Pergunta:
Nas frases «esse livro é igual ao meu» e «o seu livro é igual ao meu», a impressão que eu tenho é de que no primeiro exemplo o «o» antes de «meu» seria um pronome demonstrativo, e na segunda, um artigo definido. Justifico tal posição pelo fato de que na primeira frase o primeiro pronome é outro demonstrativo (esse) e a segunda frase inicia com artigo. Concluo isso através do que se me apresenta como paralelismo na frase. Há respaldo teórico para essa minha, digamos, opinião? Coincide com a teoria gramatical que por vezes é divergente entre os autores em alguns pontos?
Na verdade, pesquisando na Internet, percebi que há posições divergentes até mesmo em relação à definição de pronome possessivo adjetivo/substantivo. Há quem diga que numa frase como «Pegue seu ônibus, que eu pegarei o meu», o segundo «meu» seria substantivo, já que não antecede nome, e outros que dizem que o nome (substantivo) está subentendido, e que por isso, então, seria um pronome adjetivo.
Leigo na área, e no entanto interessado, formulei algumas hipóteses, e gostaria que respondessem às minhas questões incluídas nas minhas hipóteses. Ei-las:
1) No caso de se considerar o «meu» nas frases anteriormente citadas como um pronome possessivo adjetivo, haveria duas possibilidades para tal. a) O «meu» estaria adjetivando um substantivo subentendido no contexto, e o «o» seria um artigo definido, e tanto o artigo «o» como o pronome adjetivo «meu» desempenhariam a função de adjuntos adnominais do substantivo subentendido. b) O «meu» serviria como um pronome adjetivo posposto ao pronome substantivo demonstrativo «o», e assim estaria o adjetivando.
2) No caso de se considerar o «meu» nas frases anteriormente citadas como um pronome possessivo Resposta:
Nos casos em apreço, a literatura não tem diferenciado a classe nem a função da forma o, associada ao possessivo meu, em casos como o das duas frases. Normalmente, considera-se que esse o é um artigo definido, quer acompanhe um pronome possessivo («o meu») quer se junte a um adjectivo numa construção elíptica («estou a usar o casaco velho, porque não encontro o novo», onde «o novo» = «o casaco novo»).
Penso que as ilações retiradas pelo consulente derivam da constatação de uma propriedade que é comum a demonstrativos como esse e aos possessivos: a função deíctica. O valor deíctico de esse, o e meu remete para as coordenadas espaciais de uma situação de comunicação — como é o caso dos demonstrativos — ou para os intervenientes nessa situação — marcados pelos pronomes eu e tu e pelos respectivos possessivos.
Quanto a meu, pronome possessivo substantivo (em Portugal, pronome possessivo), e meu, pronome adjectivo possessivo (em Portugal, determinante possessivo), trata-se de uma distinção da gramática tradicional (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, págs. 277 e 319). Deste ponto de vista tradicional, encara-se o o associado ao possessivo meramente como artigo definido (cf. Paul Teyssier, Manual de Língua Portuguesa, Coimbra, Coimbra Editora, 1989, pág. 134/135).
Noutra perspectiva, M.ª Helena Mateus et al., na