Pergunta:
Em 30-09-11, a vossa consultora Sandra Tavares diz numa resposta: «As duas palavras não sofreram alteração com o novo Acordo Ortográfico, mantendo a grafia anterior: luso-africano e lusodescendente.»
Todas as fontes que consultei (como os dicionários online, o dicionário da Academia das Ciências e o prontuário de D´Silvas Filho) apontam para luso-descendente como grafia pré-AO. Por outro lado, encontrei esta explicação num blogue: «Rebelo Gonçalves, no Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, recomendou o uso de hífen nos "compostos em que entram, morfologicamente individualizados e formando uma aderência de sentidos, um ou mais elementos de natureza adjectiva terminados em o e uma forma adjectiva". Exemplos? Físico-químico, póstero-palatal, trágico-marítimo, ântero-inferior; latino-cristão, grego-latino, afro-negro."
Escrevíamos mesmo "lusodescendente" antes do Acordo Ortográfico, ou trata-se de um lapso?
Obrigado.
Resposta:
Escreve-se sem hífen: lusodescendente, ao abrigo quer do Acordo Ortográfico de 1945 (AO 45) quer da nova ortografia. A estrutura de lusodescendente, como a de lusófono e lusofalante (Dicionário Houaiss), palavras que terão surgido anos depois do AO 45 (cf. idem), não é a de um composto formado por coordenação como luso-francês, mas, sim, a de um composto em que luso se comporta como um radical que modifica descendente – trata-se, portanto, de uma estrutura equivalente ou semelhante à dos chamados compostos clássicos (hidrografia, agricultura) e à dos híbridos (monocultura), cujos elementos se aglutinam, dispensando o hífen. Ou seja, em exemplos como físico-químico (=«físico e químico») ou trágico-marítimo (= «trágico e marítimo»), verifica-se a coordenação de dois atributos; pelo contrário, com lusodescendente pretende-se encarar a relação de descendência com a nacionalidade portuguesa, e não definir uma simultaneidade entre ser descendente e ser português.
Cf. Luso-africano e lusodescendente
* Cf. Base XVIII das Bases Analíticas do Acordo Ortográfico...