Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual seria, porventura, o gentílico da Podólia, região da Ucrânia? Caso exista, por favor, dizei-me se ele funciona como adjetivo e substantivo.

Muito obrigado.

Resposta:

O nome Podólia tem escasso uso em português, dada a sua pouca projecção no horizonte informativo dos países de língua portuguesa. Não admira, pois, que não esteja fixado um gentílico correspondente ao nome da região assim chamada. Mas, tendo em consideração que de Ucrânia se forma ucraniano, não é descabido propor a criação de podoliano, usado como adjectivo e substantivo. Também não é de excluir a forma podólio, tendo em conta o modelo do par Etólia-etólio.

Pergunta:

Qual seria, porventura, o gentílico da Pomerélia, antiga região da Polônia? Caso exista, por favor, dizei-me se ele funciona como adjetivo e substantivo.

Muito obrigado.

Resposta:

Dado a região em apreço ter muito pouca projecção no discurso informativo em português, não se identifica gentílico fixado ou estável. Isto significa que podem, pelo menos, abrir-se duas opções, de acordo com o modelo de outros nomes pátrios referentes a regiões da Europa centro-oriental e do Nordeste: pomerélio (cf. Lapóia-lapónio1; Lusácia-lusácio); pomereliano (cf. Livónia-livoniano2; Silésia-silesiano). Como se trata de formas não atestadas, sobre as quais não se impuseram ainda restrições de uso, considere-se o uso de pomerélio e pomereliano como adjectivos e substantivos.

1 Quando se trata da língua dos Lapões, Rebelo Gonçalves, no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), estipula o uso de lapónico.

2 Também é possível livónio. Quando se trata da língua dos Livónios, Rebelo Gonçalves (op. cit.) define livónico como forma correcta.

Pergunta:

Qual o coletivo para minhoca, formiga e mosca?

Resposta:

A palavra minhoca não parece ter colectivo consagrado, uma vez que os dicionários e guias consultados (Dicionário Houaiss, Nos Garimpos da Linguagem, de Luiz Autuori e Oswaldo Proença, e Dicionário de Colectivos, das Publicações Europa-América) não facultam qualquer pista sobre a eventualidade de um substantivo dessa natureza. No entanto, sugiro que se use a palavra praga, sempre que a carga disfórica deste substantivo se justificar referencialmente.

formiga e mosca têm colectivos que lhes são próprios: a formiga faz-se corresponder carreiro, colónia, correição e carreiro, bem como formigame e formigueiro (Dicionário Houaiss); para mosca, temos enxame, moscaréu, moscaria, mosquedo, mosqueiro, nuvem, praga (idem).

Pergunta:

Quando estamos a referir leis físicas, devemos apresentar «Lei de Newton», ou «lei de Newton»?

Resposta:

Usa-se a minúscula inicial como se comprova por subentradas como «lei da gravitação de Newton» (Dicionário Houaiss) e «lei de Murphy» (Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, em versão em linha na Infopédia). Observe-se que, apesar de não referir uma lei física, a expressão «lei de Murphy», definida como aforismo («há sempre razões para as coisas que correm mal virem a correr ainda pior»), imita as expressões designativas de leis científicas, exibindo também minúscula inicial.

Pergunta:

Numa reportagem do telejornal de 9/7 sobre São Martinho do Porto, é referido que se trata de uma «"instância" balnear». Quando ouvi a palavra instância, julguei ter percebido mal e que se trataria de estância como sempre ouvi, mas entretanto apareceu escrito «a vila é instância balnear desde fins do século XIX». Está correto o uso da expressão «instância balnear»?

Os meus agradecimentos pelo esclarecimento.

Resposta:

Como se pode calcular, trata-se de um erro, em lugar da forma correcta «estância balnear».

Estância e instância são palavras parónimas (têm fonética semelhante), mas distinguem-se claramente pela sua semântica.

Estância tem as seguintes acepções (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa): «1. Residência fixa. 2. Aposento. 3. Parada em jornada. 4. Casa ou armazém de venda de madeiras, combustíveis, etc. 5. Ancoradouro. 6. Camarata dos grumetes a bordo. 7. Tábua de que os pedreiros vão tirando com a colher a argamassa de que se servem. 8. Baluarte. 9. Fortim. 10. Estrofe. 11. Local de estadia temporária para férias, repouso ou tratamento de doenças. 12. [Brasil] Fazenda para criação de gado; barracão, onde vivem em promiscuidade numerosas pessoas; cortiço.

Instância significa (idem): «1. Insistência, empenho ou veemência no pedir. 2. Pressa que se exige na realização de um ato. 3. Repetição de ordens ou mandados. 4. Objeção à resposta dada a um argumento. 5. Juízo, foro, jurisdição.»