Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Um de meus professores, de notável saber jurídico, afirmou que nas siglas não é permitida a repetição de letras, por exemplo: CNBB, CEFAAN. No entanto, não consigo encontrar autor que trate da matéria.

Por favor me ajude.

Resposta:

É estranho o seu professor dizer isso, porque basta lembrar BBC (British Broadcasting Corporation), como exemplo em língua estrangeira, e UFF (Universidade Federal Fluminense), para dar um exemplo brasileiro. Pergunto-me se não estará ele antes a referir-se às abreviaturas e à possibilidade de dobrar letras para marcar um plural: por exemplo, em espanhol, "EE. UU." é uma abreviatura, e não uma sigla, de «Estados Unidos».1 Esta abreviatura não é usada em português, língua em que se prefere a sigla EUA (= «Estados Unidos da América»), sem repetição das letras e e u. No entanto, em português, há outras palavras e expressões no plural que têm abreviaturas com letras dobradas; p.ex., AA., abreviatura de «autores» (Magnus Bergström e Neves Reis, Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, 48.ª edição, Lisboa, Casa das Letras, pág. 96).

1 «En abreviaturas formadas por una sola letra, el plural se expresa duplicando esta: ss. por siguientes, EE. UU. por Estados Unidos.» (= «Em abreviaturas formadas por uma só letra, duplica-se esta para expressar o plural: ss. por siguientes, EE. UU. por Estados Unidos»; Diccionario Panhispánico de Dudas, disponível no sítio da Real Academia Espanhola).

Pergunta:

Como escrever algo que está em condições "abaixo do óptimo"?

Será sub-óptimo, ou subóptimo? Ou será que não é nenhuma das duas palavras?

Resposta:

Do ponto de vista morfológico, pode construir-se a palavra subóptimo, constituída pelo prefixo sub- e pelo adjectivo óptimo. A palavra escrever-se-á sem hífen, pelo menos, de harmonia com o Acordo Ortográfico de 1945, ainda em vigor em Portugal, uma vez que o prefixo sub- exige este sinal apenas se for seguido de palavra começada por b, h ou r (sub-bloco, sub-hepático, sub-reptício). Quanto à sua justificação semântica, também esta me parece possível, se tivermos em conta que a palavra óptimo, como superlativo absoluto sintético de bom, adquire um significado próprio, por exemplo, numa expressão como «valor óptimo», termo da estatística definido «num sistema, [como] valor de um parâmetro que é máximo de acordo com vínculos e critérios que condicionam a evolução do sistema». Um «valor subóptimo» será aquele que se encontre abaixo ou um pouco abaixo do valor máximo de um parâmetro.

Pergunta:

Porque se pode considerar guerrilha uma base simples e embarcadoiro uma base complexa? Guerrilha não é já por si um derivado de guerra, e a base simples não é aquela que não se pode segmentar em mais unidades?

Resposta:

O caso de guerrilha é ambíguo, do ponto de vista da análise morfológica. Por um lado, é analisável como uma palavra complexa1, constituída por duas unidades: por guerra e por -ilha, forma feminina do sufixo -ilho (ver Evanildo Bechara, Moderna Gramática do Português, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, pág. 363).

Por outro lado, como o Dicionário Houaiss indica, guerrilha é termo importado do espanhol, o que significa que não pode ser analisada morfologicamente em português e, por isso, é palavra simples (é uma unidade só). Note-se que, mesmo em espanhol, o termo guerrilla já não é analisado como diminutivo de guerra; é antes um diminutivo que se lexicalizou, isto é, adquiriu um significado próprio irredutível à soma dos significados dos constituintes do diminutivo.

Cabe a propósito referir que existe um número importante de palavras portuguesas de origem espanhola que permitem deduzir um elemento -ilho/-ilha, a que se acaba por atribuir a noção de «pequenez». O referido Houaiss assim o confirma, quando consigna o sufixo -ilho como importação do espanhol -illo:

«formador de subst[antivos] masculinos do lat[im] -icŭlu- ou -ilĭu-, das orig[ens] da língua, de dim[i nutivos] designativos de referencial diferente do primitivo: achaquilho, afogadilho, arremedilho, asnilho, cangotilho, cursilho, moradilho, pacotilho, rucilho, sapatilho etc. (vocabularizados, há cerca de 200, num universo de 100 mil); a cronologia do voc[abulário] exemplificado, a cada caso, pode presumir que se trata de empr[és]t[imo]...

Pergunta:

Como se escreve o diminutivo da palavra xadrez?

Resposta:

Xadrezinho, que pode ter duas acepções, segundo o Dicionário Houaiss:

a) como substantivo, «pequeno tabuleiro de xadrez;

b) como adje{#c|}tivo e substantivo masculino, «que ou o que contém desenho quadriculado com formas estampadas em pequenas dimensões (diz-se de tecido)»; exemplos (ibidem): «sofá xadrezinho»;  «casaco de xadrezinho».

Pergunta:

Antes de mais, muitos parabéns pelo site, pois tem sido muito útil.

Qual a expressão correcta para nos referirmos ao acto de descarregar a água do autoclismo na sanita depois de usada?

Muito obrigada pela atenção.

Cumprimentos.

Resposta:

Em português europeu, usa-se muito simplesmente descarga, como nos mostra o seguinte exemplo, recolhido na Internet; por exemplo:

«Utilize o autoclismo só quando for necessário; evite descargas desnecessárias.»