Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Usar & por e é asneira?

Exemplo: «José Mário Costa e Eunice Marta», ou «José Mário Costa & Eunice Marta»?

Um abraço meu, directamente de Angola!

Resposta:

Pode ser adequado como referência bibliográfica, mas não deve ocorrer numa frase como «X e Y publicaram um livro».

O e comercial quase só se usa em nomes comerciais, em certos contextos gráficos como, por exemplo, letreiros ou cartazes, e pode também ocorrer em referências bibliográficas.

Sobre este sinal, lê-se no Dicionário Houaiss:

«sinal gráfico [&] que substitui a conjunção aditiva e, us. modernamente quase que só como ligação nas razões comerciais (p. ex., Alves & Cia.) e entre nomes de autores em citações de obras bibliográficas e em nomes científicos de espécies [Em ing.: ampersand].»

Pergunta:

Li no livro de estilo de um grande jornal brasileiro que a palavra «caráter» forma o plural em «caracteres» (assim mesmo, com «c» antes de «t»). Como se explica esta alteração?

Resposta:

Não é uma alteração que afete gobalmente os países em que o português tem estatuto oficial. Antes parece tratar-se de uma especificidade brasileira que está há muito fixada no próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (ver também o Dicionário Houaiss).

Uma explicação para aparente incongruência entre caráter e caracteres é dada por Napoleão Mendes de Almeida, no seu Dicionário de Questões Vernáculas (2001, s.v. Caracteres), onde expõe os critérios que levam a escrever caráter no singular e caracteres no plural (manteve-se a ortografia original):

«Caracteres – Tem o acento tônico na sílaba "te": caractéres. Aparece no plural de caráter um c que, não sendo pronunciado no singular, é-o no plural.

Para explicar certos casos de prosódia, como este do c antes do t [...] e outros semelhantes, poderemos, no máximo, dizer que as pronúncias para cuja prolação persiste uma dificuldade ou exigência qualquer (no nosso caso a pronúncia do c antes do t) têm fundo erudito. A pronúncia do plural opera-se segundo a prosódia latina, sem que se apóie na pronúncia popular do singular. [...]

Quer com a significação de "tipo...

Pergunta:

Gostava, por favor, de esclarecer uma dúvida relativamente a uma palavra composta, dado que julgo que um laboratório de renome utiliza a sua forma incorreta. Assim, deverá escrever-se Laboratório de Eletro-Física, ou Laboratório de Eletrofísica?

Agradeço desde já a resposta a esta questão.

Com os melhores cumprimentos.

Resposta:

Trata-se de um substantivo composto, mais precisamente um composto erudito, aparentemente relativo a um certo tipo de ciência física, pelo que o primeiro elemento do composto se liga ao elemento seguinte sem hífen: eletrofísica. Cf. eletrocinética, eletrodinâmica, eletrofisiologia (Dicionário Houaiss).

Pergunta:

Como constatarão, com facilidade, o meu sobrenome é Landeiroto. Podem ajudar-me, fornecendo-me algumas "pistas" sobre a origem do nome? Sei que os mais antigos que conheço são da zona de Viseu. 

Obrigado.

Resposta:

Este apelido (no Brasil, sobrenome) parece ter origem numa alcunha (no Brasil, apelido) que é um diminutivo (cf. perdigoto, de perdiz) de outro nome próprio, Landeiro (José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa). Este ocorre em Portugal quer como topónimo (em Albergaria-a-Velha, Barcelos, Cinfães, Vila Nova de Famalicão), quer como apelido derivado de antiga alcunha (idem), que, por sua vez, pode ter origem no referido topónimo ou provir diretamente de landeiro, forma classificável como adjetivo, na aceção de «([próprio] do carvalho e outras árvores produtivas de landes», ou como substantivo, com os significados de «negociante de landes, isto é, bolotas» (idem) ou «árvore que produz landes» (ver Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora na Infopédia).

Pergunta:

Qual a diferença entre nasalidade e nasalização?

Resposta:

Nasalidade é genericamente a característica do que é nasal. Usa-se também como termo de fonética para designar «característica do som em cuja composição existe um formante proveniente da vibração do ar contido nas cavidades nasais» (Dicionário Houaiss).

A nasalização é «ato ou efeito de nasalizar» (ou nasalar, donde nasalação), mas também se usa em fonética ou como sinónimo de nasalidade ou como o mesmo que «ato de pronunciar um som com ressonância nasal», e, neste caso, pode ser substituído por nasalação (idem).

O Dicionário de Termos Linguísticos (Lisboa, Edições Cosmos, 1990-1992, versão em linha no Portal da Língua) regista nasalização como termo especializado das ciências da linguagem, em duas aceções (mantém-se ortografia original):

(i) «Distúrbio que pode ser encontrado quer em crianças quer em adultos. Nas crianças é geralmente causado por uma inflamação nas adenóides ou nas amígdalas, enquanto nos adultos, a causa usual é um acidente vascular-cerebral, traumatismo ou uma doença progressiva que produz elementos de disartria. O objectivo da terapia é encontrar uma forma para que o paciente possa usar o palato mole, que se tornou imóvel por uma destas razões.»

(ii) «Evolução de um segmento vocálico [-nas] para [+nas], em contextos de consoante nasal. é um caso particular de assimilação.»*

* Por [-nas] entenda-se «sem nasalidade», e por [+nas], «com nasalidade».