Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual a origem do sobrenome Malabarba?

Resposta:

Malabarba parece ser um apelido de origem italiana, da região norte-italiana da Lombardia, segundo o sítio Gens. Aconselhamos o consulente a pesquisar nos muitos portais que, na Internet, se dedicam a traçar a genealogia dos membros da grande comunidade ítalo-brasileira.

Pergunta:

Termo («termo de entrega») e auto («auto de avaliação»).

Seus significados, diferenças e semelhanças.

Resposta:

Os actos processuais, segundo o Código de Processo Civil, que, com ligeiras diferenças, está em vigor, com a mesma redacção, em Portugal  e nos outros países da lusofonia pós-1974, podem ser actos das partes, actos dos magistrados e actos da secretaria (no Brasil, o regime é parecido).

Quer o termo quer o auto são actos de secretaria (Art. 161.º, n.º 1, do dito código). A diferença, essencialmente, está em que o termo tem relevância meramente interna e o auto tem relevância externa.

Mais precisamente, o termo constitui uma peça do processo elaborada pela secretaria, principalmente para formalizar declarações (de vontade ou de ciência) das partes e o exercício, por elas, de certos poderes processuais, enquanto o auto constitui uma peça elaborada pela secretaria mas destinada a conter o registo de diligências processuais, actos de direito material praticados no processo ou verificações de factos, e, portanto, provida de eficácia (substantiva ou processual) que extralimita a relevância meramente interna duma comunicação ou actuação material.

Como exemplos, há termo de juntada de documentos, termo de conclusão ao juiz, termo de vista ao Ministério Público, termo de vista aos adjuntos, termo de remessa à Contadoria, termo de desistência, de confissão ou de transacção, termo de cessão de direito litigioso, termo de nomeação de bens à penhora, termo de pagamento para expurgação de hipoteca, termo de pagamento da quantia ou coisa em vez de consignação em depósito, termo de preferência, etc.

Por outro lado, há auto de embargo de obra nova, auto de arrolamento, auto de arrombamento de portas, auto de penhora, auto de inspecção judicial, ...

Pergunta:

É ridículo, mas estou com uma dúvida existencial: escreve-se cházada, ou chazada? O corrector, o ilustre FLIP, diz-me que é chazada, porém, desta forma eu leio um primeiro a, fechado (como em chanfrado), e o que pretendo é dar uma lição de boa educação (os tais que tomaram chá).

Podereis elucidar?

Resposta:

Escreva chazada, sem acento. O a da sílaba cha mantém, em português europeu, o timbre aberto da vogal do termo chá, que é a base da derivação de chazada, mas, como está em sílaba átona, não leva acento gráfico. Recordo que há palavras que têm vogais abertas em sílabas átonas: padeiro, corar, inflação.

Pergunta:

Descobri pelo Ciberdúvidas que a pronúncia de dolo é com primeiro o fechado, "dôlo". Porém, pesquisando e lendo em outros lugares, encontrei que, ao contrário, a pronúncia correta seria "dólo", posto que a palavra latina da qual proveio, dolus, possuía o breve tônico. Também creio que seja "dólo", assim como dizemos solo, colo, e outros, todos com primeiro o aberto. Mesmo assim, agora estou muito confuso. Gostaria de saber qual é, efetivamente, a pronúncia correta, e também que me dessem uma explicação argumentada.

Resposta:

A pronúncia correcta é mesmo com o o fechado por acção de uma regra que fecha o o de muitas palavras (substantivos e adjectivos)  paroxítonas (ou graves) do género masculino, no singular. É o caso do o de novo, que remonta a um o breve: a referida regra fechou o o no singular, mas não se fez sentir nem no plural nem no feminino, que mantiveram o o aberto, que é normalmente o timbre correspondente a o breve latino etimológico. No caso de dolo, que é substantivo abstracto que se usa mais no singular, também ocorreu o fechamento da vogal da sílaba tónica, apesar da etimologia.

Pergunta:

Como analisar sintacticamente a frase «Disse aos Castelhanos que convenceria o filho a render-se»?

Resposta:

A frase proposta tem três orações cujas relações são definidas por um verbo declarativo, dizer, na oração subordinante, e por um verbo de persuasão, convencer. Ambos os verbos seleccionam orações completivas; no primeiro caso, uma oração completiva finita («que convenceria o filho a render-se»), e, no segundo, uma oração de infinitivo («a render-se»).

A análise sintáctica da frase é como segue:

1. Oração subordinante: «Disse aos Castelhanos que convenceria o filho a render-se»

Sujeito: subentendido («ele»)

Predicado: «disse aos Castelhanos que...»

Complemento indirecto: «aos Castelhanos»

Complemento directo: «que convenceria o filho a render-se»

2. Oração subordinada substantiva completiva: «que convencia o filho a render-se»

Conjunção: que (em análises académicas fala-se em complementador, mas não recomendo este termo nos ensinos básico e secundário)

Sujeito: subentendido («ele»)

Predicado: «convencia o filho a render-se»

Complemento directo: «o filho»

Complemento oblíquo: «a render-se»

3. Oração substantiva completiva reduzida de infinitivo: «a render-se»

Sujeito: subentendido («ele», isto é, «o filho»)

Predicado: «a render-se»