmo o espaço aéreo em uma nave», verbo formado por navis, «nave, embarcação», e ig, de ag-, raiz do verbo agere (Dicionário Houaiss). Do verbo navegar, formaram-se navegante, navegador, navegável. Todas estas palavras fazem, portanto, parte da família de nave.

As palavras pegada, pedestre, apear, pedicuro ligam-se histórica e morfologicamente a e são, por isso, da mesma família de palavras. Pegada (com e aberto na primeira sílaba) evoluiu de pedicata, derivado de pes, pedis, «pé» em latim. Pedestre vem do latim pedestris, «que vai a pé», também derivado de pes, pedis. Apear é verbo formado de por parassíntese