Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Segundo o Novo Acordo Ortográfico, as palavras que nomeiam as estações do ano, os dias da semana e os meses perderam a letra maiúscula e tornaram-se nomes comuns. Estarei certo ou errado?

Na eventualidade de serem nomes comuns, eu concordo mais com a atribuição da subclasse «Nome comum concreto», pois são períodos de tempo específicos. Nas quatro estações do ano decorrem determinados acontecimentos associados às respetivas estações do ano: para os habitantes do Hemisfério Norte, o Natal é no Inverno, a Páscoa é na Primavera e as Férias Grandes são no Verão.

Gostaria que me confirmassem a veracidade ou não desta questão, pois já li noutros lados que as estações do ano também poderão ser considerados nomes comuns abstratos.

Resposta:

1. Do ponto de vista ortográfico, os nomes dos meses e das estações do ano passam efetivamente a ser tratados como nomes comuns, mas devem ser vistos como nomes próprios.

No contexto da descrição gramatical  brasileira, Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, págs. 113-114; ver Textos Relacionados) considera fevereiro é nome comum. Contudo, a Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, p. 1008) inclui os nomes das estações do ano, dos meses e até dos dias da semana entre os nomes próprios, fazendo as seguintes observações:

«[São nomes próprios os] Nomes de intervalos temporais convencionalizados, como os meses do ano (janeiro, fevereiro, março, outubro), as estações do ano (inverno, primavera, verão e outono), os dias da semana (sábado, domingo, segunda-feira), bem como os períodos correspondentes a festividades, religiosas ou pagãs, como Natal, Páscoa, Carnaval. Em cada ciclo temporal adequado, estes nomes designam entidades particulares (em cada ano, só existe uma época do Natal ou mês de janeiro; em cada semana só existe uma segunda-feira). No entanto, dado que, num contexto temporal mais vasto, estes períodos recorrem ciclicamente, deixam de ser únicos, talvez por isso, este nomes, tal como os nomes comuns, adquiriram um significado lexical que se pode consultar num dicionário, deixando de ser sentidos como nomes próprios por muitos falantes. Note-se também qu...

Pergunta:

Provérbio, aforismo ou dístico... Há alguma diferença entre estes termos?

Resposta:

Sobre a definição dos termos provérbio, aforismo e dístico, basta consultar um dicionário geral para ficar com a noção de que têm referentes diferentes. Assim, a consulta do Dicionário Houaiss permite-nos compreender que os três termos podem ser usados em aceções próximas, mas mesmo assim ligeiramente diferentes:

provérbio: «frase curta, ger. de origem popular, freq. com ritmo e rima, rica em imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral (p. ex.: Deus ajuda a quem madruga)»;

aforismo: «máxima ou sentença que, em poucas palavras, explicita regra ou princípio de alcance moral» e «texto curto e sucinto, fundamento de um estilo fragmentário e assistemático na escrita filosófica, ger. relacionado a uma reflexão de natureza prática ou moral»;

dístico (cito apenas as aceções mais afins aos significados dos termos anteriores): «estrofe mínima, composta de dois versos; parelha» e «máxima expressa em dois versos».

Em suma, o provérbio e o aforismo distinguem-se pelo facto de o primeiro ter origem popular e o segundo ser criado no quadro da reflexão filosófica. O dístico é uma forma poética que pode conter uma máxima.

Pergunta:

Malformação, ou «má formação»?

Resposta:

No Ciberdúvidas, já existe resposta sobre esta palavra, mas refira-se novamente que o Portal da Língua Portuguesa e o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa confirmam malformação como forma correta.

Pergunta:

Tosta (s. f.) pronuncia-se "tôsta", ou "tósta"?

Resposta:

A palavra tosta tem o aberto (transcrição fonética: [`tɔʃtɐ]); cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e Aulete Digital).

Pergunta:

«Da boa ação, se Deus sabe, ninguém mais precisa saber. Da má ação, se Deus não sabe, alguém Lhe fará saber.»

Gostaria de uma explicação sobre o provérbio acima, especialmente a segunda frase.

Resposta:

Parece-me que o provérbio apresentado encerra a seguinte ideia: as boas ações acabam por ser recompensadas, e as más têm sempre castigo.

Sobre a segunda frase, não vejo dificuldade de interpretação: tal como a primeira, apresenta a topicalização à esquerda de um complemento oblíquo («da boa ação» e «da má ação»). A ocorrência deste tipo de complemento verbal é compatível com o verbo saber («saber de alguma coisa»), mesmo quando ocorre numa oração não finita selecionada por um verbo causativo («fazer saber alguma coisa/de alguma coisa»).