DÚVIDAS

A grafia de Assentiz (Torres Novas, Portugal)

Dirigo-me a Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, no sentido de ser elucidado quanto ao modo correcto como se escreve uma das freguesias, que também é localidade, do concelho de Torres Novas, distrito de Santarém.

Trata-se da freguesia de Assentis, que uns escrevem (a terminar) com s (Assentis), e outros com z (Assentiz). Existem mapas que escrevem Assentis, outros há que optam por Assentiz. E nas placas toponímicas a confusão também está presente. Qual é a grafia correcta?

Alguns organismos públicos baseiam-se na publicação efectuada no Diário da República n.º 41, 2.ª Série, de 17/2/1995 – Normalização e harmonização do “Código da Divisão Administrativa/Revisão 1994”, em que a grafia é com z.

No entanto, e segundo o Decreto n.º 35 228, de 8 de Dezembro de 1945, a nova Convenção Ortográfica Luso-Brasileira, que logo entrou em vigor, começou esta freguesia a escrever-se no final com s... ou estarei errado?

Resposta

Deve escrever-se Assentiz. Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), obra que fixa a grafia das palavras de harmonia com o Acordo Ortográfico de 1945, estabelece a grafia Assentiz, com z. Numa versão mais antiga deste vocabulário, datada de 1940 e preparatória da adopção do referido acordo, também se escreve Assentiz.

Se muitas pessoas começaram a escrever o nome da freguesia com s final na sequência da publicação do decreto que instaurava o Acordo de 1945, é possível que tenha havido alguma precipitação ao aplicar as regras ortográficas. Recorde-se que nessa época muitos apelidos|sobrenomes que tinham origem em patronímicos medievais já se escreviam com -s (p. ex., Fernandez > Fernandes) e, com o então novo acordo, muitas palavras viram fixar-se na sua grafia um -s final, desde que para isso houvesse razão etimológica; p. ex.: Aviz > Avis; Queiroz > Queirós. No caso vertente, como em muitos outros (Esmoriz, Romariz), o z final de certos nomes de lugar parece imposto por razões etimológicas, como sugere José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, quando explica que o topónimo se grafava Sentiz no século XII.1

1 Reconheça-se que a etimologia proposta por Machado para Assentiz/Sentiz não se afigura clara: no artigo respeitante a Assentiz, relaciona a forma Sentiz com Sentil, em cujo verbete diz tratar-se de nome próprio medieval que teria dado origem ao patronímico Sentiiz, documentado no século XIII. Se assim é, a forma Sentiiz parece pressupor um *Sentiliz (forma hipoética), que teria perdido o -l- intervocálico, de acordo com um fenómeno fonético bem característico dos dialectos galego-portugueses medievais. Cabe perguntar: se se trata de um patronímico, e mesmo que tenha passado a ser usado como topónimo, não seria conveniente escrevê-lo com -s, à semelhança de outros patronímicos, como Fernandes? Se a resposta for afirmativa, então a forma Assentis também tem fundamento, à luz da história da ortografia portuguesa.

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