Pergunta:
Tenho uma dúvida quanto à evolução do grupo latino -lt- ao português. No dialeto gaúcho (assim como em outros dialetos do português e em galego), existe a forma escuitá em lugar de escutar. Então pensei no exemplo do espanhol onde escuchar corresponde à mesma evolução de mucho. Escuitar me pareceu, então a evolução natural e regular de auscultare, assim como de multus chegamos a muito. No entanto, de altus chegamos a alto tanto em português como em espanhol. Enfim, existe uma evolução natural e regular no português para o grupo -lt-? Há exceções ou sub-regras?
Resposta:
A sequência latina -LT- evoluiu para -it- em português e galego apenas quando precedida de -U-: MULTUM > muito (português) e moito (dialectos galegos modernos); AUSCULTO > escuito (português e galego antigos) > escuto (português-padrão moderno), escuito, escoito (dialectos galegos modernos). Em castelhano, a evolução de -uit- prosseguiu, com metátese do -i e palatalização da consoante dental: MULTUM > muito > mutio > mucho; AUSCULTO > escuito > escutio > escucho.
Precedida de outra vogal, a sequência -LT- passava a -ut-: ALTARIU- > *autario > outeiro (português e galego). Em castelhano antigo, terá havido também um ditongo, que depois se monotongou: ALTARIU- > *autario > outeiro > otero. No entanto, em relação a ALTU-, a evolução descrita não se verificou completamente (embora se documente outo em português e galego), pelo que o grupo -lt- acabou por perdurar na forma alto do português, homónima de alto, também em castelhano (hoje chamado espanhol).
Fontes: Edwin B. Williams, Do Latim ao Português, Rio de Janeiro, Tempor Brasileiro, 2001, pág. 67; Rafael Lapesa, Historia de la Lengua Española, Madrid, Editorial Gredos, 1981, págs. 164-165 e 185.