Pergunta:
A estrutura «deixar-se ser/estar + particípio» é aceitável?
Resposta:
Depois de «deixar-se», não é de recomendar a construção passiva formada pelo auxiliar ser e pelo particípio passado de um verbo principal, como mostra a agramaticalidade (indicada por um asterisco) ou a reduzida aceitabilidade (marcada por ?) da seguinte frase:
1.*/?«Ele deixou-se ser apanhado.»
Como a gramática tradicional tem dificuldade em explicar (1), socorro-me da investigação em linguística, mais precisamente, dos comentários de Augusto Soares da Silva sobre a construção deixar-se + infinitivo, em A Semântica de Deixar (Fundação para a Ciência e Tecnologia/Ministério da Ciência e Tecnologia, 1999, págs. 590):
«Na construção reflexiva deixar-se + INF, ocorre o infinitivo ora intransitivo ("O Zé deixou-se cair") ora transitivo ("O Zé deixou-se apanhar"). No primeiro caso, o pronome reflexo é o sujeito da frase infinitiva (O Zé deixou + O Zé caiu), ao passo que, no segundo, é o objecto directo da frase infinitiva (O Zé deixou + Alguém apanhou o Zé).»
Quando o infinitivo corresponde a um verbo transitivo, este assume um valor passivo, mas com certas particularidades em relação à passiva canónica (idem, pág. 591):
«Com infinitivo transitivo [...] põe-se a questão da interpretação do valor passivo não só do infinitivo como de toda a construção. Se é verdade que a oração apresenta marcas da passiva, que se tornam claras quando o sujeito do infinitivo é explicitado no sintagma com por (cf. O Zé deixou-se apanhar pelo companheiro = O Zé deixou + o Zé foi apanhado pelo companheiro), e estas marcas "contaminam" toda a construção, também é verdade que o sujeito (aqui, "o Zé") é mais 'activo' do que na passiva canónica e falta o carácter 'resultativo' (estáti...