Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Verifico que alguns dicionários editados no Brasil registam as palavras surfar, surfista e surfe.

A minha pergunta é: como se pronunciam estas palavras no Brasil?

Muito obrigado pela vossa atenção.

Resposta:

As palavras surfe, surfista e surfar pronunciam-se no Brasil com o som -u.

Em Portugal, verifica-se certa variação. Por um lado, muitos falantes pronunciam estas palavras com "a" fechado (símbolo fonético [ɐ]):"sârfe", "sârfar", "sârfista"; o próprio dicionário da Academia das Ciências, publicado em 2001, dá conta de certa hesitação, quando transcreve com [ɐ] a forma surfe, mas apresenta com [u] o derivado surfista. Por outro lado, a tendência mais recente parece ser a de articular um [u] em todos estes casos, em convergência com a variedade brasileira. Dado que esta pronúncia é a que a letra u tem geralmente, pode-se considerar que estas variantes de surfe, surfista e surfar são mais coerentes do ponto de vista dos princípios que definem a correspondência entre ortografia e fonia em português.

Pergunta:

Estou trabalhando na tradução de um texto do filósofo alemão Immanuel Kant. Numa nota, ele se refere à descrição de Sumatra de William Marsden e cita um povo, cujo nome em alemão se escreve Rejangs. Consultei o texto do Marsden, cujo original é inglês, e a expressão pouco muda: Rejang. Não encontro nenhuma ocorrência da palavra vertida para o português. Gostaria de saber se há alguma sugestão para a tradução. 

Grato.

Resposta:

Relativamente ao etnónimo rejang, não conheço aportuguesamento de uso consagrado, mas parece-me possível adaptá-lo sob a forma rejangue, que é, aliás, a que ocorre numa obra sobre escritas, intitulada Letras e Memória – Uma Breve História da Escrita (São Paulo, Ateliê Editorial, 2009, pág. 158), de Adovaldo Fernandes Sampaio. 

Convém acrescentar que, em Portugal, continua a recomendar-se, em lugar de "Sumatra", a forma Samatra, que é a tradicional em língua portuguesa. No Brasil, impôs-se a forma Sumatra, como comprova o seu uso em definições de dicionários gerais – cf. Dicionário Houiass, s.v. bataque, «povo que habitra os planaltos de Sumatra»; ver também Dicionário Unesp do Português Contemporâneo, 2004, s.v. orangotango, onde se diz que a palavra tem origem num «nome inicialmente dado, depreciativamente, pelos indonésios aos habitantes das montanhas e Bornéu e Sumatra»).

Pergunta:

Gostaria de saber se tanto está correcto escrever-se «conhecer a verdade» como «conhecer da verdade». Em que situações se deve escrever de uma forma e de outra? E ainda, podendo ambas ser utilizadas em qualquer caso, porque existem as duas?

Muito obrigado.

Resposta:

O uso de conhecer com a preposição de («conhecer de alguma coisa») está correto, mas, como indica o Dicionário Houaiss, limita-se à linguagem jurídica, nas seguintes aceções: 1 «tomar conhecimento de.» Ex.: «jamais aceitou conhecer das recriminações que lhe eram imputadas»; 2 «tomar (o juiz) conhecimento de uma causa, acolhendo-a por ser competente para julgá-la.» Ex.: «este juiz não conhece da causa»; 3 «tomar (o juízo superior) conhecimento de um recurso interposto.» Ex.: «o Supremo conheceu do recurso.»

Pergunta:

Gostaria de saber como se escreve a expressão "Art Décor". Encontro com muita frequência a ocorrência de "Art Déco", não está errada? Devemos escrevê-la em itálico ou entre aspas na língua original, neste caso o francês, estou certa? E a maiúscula também é aconselhável por se tratar de um nome de um movimento artístico? Agradeço a atenção e aguardo atenciosamente a resposta com a máxima brevidade.

Resposta:

A expressão consagrada é Art Déco, escrita em itálico ou entre aspas, quando se trata de referir, conforme se regista no Dicionário Houaiss, um «estilo decorativo de artes aplicadas, desenho industrial e arquitetura caracterizado pelo uso de materiais novos e por uma acentuada geometria de formas aerodinâmicas, retilíneas, simétricas e ziguezagueantes [Representado em 1925 pela Exposição Internacional das Artes Decorativas, em Paris, teve seu apogeu nos anos 30, mas suas bases estéticas já haviam sido lançadas antes da guerra de 1914]».

Pergunta:

«Beija mão», ou beija-mão: escrevemos com hífen, ou sem hífen?

Resposta:

Com o significado de «ato ou cerimónia de beijar a mão», escreve-se beija-mão, com hífen (cf. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora). O plural é beija-mãos (cf. idem).