Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Nas frases «Ele entrou chorando» e «O rapaz encontrou o amigo correndo», qual seria a função sintática de «chorando» e «correndo»?

Resposta:

Em ambos os casos, trata-se de um predicativo. Na primeira frase, o predicativo refere-se ao sujeito «ele»; no segundo, ao objecto directo «o amigo» (cf. Evanildo Bechara, Moderna Gramática Brasileira, pág. 433).

Pergunta:

1. «Ele não só fala inglês, mas francês.»

«Ele não só fala inglês, como francês.»

Mas e como também são conjunções coordenativas aditivas? Não seria opcional o uso de também e ainda (mas também, como também, mas ainda) depois dessas palavras? Não só também é conjunção?

2. «Isto não é ouro, e sim ferro.»

«Isto não é ouro, senão ferro.»

E sim e senão são conjunções adversativas?

Resposta:

1. Estamos a falar de conjunções aditivas descontínuas cujas formas recomendadas são: «não só... mas também» e «não só... como também» ou «não só... como». Estas podem, no entanto, assumir as formas «não só... mas ainda...», «não só... como ainda». Usada isoladamente, a expressão «não só» não é uma conjunção.

2. A conjunção aditiva e pode ter um sentido adversativo suplementar (cf. Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, pág. 320). Já a palavra senão é uma conjunção adversativa. No entanto, nos casos apresentados pelo consulente, parece-me preferível empregar mas em lugar de e: «Isto não é ouro, mas, sim, ferro.» O advérbio sim não faz parte das conjunções e ou mas, antes se destina a marcar o contraste com uma oração ou um sintagma precedentes, afectados por uma negação. Neste tipo de construção, sim costuma ocorrer entre vírgulas.

Pergunta:

Eu costumo ensinar que a palavra floresta é um nome colectivo. No entanto, numa prova, o aluno ao responder que floresta era um nome colectivo, a resposta foi considerada errada.

Gostaria que me elucidassem sobre o assunto.

Obrigado.

Resposta:

Um substantivo colectivo é aquele «que se aplica a um conjunto de objectos ou entidades do mesmo tipo» (Dicionário Terminológico). Como floresta se define como «conjunto denso de árvores», conforme se lê no Dicionário Houiass, diz-se que esta palavra é também um substantivo colectivo. Note-se que o referido dicionário regista explicitamente floresta como substantivo colectivo.

Pergunta:

Como deve pronunciar-se sobrolhos? O segundo o abre, como em olhos?

Obrigado.

Resposta:

A palavra sobrolho tem o plural sobrolhos, com o aberto: sobrolhos, [suˈbɾɔʎuʃ] (cf. dicionário da Academia das CIências de Lisboa e Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Devo usar apenas tampouco, ou posso usar a expressão «nem tampouco»?

Obrigada.

Resposta:

Considera-se que «nem tampouco» é pleonasmo, pelo que se recomenda o uso de tampouco sem outro advérbio de negação a precedê-lo imediatamente. Se for necessário marcar a noção aditiva também associada a nem (= «e não»), use-se a conjunção copulativa e: «Não gosto de armas de fogo e tampouco preciso delas.»