Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Segundo o novo acordo ortográfico, pêra perde o acento. Porém, o Correio da Manhã, que já adoptou o acordo, insiste em continuar a escrever «Armação de Pêra». Por outro lado, escreve sempre Troia e Foia segundo a nova grafia. Qual é a regra, ou será apenas um erro? Já noutro assunto, há muito tempo que reparo numa placa em Olhos de Água, Albufeira, que diz «Olhos d´Água», com apóstrofo. Em várias publicações dos anos 70, encontro essa grafia, mas nada consigo descobrir na Internet. Além disso, ainda gostava de saber se o novo acordo é também obrigatório nos nomes de empresas, ou se os respectivos donos podem manter a grafia antiga.Parabéns pela qualidade do Ciberdúvidas!

Resposta:

1 – Com o Acordo Ortográfico de 1990, Base IX (AO), deve-se escrever Armação de Pera, Foia e Troia (cf. substantivos comuns, pera – antes pêra – e joia – antes jóia).¹ No caso de Armação de Pera, perde-se o acento circunflexo, que deixa de ser usado para se distinguir de pera, forma arcaica da preposição para; em Foia a Troia, segue-se o preceito segundo o qual perde o acento agudo o ditongo oi quando ocorre em sílaba tónica numa palavra grave (heróicoheroico; bóiaboia).

2  Deve escrever-se Olhos d´Água, porque este topónimo tem origem no substantivo comum olho-d´água, que mantém o apóstrofo (Base XVIII), tal como sucede com copo-d´água. Esta grafia já estava assim estabelecida no acordo de 1945 (Base XXXVIII) e não foi alterada pelo AO.

3  A Base XXI do AO permite que se mantenha «a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registo público» (mantém-se exatamente o disposto no anterior acordo, de 1945, Base L).

Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as suas palavras finais.

¹ Anote-se que no Diário da República...

Pergunta:

Qual a diferença entre as expressões in situ e in loco?

Resposta:

Segundo o Dicionário Houaiss, são locuções que podem ser sinónimas quando significam «no próprio local».

No entanto, in situ tem outras aceções, não atribuíveis a in loco: «(anatomia geral) que está em seu lugar natural ou normal (diz-se de estrutura ou órgão); (oncologia) que permanece confinado ao local de origem, sem invadir os tecidos vizinhos (diz-se de tumor)».

Pergunta:

No contexto da frase que se segue, pode empregar-se «não obstantes»?

«Não obstantes(s) os esforços realizados pela equipa médica, o paciente não sobreviveu.»

Resposta:

«Não obstante» usa-se como expressão invariável – ou como locução conjuncional (como sinónimo de «apesar de»: «não obstante os esforços...») ou como locução adverbial (como sinónimo de «apesar disso»: «chovia torrencialmente; não obstante, saí»).

Pergunta:

As palavras diurno, diabrete e adiar pertencem à família da palavra dia?

Resposta:

À família de palavras de dia, pertencem as palavras diurno e adiar: a primeira tem origem no latim diurnus, que tem a mesma raiz de dies, diei, «dia», donde provém dia (cf. Dicionário Houaiss); a segunda é derivada por parassíntese de dia (cf. idem).

A palavra diabrete não faz parte desta família, porque a sequência dia- não tem que ver com dia, nem histórica nem semanticamente. Diabrete é antes um diminutivo cujo radical, diabr-, é uma variante do de diabo, palavra que, por sua vez, remonta ao «latim diabǒlus, i, "diabo, espírito da mentira, caluniador", empréstimo tomado pela língua da Igreja, em Tertuliano (c155-c222) e outros, ao grego diábolos, ou "idem" (derivado de bállō "lançar, jogar" [...]) [...].»

Pergunta:

Por favor, digam-me como escrever as abreviaturas de númerais ordinais no plural. No singular, abrevio assim: 1.º, 1.ª, 2.º, 2.ª, 3.º, 3.ª, etc.

Resposta:

Usa a terminação -os e -as em expoente como acontece com o singular:  1.ᵒˢ, 1.ᵃˢ, 2.ᵒˢ, 2.ᵃˢ, 3.ᵒˢ, 3.ᵃˢ, etc.