Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

A regra que orienta a flexão de adjetivos compostos ensina que se deve variar apenas o segundo termo da composição, se este for isoladamente um adjetivo, à exceção de alguns casos como surdos-mudos, azul-marinho e azul-celeste. Pois bem. Considerando o uso de substantivos que denotam cores e que podem ser utilizados como adjetivos invariáveis (rosa, violeta, cinza, laranja, abóbora, anil, cáqui, vinho, turquesa, ocre, sépia, salmão, creme, esmeralda, gelo, chocolate etc.), isto é, de dois gêneros e dois números, gostaria de saber se, no caso de um adjetivo composto, o segundo termo, sendo isoladamente um adjetivo, sofrerá flexão. Assim, devemos escrever e dizer «vestes laranja-vivo», ou «vestes laranja-vivas»? Tendo a pender para a segunda opção, procedo com coerência?

Obrigado pelos ótimos serviços prestados à língua portuguesa e a seus falantes.

Resposta:

A resposta está longe de ser categórica. Em duas gramáticas de referência — a Nova Gramática do Português Contemporâneo (págs. 252 e 256), de Celso Cunha e Lindley Cintra, e a Moderna Gramática Portuguesa (p. 146), de Evanildo Bechara — não se encontra descrito o uso de adjectivos compostos por um adjectivo uniforme, como laranja ou rosa — derivados de substantivos e referentes a cor—, seguido de adjectivo.

No entanto, penso que Bechara dá uma pista (ibidem), quando, ao comentar a visão de Mário Barreto sobre este assunto, diz o seguinte (mantive a ortografia original):

«[...] [é] freqüente o emprego do nome do objeto colorido para expressar a cor desse mesmo objeto: o lilá pálido; um violeta escuro, aplicando-se aos nomes lilá, violeta o gênero masculino na acepção da cor: "prefiro o rosa ao violeta", em vez de "prefiro a rosa à violeta", oração que pode ser entendida de maneira ambígua.»

Ora bem, apesar de laranja e rosa serem adjectivos uniformes, não parece bloqueada a possibilidade de estes se comportarem como azul-escuro quando se integram em adjectivos compostos associados a substantivos no plural. Ou seja, se a flexão de plural afe{#c|}ta apenas o segundo elemento de azul-escuro numa expressão como «vestes azul-escuras», do mesmo modo, depreende-se que, com laranja-vivo ou rosa-vivo, se diga e escreva «vestes laranja-vivas». Mas, repito, não se trata de um preceito que se veja exposto em gramáticas e prontuários, pelo que convém ter a noção de que es...

Pergunta:

Qual a razão de não se usar a palavra seniorização?

Obrigado.

Resposta:

A palavra seniorização não está dicionarizada, mas tem uso (escasso) em alguns documentos disponíveis na Internet, como se ilustra pelos seguintes exemplos:

1. «A seniorização, para a qual caminha a sociedade europeia, tem vindo a ser problematizada, pelas suas repercussões no conjunto da sociedade, nas condições de vida futuras e, pelo reflexo do seu impacto na economia» (Diagnóstico Social de Lisboa, Março de 2009).

2. «A seniorização do quadro de colaboradores ocorrida nos últimos dois anos também impactou a remuneração média, que, em 2009, apresentou evolução de 5,7% e chegou a R$ 6.337,24» (Relatório de 2009 do Grupo Sílvio Santos).

A palavra é praticamente o mesmo que envelhecimento (em 1) e «acumulação de anos de experiência no quadro de uma empresa» (em 2).

Pergunta:

Na frase «As circunstâncias são de vária ordem», existe algum erro? Porque é que não se utiliza o plural?

Grata pelo esclarecimento.

Resposta:

Não há erro na frase, porque a expressão «de vária ordem» se usa geralmente com o singular ordem. Também não se pode afirmar que o plural está incorrecto: «circunstâncias de várias ordens». Contudo, apesar de a expressão não estar dicionarizada1, importa é assinalar que se trata de uma expressão que cristalizou no uso assim mesmo, com o singular de ordem. O mesmo acontece com «de natureza vária», que pode referir-se a uma pluralidade; p. ex.: «construções de natureza vária». As expressões fixas têm estas idiossincrasias.

1 Dicionários consultados: dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa, de Énio Ramalho (Porto, Lello e Irmão Editores, pág. 1985), Dicionário Houaiss, Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

Pergunta:

Na frase «A viagem para Portugal será amanhã», qual seria a função sintática de «para Portugal»? Se a função é de adjunto adverbial, qual seria a explicação, já que o termo está se referindo a um nome e não a um verbo?

Resposta:

O constituinte em questão não é um adjunto adverbial, porque não é um «termo de valor adverbial que denota alguma circunstância do facto expresso pelo verbo, ou intensifica o sentido deste» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições Sá da Costa, 1984, pág. 152).

Como «para Portugal» completa o sentido do substantivo viagem — trata-se do respectivo destino —, diz-se que é um complemento nominal, «ligado por preposição ao substantivo [...] cujo sentido integra ou limita» (idem, pág. 140).

Pergunta:

Qual a origem do nome Figueiredo?

Resposta:

O apelido Figueiredo tem origem no topónimo Figueiredo (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa). Este, por sua vez, tem origem no substantivo comum figueiredo, que é o mesmo que figueiral, «extenso aglomerado de figueiras em determinada área» (Dicionário Houaiss).