Pergunta:
Deve escrever-se «Ouvi falar de um tal de João Pereira» (por exemplo) ou «Ouvi falar de um tal João Pereira»? O de é aceitável? É obrigatório? É que nem consigo perceber de onde vem esta expressão tão estranha: «um tal de».
Obrigado.
Resposta:
Com nomes próprios, aceita-se a associação de ambas as construções.
Contudo, na construção com a preposição de, deteta-se certo valor depreciativo e há que enquadrá-la num registo informal. É preciso também ter em conta a história das duas construções.
1. Um(a) tal de + nome próprio
A expressão «um tal de» está identificada como um brasileirismo, conforme indicação de um dicionário produzido no Brasil – o Dicionário Houaiss (s. v. tal):
«um tal de – Regionalismo: Brasil. empregada pejorativa ou desdenhosamente em relação a outra pessoa Ex.: casou-se com uma tal de Leonor.»
Mas não se pense que este uso está ausente dos dicionários elaborados de Portugal. Na verdade, «um tal de» tem registo no dicionário de português da Infopédia sem especial atribuição dialetológica: « um(a) tal de: expressão usada, geralmente de forma depreciativa, para designar alguém cuja identidade não se tem a certeza.» Não obstante, o registo feito em dicionários de Portugal parece posterior aos do Brasil, o que sugere que se trata de um empréstimo da variedades brasileira para a variedade de Portugal1.
2. Um tal + nome comum/ nome próprio
Tem registo num dicionário português, o da Academia de Ciências de Lisboa, e não com um nome próprio:
(1) «Respondeu-me um tal bem antipático.»
O certo é que «um tal» tem tradição no português, pelo menos desde o século XVI, como refere